Bônus

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Antes mesmo da aula acabar eu já estava saindo da escola.

Não era do meu feitio matar aula, mas hoje eu tinha um motivo especial para fazer isso, muito mais que especial, na verdade. Sai da sala de fininho e caminhei pelos corredores em direção ao meu armário, guardando tudo o que eu precisava guardar lá dentro e fechando a porta o mais silenciosamente possível, torcendo para nenhum aluno enxerido aparecer e estragar minha fuga.

Deixei o armário trancado e, a passos rápidos, segui em direção a saída da escola, passando pelas grandes portas duplas que me deixavam no jardim. Minha saída silenciosa estava indo bem até que, subitamente, uma parede alta de músculos interceptou meu caminho.

Dante tinha as sobrancelhas erguidas, sua mochila presa no ombro direito e a testa um pouco suada, não conseguia acreditar que, àquela hora da tarde e naquele calor ele estava treinando. O encarei com certa descrença e ele continuou me olhando com uma expressão de interrogação no rosto.

— Que é? — perguntei, fingindo normalidade enquanto voltava a caminhar.

— Não sabia que era do feitio do capitão matar aula — ele alfinetou, me acompanhando sem muita dificuldade. — Pra onde vai?

— Desde quando eu te devo explicações? — perguntei, já impaciente, revirando os olhos e parando há poucos metros do portão que me levaria ao estacionamento.

— Não precisa ficar irritado, capitão — Dante falou, rindo de forma relaxada e esticando as costas preguiçosamente. — Aurora vai voltar sozinha? Posso dar uma carona para ela, se você não se importar.

Ergui as sobrancelhas e o encarei por longos segundos, era estranho vê-lo tão interessada em Aura e a forma como ele se comportava não ajudava em nada, Dante me lembrava muito Theo e isso me fazia querer mantê-lo o mais longe possível da minha amiga. Mas, apesar disso, ele conseguiu conquistar um pouco, só um pouco mesmo, da minha amizade.

Então, suspirei pesadamente e dei de ombros, ajeitando minha mochila no ombro e pegando minhas chaves no bolso da calça.

— Se ela quiser aceitar, eu não posso fazer nada — respondi, rindo e dando de ombros antes de continuar a andar.

— Eu nunca sei quando você está sendo sarcástico ou simpático comigo, Clay — Dante reclamou, balançando a cabeça e caminhando no sentido contrário, seguindo para dentro do prédio da escola e sumindo de vista.

Não perdi muito mais tempo, sabia que Eva estava me esperando e eu não queria deixá-la triste ou nada parecido. Depois da nossa conversa e da nossa tarde no shopping, as coisas estavam indo muito bem. Eu sabia que Aura não teria problemas com isso, mas tinha medo da reação dos pais dela, de estragar tudo o que havíamos construído todo esse tempo.

Entrei em meu jeep, ainda um pouco preocupado, mas decidi deixar qualquer pensamento ruim de lado, eu queria passar uma tarde divertida com Eva, queria construir algo com ela que não fosse somente olhares e sorrisos tímidos. Iríamos devagar e sempre seríamos sinceros um com o outro, esse era o ponto mais importante.

Desliguei meu celular e segui em direção a escola dela, não demorei mais que alguns minutos para chegar lá e, assim que estacionei, encontrei Eva parada na frente do portão, me esperando com sua mochila no ombro e um grande sorriso nos lábios.

— Desde quando você é tão pontual? — Eva perguntou, rindo enquanto entrava no carro e se sentava no banco.

A loira me olhou sorrindo e, inclinando o corpo em minha direção, deixou um beijo singelo e doce em minha bochecha, algo que fez meu coração acelerar um pouco mais.

— Na próxima vez eu me atraso então — falei, rindo antes de dar a partida e seguir em direção ao centro.

Combinamos de passar uma tarde juntos e comprar algumas coisas, o aniversário de Sharon estava chegando e eu já podia imaginar que a festa me renderia algumas horas de busca por uma roupa para mim e outra para Aura, o gosto dela para roupas noturnas era caótico.

Não demoramos para chegar ao shopping, o caminho de ida foi tranquilo com uma conversa leve e sem preocupações eu amava esse tempo ao lado dela, eram os momentos mais tranquilos do meu dia. Desci do carro e abri a porta do passageiro, segurando sua mão enquanto Eva saía do carro para, instantes depois, caminharmos para dentro do shopping.

Enquanto andávamos pra lá e pra cá eu a observava, tão sorridente e relaxada, se divertindo como nunca havia visto. Eu estava tão feliz quanto ela com aquele momento com as brincadeiras bobas e com os risos sem motivo, tudo era perfeito ao lado dela e, não importava quanto fosse durar, eu vou aproveitar cada instante.

Seguimos pelos andares, passamos em lojas e mais lojas, livrarias, lojas de roupas e até uma loja de sapatos quando terminamos, Eva e eu seguimos para um café que tinha uma fachada muito fofa e parecia bastante movimentado. O lugar tinha grandes janelas de vidro que davam uma ótima visão do lado de dentro e contava com mesinhas bonitinhas e cadeiras acolchoadas rosa, além disso, nas paredes haviam pinturas diversas de gatos de todas as cores possíveis.

Deixamos as sacolas no guarda volume e seguimos em direção ao balcão para fazer os pedidos, só então eu notei o nome do local e entendi onde estávamos. Era um "CatCoffe" e, dali de onde eu estava, conseguia ver uma área com algumas mesas e vários gatinhos pulando e brincando por ali.

Olhei para Eva e não consegui não rir da sua expressão, os olhos dela estavam brilhando e ela estava claramente, morrendo de vontade de brincar com os gatinhos.

— Boa tarde! — a moça que estava no caixa falou sorrindo de forma simpática, ela tinha olhos castanhos e uma pele morena, seus cabelos pareciam ser volumosos, mas a touca que usava escondia os fios. — O que vão querer?

— Dois milkshakes e dois pedaços de torta de chocolate — pedi, antecipando o pedido de Eva. — Podemos ficar na área dos gatos?

— Claro que podem! — ela falou, sorrindo para nós dois e nos entregando uma fichinha que permitia a entrada na área dos gatinhos.

O lugar parecia ser ainda mais fofo por dentro, todo em tons pastéis de rosa e com sofás grandes para os clientes se sentarem. Assim que entramos, alguns felinos mais desinibidos se aproximaram, enquanto outros se esconderam. A área estava parcialmente vazia e, além de nós dois, só havia mais duas garotas, que estavam do outro lado da sala numa conversa bem animada.

— Eles são tão fofos! — Eca falou, com um largo sorriso, se sentando no sofá e começando a brincar com um gatinho branco e preto que parecia muito empenhado em conquistar o coração da loira. — Olha que gracinha!

Eva estava completamente apaixonada e entretida com o gatinho, me sentei ao seu lado e brinquei com ele também, em seu pescoço havia uma coleira escrita "Cappucino", provavelmente aquele era o nome do gatinho. Mal notamos o tempo passar e, nem mesmo quando nosso pedido chegou, Eva desgrudou do bichano.

— Eu adorei esse lugar, podemos vir mais vezes — comentou ela, me olhando e levando o canudo do milkshake aos lábios.

— Claro que podemos — respondi, comendo um pedaço da minha torta e pensando um pouco, estava um pouco nervoso. — Eva... Eu estava pensando...

Os olhos claros dela se fixaram aos meus com curiosidade, Eva parou o canudo a caminho da boca e esperou, o que só me deixou ainda mais nervoso. Nunca fui bom em demonstrar meus sentimentos e muito menos em falar sobre eles, ter os olhos da garota que eu gostava grudados em mim naquele momento só piorava a situação.

— Pensando em que? — ela perguntou, erguendo uma das sobrancelhas.

— Quando sua mãe voltar de viagem, eu vou conversar com seus pais sobre nós! 

A conselheira Amorosa Onde histórias criam vida. Descubra agora