Capítulo 4

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Recuperar a consciência vêm se tornando um hábito doloroso nas últimas vinte e quatro horas. Apesar de ter enfrentado provações piores até agora, como a dor torturante em minha garganta e testemunhar a terrível cena de meu irmão morto em uma calçada qualquer, o incômodo de ser trazida de volta ao mundo material se torna cada vez mais difícil de suportar. Meus olhos pesam e minha cabeça lateja com força ao identificar qualquer fonte de luz que se faça presente á minha vista, mais uma vez cubro meu olhos antes de tentar olhar ao meu redor. Parece que estou em um bar, um bar desagradável, fedorento e vazio. Eu estive deitada no balcão extenso que está repleto de copos sujos e logo atrás dele estantes e mais estantes repletas de bebidas variadas, no centro da área onde há mesas e cadeiras a vontade, vejo uma mesa de sinuca onde uma figura alta e encorpada brincava com um taco, apontando por entre as bolas em busca do ângulo perfeito. Eu não poderia estar mais confusa. Levantei com dificuldade segurando meu ombro ainda dolorido e deslocado, tentei saltar do balcão, porém, desengonçada e sem jeito, caí de joelhos no chão alarmando o homem da mesa de sinuca, que levantou de sua postura curvada sobre a mesa, me fitando com um olhar curioso.

- O que está fazendo aí no chão? - Perguntou o homem em um tom de escárnio.

Bufei irritada. Levantei impaciente somando tudo que já havia me acontecido, decidindo de uma vez por todas que não havia mais tempo para distrações ou desmaios.

-Estava limpando o rejunte com meus joelhos - respondi com afronta. O homem nada fez a não ser sorrir. Impaciente continuei: -Quem me trouxe para cá?

-Eu mesma - uma voz feminina soou atrás de mim, quando me virei uma mulher ruiva e alta, extremamente bonita saía de trás de uma porta de serviço perto do balcão onde eu estava deitada - Eles não tem whisky pure malt, Sweet - a mulher disse enquanto investigava uma garrafa em sua mão - achei um que parece barato. Espero que goste - logo depois ela lançou a garrafa na direção do rapaz que o segurou com facilidade no ar.

Após ler a embalagem, com uma cara feia ele respondeu.

-Isso é lixo! Mas por hora deve servir... - logo depois estava entornando o conteúdo garganta a baixo.

Não pude deixar de me contorcer por dentro tamanho o nojo que senti. Não temos tempo para isso, Samira! Se isso era um sequestro, eles não pareciam se importar muito comigo já que começaram a fazer de conta que eu não existia ali. Decidi apenas seguir na direção da porta que deduzi se tratar da saída. Com passos firmes e seguros, fingindo que não estava fazendo nada demais, fui me aproximando cada vez mais da porta quando um vulto apressado passou pela minha visão periférica e se materializou na minha frente. Era o rapaz da mesa de sinuca. Sweet. Meu coração parou de bater com o susto de sua aparição repentina. Aquela forma de se movimentar era sobre humana! Porém eu sabia que já havia visto antes. Aquilo me apavorou ainda mais. O que poderia significar, Sweet se mover da mesma forma que Coronel e Mona se moviam... Ele e a moça ruiva representavam perigo, ou a resposta de algumas perguntas?

Ele me encara curioso, ciente do meu susto olha para a mulher que permanece atrás de mim, pensativo, depois volta o seu olhar para o meu ombro deslocado. Ele faz menção a me tocar e eu recuo imediatamente. Sorrindo ele diz:

-Calma, calma... Eu não mordo - seu sorriso se alargou e ele completou: - pelo menos não sem ganhar algo em troca.

Então ele pôs a mão sobre meu ombro e eu entendi o que ele queria fazer.

-Não por favor - sussurrei mas em um segundo depois de pronunciar essas palavras ele força meu ombro o colocando no lugar e me fazendo gritar de dor e raiva. Fecho os olhos me forçando a não demonstrar mais fraquezas àquelas pessoas. Ao abri-los novamente noto que Sweet está de volta ao seu jogo.

Pestenium -  Transformada (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora