Clay
O fato das garotas precisarem usar a quadra no mesmo dia que nós era estressante, não posso negar, principalmente quando Sharon claramente não precisava daquele dia. Estava irritado, mas decidi não pegar no pé de ninguém, amanhã começariamos de verdade. Corri os olhos pela quadra e suspirei, vendo Aurora se alongando num canto e, do outro lado, Dante conversando com algumas garotas que pareciam muito satisfeitas por tê-lo por perto, principalmente Marcela.
— Clay? — ouvi alguém me chamar, sabia exatamente quem era, sua voz conseguia ser inconfundível.
— Oi, Sharon — respondi, sem olhar para trás, cruzando os braços e me escorando na parede.
Estava irritado com ela, isso era mais que óbvio, qualquer um que me olhasse, saberia que aquele não era um bom dia para me encher o saco. Odiava quando meus planos não davam certo, sempre fui meio metódico para algumas coisas e o time era uma dessas coisas.
— Alguém já disse que você fica incrivelmente sexy com uniforme do basquete? — ela riu enquanto se posicionava em minha frente, não sabia se estava falando sério ou se de novo, só estava tentando me provocar.
Sharon olhou em meus olhos e suspirou, revirando os olhos e cruzando os braços ao notar que minha expressão continuava fechada.
— O que é? Tá emburrado mesmo por isso? — ela perguntou, me fazendo suspirar.
— Não aja como se não tivesse feito nada — suspirei fechando os olhos —, por que veio hoje? Achei que ia querer ficar isolada fazendo o que garotas fazem quando passam por um término.
— Não seja idiota — Sharon fez um bico, revirando os olhos, mas rapidamente se recompôs. — Esse é meu jeito de superar — ela deu de ombros, esticando os braços para cima e se alongando.
— Enchendo o saco do time de basquete? — Estreitei os olhos, me curvando um pouco para frente.
— Não, vindo ver uma pessoa que me faz esquecer que saí de um relacionamento de merda — Sharon deu de ombros —, mas, tem razão, eu deveria me isolar e deixar você e o seu time em paz.
A vi recuar, ela cruzou os braços e suspirou, por um momento, vi uma sombra de tristeza em seu olhar, mas que logo desapareceu, pois ela se virou e começou a caminhar em direção a saída. Corri até ela, pondo a destra em seu ombro e impedindo que continuasse a caminhar, puxando levemente e esperando que olhasse para mim.
— Não, não precisa — falei, suspirando e baixando o rosto. — Desculpe, não queria ser insensível.
— Não tá tudo bem — ela respondeu —, você tá certo, eu não devia ter atrapalhado vocês só para me sentir melhor e ocupar um pouco a cabeça.
— Sharon — me aproximei, sorrindo levemente e tocando a bochecha dela talvez, só talvez, eu tenha sido meio rude —, pode ficar com a quadra hoje e, se precisar, pode me mandar uma mensagem, podemos sair para tomar um sorvete ou ver um filme desses que você adora, se for te deixar melhor.
Ela piscou os olhos algumas vezes, surpresa com minhas palavras e provavelmente, com o convite. Mas, pouco depois, um pequeno sorriso surgiu em seus lábios e seus olhos brilharam levemente, suas bochechas ficaram levemente vermelhas e pela primeira vez desde que eu a conheço, vi Sharon envergonhada e tímida.
— Bom...— Sharon tirou o cabelo do rosto e suspirou. — Eu acho uma boa ideia...
Sharon seguiu de volta a quadra e eu a acompanhei com os olhos, a vi reunir as garotas e, pouco depois, começaram novamente o treino.
Evangeline
Clay não apareceu na segunda, nem na terça, Aurora havia ido à escola com papai e mamãe havia me levado. Ele havia desaparecido, eu me sentia esquecida, há dois dias ele não me dava notícias e eu não conseguia fazer mais nada, nem pensar em mais nada.
Emma não havia ido a escola hoje, o que contribuiu ainda mais para meu humor amargo. A manhã se arrastou e, enquanto as horas passavam, eu pensava e repensava em todas as possibilidades para o distanciamento repentino dele. Não entendia o que havia acontecido, se ele havia se cansado de mim ou se eu estava sendo dramática.
Quando as aulas finalmente acabaram, percebi como meu dia havia sido improdutivo, já eram três da tarde e eu não havia pensado em nada além daquilo. Já era fim de tarde e nada de notícias Clay não respondeu minhas mensagens, Aurora também ainda não havia aparecido e eu não conseguia imaginar porque eles estariam na escola até agora, não fazia muito sentido, provavelmente ele estaria fazendo alguma coisa mais interessante.
Será que ele havia encontrado alguém mais interessante?
Mas isso não podia acontecer, podia?
Clay
Quando finalmente saí do treino, o sol já estava se pondo e não havia mais uma alma viva sequer naquela escola além dos jogadores, até Aurora havia saído de carona com Sharon. Segui para meu jeep e entrei no veículo, dando a partida e dirigindo até a casa da minha amiga, havíamos combinado que eu passaria a noite lá, já que meus pais estavam viajando.
Ainda pensava um pouco em como Sharon estava se comportando e, apesar de suspeitar das intenções dela, não colocava muito crédito no que meus sentidos falavam... Será que ela estava dando em cima de mim?
Quando cheguei a casa de Aurora deixei o carro estacionado na frente e segui em direção ao interior, entrando pela porta dos fundos, que sempre ficava aberta até todos chegarem. Depois de entrar, tranquei a porta, já que, provavelmente, eu era o ultimo a voltar pra casa. Deixei minha mochila num canto e estiquei as costas, pegando um grande copo e enchendo de água, estava morto. Quando me virei, decidido a ir tomar banho, já que estava completamente suado, dei de cara com Evangeline encostada na entrada da cozinha, me encarando com uma expressão séria.
— Oi, Eva — falei sorrindo levemente para ela,bocejando logo depois —, nem te vi chegar, nossa tô morto hoje.
— Onde você tava? — ela perguntou, sem meias palavras, unindo as sobrancelhas completamente irritada. — Não aparece aqui desde que viajou para a festa, Clay! Você disse que ia vir que ia falar com meus pais...
Por um momento, arregalei os olhos, eu realmente havia esquecido de tudo aquilo, bastou algo ocupar minha mente para que abstraisse completamente do que havia conversado com Eva dias atrás e isso fez meu coração pesar. Agora eu percebia o quanto eu fui precipitado e, provavelmente, aquilo me geraria uma grande confusão que eu poderia ter evitado se fosse mais consciente das coisas.
— Eva.. Eu... — comecei, me aproximando um pouco mais e suspirando, apoiando a destra na nuca. — Olha, eu sei o que eu disse, mas...
— Mas? — ela indagou, me cortando no meio da minha frase. — Desistiu? Aconteceu alguma coisa naquela festa, não foi?
— Não tem nada a ver com a festa... É só que — senti minha garganta travar mas eu precisava falar aquilo para ela antes que as coisas se enrolassem mais —, é só que eu acho que isso entre nós não vai dar certo.
Eu sentia algo por Eva, claro estava ali, mas não era tão forte como eu pensei, e também não achava tão certo. Ela era tão nova e eu estava quase me formando e saindo do ensino médio, as fases da nossas vidas eram tão diferentes que, talvez eu fosse fazer mais mal do que bem a ela.
— Como assim? Você disse que gostava de mim — ela choramingou e eu vi seus olhos claros se encherem de lágrimas.
— E eu gosto, Eva, eu gosto — falei me aproximando e tocando seu rosto delicado. — Mas é por gostar de você que acho melhor pararmos com isso... Não quero te impedir de curtir sua vida, você está prestes a entrar no ensino médio e eu estou saindo dele, logo vou me mudar voou para a faculdade... Não vai ser bom para você, nem pra mim.
Eva não disse nada, não mencionou uma palavra depois que eu me afastei, eu também não insisti ou pressionei, sabia que havia sido um babaca com ela, mas, dessa vez, estava bem ciente da minha decisão...
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A conselheira Amorosa
Ficção AdolescenteAh, o ensino médio! Que época da vida consegue ser mais caótica e incrivelmente bela que a adolescência? Aurora não sabia essa resposta, mas seguia acreditando que estava cumprindo seu papel e que aquele período se sua vida seria muito proveitoso...