Sábado, 21 de Outubro de 1994... (VIDA REAL)

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Abro a porta devagar... A casa está escura e tranquila. Bem diferente de quando eu saí. Ao trancar a porta, olho para todos os lados... Nenhum sinal da minha mãe. Mas quando entro em meu quarto... Lá está ela.

Mamãe está sentada em minha cama, com o meu diário aberto em suas mãos.

Droga...

   - Teve uma boa noite? - Ela me fita com seus olhos castanhos.

   - O que está fazendo com o meu diário? Onde o encontrou?

   - Vim limpar o seu quarto... Achei em baixo do colchão.

   - Mentira. Você não tinha o direito de lê-lo. - Me aproximo e jogo minha bolsa no pé da cama.

   - Sou sua mãe, Jessy. Tenho todo o direito...

   - Me dê... - Tento pegar o diário, mas ela se levanta, o afastando de mim.

   - É verdade o que escreveu aqui?

   - Eu escrevi muitas coisas mãe...

   - Me refiro ao fato de você querer transar com aquele garoto. - Ela aumenta o tom de voz.

   - Eu não escrevi nada disso.

Ela abre o diário, folheia algumas páginas e começa a ler.

   - "COMO SERÁ A MINHA PRIMEIRA VEZ? SERÁ QUE VAI SER COM O PAUL? ELE GANHOU VÁRIOS PONTOS COMIGO SIMPLESMENTE POR TER PEGADO NA MINHA BUNDA."

   - Isso não significa que eu quero transar com ele.

   - Então o que significa? - Ela grita.

   - Não grite comigo, mãe...

Ela respira fundo e me surpreende com um abraço apertado. Afundo a cabeça em seu peito, seus cabelos negros fazem cócegas em meu nariz.

   - Está proibida de ver aquele garoto. - Ela sussurra em meu ouvido.

   - Não. - Me afasto.

   - Filha, só estou protegendo você. - Ela passa a mão em meu rosto.

Recuo.

   - Ele não vai me machucar...

   - Conheço esse tipo de homem, filha. Eles são perigosos.

   - Não... Paul é diferente, especial. Ele é como o papai.

   - Não fale do seu pai nesta casa. - A expressão de mamãe muda de compaixão para ódio.

   - Por quê? Meu pai deve ter sido o melhor.

   - Seu pai era asqueroso... - Ela grita.

   - O quê?

   - Ele era um bêbado desprezível. Me estuprava quase todo dia... E quando eu contei que estava grávida, ele me estuprou e me espancou até eu não ter mais forças para lutar. Ele só não me matou porque a bebida o matou antes... Ele caiu duro no chão assim que o maldito tumor em seu fígado estourou. Então, não ouse falar deste homem nesta casa. - Ela sai com o rosto molhado pelas lágrimas.

Seus gritos ainda ecoam pelo silêncio da casa.

Diário De Uma AssassinaOnde histórias criam vida. Descubra agora