Capítulo 12

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A casa de Fernanda fica um pouco longe do aeroporto. Quando saí de lá Sweet e Natasha estavam planejando o que fazer com o rapaz que jazia desacordado no chão do hangar. Me senti péssima por um momento, eu só fiz o que fiz para contrariar Sweet, que na sua percepção torta está tentando me ajudar. A vergonha toma conta de mim. Fernanda parece saber que alguma coisa aconteceu, mas ela não perguntou. Ainda.

—Você caiu na lama? — ela finalmente pergunta encarando com nojo as minhas roupas.

Desde que ela trouxe o carro dela para que eu entrasse, ela vem me lançando olhares enojados, talvez preocupada com o estofamento. Eu estou coberta de lama, e a minha blusa está rasgada nas costas onde Phillipe puxou.

—Caí. — respondo apenas o necessário.

É a única coisa que eu consigo responder. Eu ganhei essa camisa da minha mãe dois anos atrás, no meu aniversário. Uma saudade louca bate de repente, e a vontade de chorar parece incontrolável, mas eu dou um jeito de me recompor antes que Fernanda note uma lágrima solitária que escorrega pelo meu rosto sujo. Eu nunca mais vou vê-la. Nunca mais verei ninguém que eu conheço, tudo que eu tenho agora é Natasha e Phillipe. Eu gosto muito de Natasha, mas realmente não sei se vale a pena aguentar Phillipe por ela.

—Samira, isso está me deixando desconfortável. — Fernanda diz e só então eu percebo que estava encarando as cicatrizes dela de novo. — Se eu te contar a história delas, você vai ser menos esquisita quanto a isso?

Eu me retraio envergonhada.

—Desculpa Fernanda, eu juro que vou tentar parar de fazer isso. Não precisa me contar nada.

—Tudo bem, eu até gosto de contar. — Ela esboça um meio sorriso dolorido. — Eu não sei se você sabe, mas Sweet já foi ferroado mais vezes do que qualquer vampiro que eu já conheci.

—Você o caçou?

—Na verdade sim, algumas vezes. Eu o odiava, ele era desleixado e quebrava as regras toda hora procurando por alguma coisa que ele nunca me contou. Eu já tinha levado inúmeras broncas por não conseguir pegá-lo. Já era uma questão de honra. No dia que eu consegui essas cicatrizes eu e minhas colegas tínhamos seguido Sweet até um prédio em Manhattan, mas de alguma forma ele soube que nós estávamos lá para matá-lo. — ela faz uma pausa quando vira em uma curva meio fechada — Ele nos atraiu até o terraço do prédio. As meninas estavam amarelando sabe? Estava quase na hora do Pesfício e o plano dele era óbvio. Mas eu achei que era mais esperta que ele. Enfim... o lance é que não dá pra ser mais esperto do que Sweet Blood. Ele matou uma de minhas colegas e a outra tentou pular em cima dele, enfurecida, mas caiu do prédio quando ele desviou dela. Eu estava tão frustrada, me vendo falhar mais uma vez, perdendo duas irmãs, que nem notei o sol se pondo. Eu comecei a queimar, mas quando eu percebi o que estava acontecendo já era tarde demais para mim. Eu não tinha mais forças para escapar. Foi então que ele me carregou e me levou para a escada de segurança, onde tinha sombra. Fui encontrada algumas horas depois, quase morta, e passei muitos dias assim. Quando finalmente me recuperei, minha mente já era uma zona de guerra. Meus pensamentos conflitavam a toda hora. Por um lado eu tinha que seguir o meu dogma e desprezar Sweet, mas por outro, ou estava me sentindo grata e atraída por ele. Não conseguia mais seguir ordens, não era mais eficiente para minhas irmãs e resolvi procurá-lo de novo, mas dessa vez para agradecê-lo. Ele ainda estava em Nova Iorque, eu só precisei sentir o cheiro de ferrão para saber que ele estava por perto. Ele estava com Natasha, bebendo em um bar. Foi aí que eu percebi que era apaixonada por ele, porque senti ciúmes dela. Nós nos envolvemos, mas só por algumas semanas, em uma manhã eu acordei e ele tinha ido embora, tinha encontrado uma pista para encontrar o que estava buscando. Meu caso com Sweet foi descoberto algum tempo depois que ele foi embora, e eu fui banida e privada dos meus poderes. Ao longo dos anos eu e Sweet nós encontramos às vezes, como hoje, que ele me procurou pela primeira vez! Eu tenho certeza que o destino quer nos unir, afinal, ele já encontrou sua alma compatível e não se apaixonou por ela! E também não está mais envolvido nessa busca por sei lá o quê, talvez eu tenha chances não é?

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