Capítulo 2

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Um choque elétrico. Um puta de um choque elétrico corre pelo meu corpo inteiro. Me pego paralisada de medo, sem conseguir mexer um dedo sequer. Meu peito está gelado e minhas mãos já começaram a suar. Ok eu preciso me mexer, não é hora de pânico agora!  Tente ser racional porra! Eu mexo a cabeça comprovando que eu não estava petrificada, olho ao redor procurado Josh  mas não há sinal de ninguém nessa maldita rua. Vejo uma movimentação  em uma das saídas e noto a silhueta de um homem parado, aparentemente olhando para mim. Josh?  Aperto os olhos quase sentindo alivio, quando me dou conta de que se trata de um homem extremamente alto e magro, impossível de ser o meu irmão. Certo. Um estranho. Um estranho olhando para mim em um beco escuro no meio da madrugada.  Como se o fato do meu irmão ter simplesmente evaporado fosse algo fácil de lidar. Decido dar as costas, começo a andar a direção oposta à minha casa, decido voltar para a casa da festa e talvez de lá chamar a polícia, ou eu sei lá, tomar alguma providencia! Eu não sei lidar com esse tipo de situação, eu não sei lidar com Josh desaparecendo na porra de um beco escuro no meio da madrugada! Caminho ainda em choque para sair daquele lugar, até que ouço passos atrás de mim. Porra porra porra. Ele está me seguindo! Ele vai me matar!  Sem hesitar começo a correr o mais rápido que posso na direção da saída, os passos dele ganham velocidade também me deixando em um estado de completo pavor. Não consigo olhar para trás, não consigo identificar o quão perto ele está de mim, minha mente está confusa e meus pensamentos borrados, não consigo identificar o que é racional e o que é desespero, eu só sei que preciso correr dele, só sei que preciso achar meu irmão. Ao sair do beco decido finalmente olhar para trás e me perco completamente ao constatar que não há absolutamente ninguém atrás de mim. Penso em desacelerar a corrida, mas sou bruscamente interrompida quando me esbarro em alguém à minha frente. Sem pensar duas vezes eu desando a falar, pedindo ajuda, contando o que acabou de acontecer, na esperança de que essa pessoa me ajude a encontrar meu irmão.

-Que situação mais inusitada, minha cara - Uma voz grave e rouca responde minha suplica. - Talvez eu possa ajudar você, afinal.

Puta merda! É ele!  O homem magro e alto do final do beco. Mas como? Como ele foi parar na minha frente se corria atrás de mim? Não pode ser ele. Minha mente dói com tantos conflitos, e mais uma vez me pede calma para lidar com mais essa situação. Eu penso em correr, mas claramente não adianta muita coisa, eu penso em gritar, mas só faria com que ele tivesse que dar um jeito para me calar e eu nem quero pensar nisso. Eu resolvo mentir. O que não é lá grande coisa também, já que eu não tenho o menor talento para isso.

-Que cabeça a minha! - digo com a voz tremula. Me repreendo por soar tão nervosa e tento me conter na minha próxima frase - Acabei de me lembrar que ele voltou para a festa - dou um sorriso feio e forçado - Deixou o celular lá e voltou para buscar.

-Ah, entendo. - o homem responde. É óbvio que ele não acreditou nem em meia palavra do que eu disse, nem uma criança teria acreditado, mas ele parece disposto a me deixar ir. - Só peço que tome mais cuidado da próxima vez. Está muito deserto para passar por lugares escuros assim.

Ele acabou de dizer o que eu disse para Josh antes de entrar no beco? Eu não entendo. Ele está brincando comigo? Em resposta à minha perplexidade ele apenas me dá um sorriso medonho, e eu tenho a sensação de ter visto sangue no canto da sua boca. Finalmente o homem passa por mim e sai.

Eu ainda estou tentando entender o que aconteceu, nada disso parece real. Olho para trás para me certificar de que ele está indo embora mas não vejo mais ninguém. Isso é tudo muito bizarro e assustador. A minha mente está pregando peças em mim? Josh veio mesmo comigo até a festa? O que mais pode explicar o desaparecimento dele daquela forma? Algum garoto idiota deve ter colocado alguma coisa na minha bebida, eu devo estar muito doidona e imaginei que Josh me acompanhou na festa. Decido ligar para ele e torcer para que ele atenda reclamando que eu o acordei no meio da noite. Está chamando! Tento focar no celular ao meu ouvido, mas alguma coisa me distrai, um som, não tão distante de mim. Parece um  toque de celular! Apavorada, sigo o som ainda com o meu celular no ouvido, ando pela calçada, devagar e cautelosa, passo por alguns carros estacionados até chegar cada vez mais perto do som. A luz de um poste defeituoso pisca e apaga sobre um carro velho do outro lado da rua, é de trás dele que vem o som. Decido contrariar os meus instintos, e atravesso a rua, querendo dar uma olhada. Dou a volta pela traseira do carro, ainda acompanhando o toque de celular que vem dali, está muito escuro para entender alguma coisa, parece haver alguém deitado no chão, e em seu bolso um celular toca insistentemente. Olho para a tela do meu, e olho para o bolso aceso pela chamada que é recebida, continuo olhando fixamente com medo do que estou prestes a  fazer. Finalmente desligo a chamada do meu celular e o que eu mais temia acontece, o som para. O bolso finalmente fica quieto. A luz do poste pisca por um milésimo  de segundo, tempo suficiente para eu poder identificar Josh, morto na calçada, ensanguentado como um animal abatido. O sangue foge da minha cabeça e por um segundo eu penso que vou desmaiar, me apoio no carro tremendo e hiperventilando, meus pensamentos se embaralham e minha visão se embaça rapidamente. Em pouco tempo recobro a sanidade e mais uma vez desbloqueio a tela do celular, dessa vez para ligar para a emergência. Coloco o celular no ouvido, mas sinto ele ser arrancado dos meus dedos. Olho para trás e vejo o mesmo homem do qual eu havia fugido alguns minutos antes, e uma moça com ele, ela também está suja de sangue, talvez esteja ferida mas eu não entendo. Ele a machucou? Ele matou Josh?

- O que ia fazer, minha cara? - ele diz com sua voz rouca enquanto esmaga o meu celular com uma só mão. - Sinto muitíssimo por toda essa situação, mas você devia ter ido para casa quando eu te deixei ir. Não devia ter visto isso. - a moça ao lado dele me encara indiferente, não há expressão em seu rosto, parece até vazia por dentro. - Vê, Mona? - o homem diz voltando-se para ela - Nós tentamos não mata-los, mas esses humanos metem a fuça onde não são chamados, não é mesmo?

Eu me esforço para me desvencilhar do medo paralisante que tomou conta de mim, quando finalmente consigo tento correr, mas ele abraça meu corpo com força, imobilizando meus braços. Eu me debato mas é em vão, ele é realmente muito forte, simplesmente não sou capaz de me mexer. Tomo fôlego para gritar mas com uma das mãos ele tapa minha boca, enquanto mantém o outro braço ao meu redor.

-Não mate ela, Coronel - a moça diz, ainda sem demonstrar nada, o homem a encara em dúvida. A moça olha para o corpo de Josh e continua - O meu amor não irá se conformar se fizermos isso com a irmã dele.

Coronel olha para mim com raiva e diz: - Bem, pelo menos vamos dar a ela alguma coisa para se distrair, certo?

Mona tira do bolso um pequeno frasco transparente com um liquido vermelho como sangue dentro, destampa e o entrega para Coronel, que retira a mão da minha boca por um segundo, o suficiente para que eu gritasse um "socorro"  interrompido na metade pelo liquido doce que entrou na minha boca e atravessou minha garganta. Quando ele finalmente me solta, me apoio em meus joelhos para tossir, engasgada e tonta, já ciente de que isso definitivamente não podia ser coisa boa. Quando recupero o fôlego me dou conta de que não há mais ninguém ali, nem Coronel, nem Mona, nem Josh. Me esforço para pensar no que aconteceu mas minha mente parece estar anestesiada, sinto todos os meus sentidos ficando dormentes, minha consciência se esvai gradativamente, até que não sobre mais nada, só escuridão.

Pestenium -  Transformada (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora