BÔNUS

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EVANGELINE

Aurora chegou estranhamente mais cedo em casa e isso deixou minha mãe e meu pai alertas, mas depois de muito conversar ela os convenceu de que só estava cansada (o que, em partes, era verdade) e subiu as escadas, se arrastando em direção ao quarto. Não demorei para seguir em direção ao cômodo, ela podia enganar nossos pais, mas não a mim, com certeza algo havia acontecido na festa.

Apesar de nos estranharmos às vezes, eu queria estar ao lado dela quando ela precisasse e, além disso, queria saber o que havia acontecido na festa, já que Clay estava lá. Não podia negar que o evento me deixou um pouco insegura, mesmo depois de tudo o que havíamos conversado e do nosso encontro que ainda me fazia sorrir feito uma boba.

A porta estava aberta, então, eu entrei em silêncio e observei enquanto Aurora tirava preguiçosamente algumas roupas da mala.

— O que aconteceu? — perguntei, me aproximando.

Aurora deu um pulo e se virou para mim com os olhos arregalados, a respiração estava descompassada e a mão estava sobre o peito.

— Você quase me matou de susto, Evangeline! — ela esbravejou, fechando os olhos. — Dá próxima, vez bate na porta!

— Tá, desculpe — respondi de forma seca e impaciente. — O que aconteceu?

— Nada!- Aurora disse, se virando, evitando me olhar nos olhos.

Suspirei irritada, será que o título "irmã" não significava nada para ela? Eu sabia quando ela estava mentindo, e ela sabia que eu sabia. Não importava nossa diferença de idade, eu queria ajudar, mas ela sempre acabava me deixando de fora de algumas coisas em sua vida, coisas importantes.

— Você realmente quer mentir para mim? — perguntei, irritada, ela se virou abrindo a boca, provavelmente para se defender, mas então viu meus olhos, sua postura relaxou e seus olhos pareciam mais cansados.

Ela se sentou na cama e fez sinal para que eu a acompanhasse, me sentei ao lado e então Aurora começou a contar toda história. Me contou cada detalhe de cada ocorrido, desde o beijo com Dante na pista de dança, até a chegada de Brian (que era um antigo relacionamento dela, me lembro dele vagamente frequentando a nossa casa, eu tinha uns nove anos na época que ele foi embora). Ouvi tudo em silêncio, me manifestando com exclamações nos momentos certos, quando a história acabou, ela parecia mais leve.

— O lado bom —Aurora voltou a falar, depois de alguns minutos em silêncio —, é que Dante parece ter desistido — ela deu de ombros.

— Ou talvez só esteja recuando para atacar com mais força — as palavras saíram da minha boca sem que eu pudesse notar. Aurora me olhou assustada e eu, percebendo meu erro, completei —, mas é mais provável que ela tenha desistido — dei um sorriso esperançoso para ela, que não se convenceu e se jogou na cama com um gemido

— Por que essas coisas sempre acontecem comigo? — Aurora se remexeu na cama, completamente insatisfeita com a situação toda.

— Achei que Clay ia vir com você — comentei, fingindo desinteresse.

— Ele quis ficar — Aurora respondeu, sem muitos detalhes. — Disse que queria terminar de aproveitar a festa de Sharon por nós dois.

— Ele, aproveitando festas? — perguntei, curiosa.

— Sim, para tudo tem uma primeira vez — minha irmã falou, voltando a arrumar suas coisas preguiçosamente.

Clay não costumava se meter na vida dos outros, era muito reservado e eu sequer gostava de festas, nem sabia que se importava tanto assim com Sharon, mas, aparentemente, não só ele como Autora a consideram bastante. Pelo que me lembro, ele é namorado de Sharon, mas não é uma boa pessoa, além de ser muito infiel. Dei de ombros, seja lá o que eles estavam resolvendo, não era da minha conta, Clay tinha seus próprio assuntos e eu não queria sufocá-lo, mesmo que isso me deixasse com uma pulga atrás da orelha.

A conselheira Amorosa Onde histórias criam vida. Descubra agora