Sexta-Feira, 20 de Outubro de 1994... (VIDA REAL)

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Desço as escadas correndo. Minha mãe está sentada no sofá lendo um livro... Ao lado do telefone.

- Por que não atende? - Pergunto.

- Porque estou ocupada. E você não faz nada o dia inteiro, não vai morrer se atender o telefone.

Revirando os olhos, vou até o telefone. Atendo no último toque.

- Alô?

- Finalmente.

- Oi, Gyy.

- Me conta tudo... O que rolou entre você e o Paul depois que eu sai?

- Nos beijamos.

- Jura? - Ela grita do outro lado da linha. - Como foi?

- Bom...

- Só bom? Você ficou excitada?

- Gyy... Que horror.

- Horror? Jessy, você agora tem namorado. Já está na hora de planejarmos a perda da sua virgindade.

- Planejarmos? Gyy, eu te agradeço por querer ajudar, mas esse é um assunto meu... Eu tenho que resolver sozinha.

- Está bem. E aí, quando é que vocês vão sair e ter um encontro de verdade?

- Vamos ao cinema amanhã.

- Ah... Como eu queria ser uma pombinha pra poder ver o que vai rolar.

- Não vai rolar nada. Vamos apenas assistir um filme, como qualquer casal normal.

- É... Mas vocês não são um casal normal.

- Como assim?

- Jessy, você está namorando o gato mais quente da escola. Já passou pela sua cabeça como a Mariana vai ficar louca quando descobrir?

- Promete pra mim que não vai contar nada pra ninguém?

- Por quê? Não quer esfregar na cara da Mariana que você e o Paul estão saindo?

- Ainda não... Vamos esperar a coisa ficar séria.

- Você é tão certinha. Bom, tenho que desligar. Kilye vem aqui em casa, vou aproveitar que meus pais saíram.

- Gyy... O que você vai aprontar?

- Está é a noite em que eu tiro a minha virgindade.

- Vê se usa camisinha...

- Ele chegou. Tchau.

- Tchau.

Desligo.

- Quem deve usar camisinha? - Mamãe pergunta.

Droga... Tinha me esquecido dela.

- A Gyy... - Digo.

- Esse é o tipo de amizades que você tem? - Ela tira os olhos do livro pela primeira vez.

- Não... A Gyy vai perder a virgindade com o namorado dela hoje.

- Está bem... - Ela fecha o livro e dá tapinhas no lugar vago ao lado dela, indicando que eu devo me sentar lá.

Quando me sento ao seu lado, ela pega a minha mão e olha profundamente nos meus olhos. Sei que vem outra lição de vida... E uma daquelas bem chatas.

- Filha... Você já...

- Transou?

- É...

- Não. Ainda sou virgem, mãe.

Ela respira fundo... De alívio.

- Eu ouvi que você tem um novo namorado...

- Tenho... - Não posso deixar de abrir um sorriso ao me lembrar de Paul. - Nós vamos sair amanhã, ele vai vir aqui falar com você antes.

- Ótimo. Assim fico mais tranquila.

- Posso voltar pro meu quarto? Tenho lição de casa.

- Claro. Pode ir.

Me levanto e subo as escadas.

Diário De Uma AssassinaOnde histórias criam vida. Descubra agora