Capitulo 2 Enferrujado da chuva 1

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- O relatório de origem de sua existência orgânica é irrelevante, o consenso demanda...

- Irrelevante?! Não queria ouvir minha historia, "dona"? Então faça silêncio, e me deixe contá-la!

Eu ainda podia ouvir e ver coisas, mas não tinha como saber se eram reais ou não, eu tinha impressão de que tinha ido para inferno, tamanha era minha dor, mas então por que diabos haviam anjos lá? Não havia respostas em meio a minha agonia, tudo estava borrado, a dor ia e vinha como um ioiô macabro em que era eu o ioiô.

Finalmente veio à escuridão, eu ainda não tinha certeza, mas achava que era a morte.

A escuridão é infinita, mas existem as estrelas, e nas estrelas existem mundos, e nos mundos existe vida, mas e entre os mundos e as estrelas o que existia? E por que diabos eu sonhava com isso agora?

Aquele fora só o primeiro sonho de muitos assim que eu tive, talvez fosse algo me dizendo que eu ia ficar bem, ou era só a morte preenchendo meu cérebro com pontos luminosos, eu não sabia, não tinha mais nenhuma certeza.

- Onde eu estou?

- Você vai ficar bem, fique calmo. - A voz era doce, embora o sotaque fosse bem estranho, mas quem era eu pra falar de vozes? Minha própria voz tinha um tom rouco que soava muito pouco saudável.

Eu ouvia outras vozes mais ao longe, não tinha certeza, mas pareciam estar conversando em uma língua nativa da região, talvez tupi, eu não tinha como saber, as línguas nativas dos índios da Amazônia nunca foram meu forte, com exceção de algumas prostitutas e alguns mendigos indígenas suburbanos que eu encontrava em minhas aventuras por algumas das grandes cidades próximas, eu tinha muito pouco contato com as culturas ancestrais da Amazônia, meu tupi se resumia a alguns palavrões e sacanagens.

As vozes continuaram com sua conversação e mesmo em meu estado torpe eu fui capaz de entender superficialmente ao menos as emoções embutidas em suas vozes. Uma das vozes tinha um tom suplicante e respeitoso, mas ao mesmo tempo imperativo, enquanto a outra era resoluta, mas pacifica, eu tentei prestar atenção, mas não conseguia entender nada, somente o tom de sua conversa me era familiar, eles estavam decidindo alguma coisa.

- Quem são vocês? - Perguntei tentando falar um pouco mais alto, mas a rouquidão e a dor eram paralelamente intensas.

- Você precisa descansar. - Respondeu a voz feminina e doce novamente, seu tom era tão delicado que era quase impossível resistir, então eu me calei e esperei, era extremamente difícil resistir ao sono e após alguns poucos minutos novamente veio à escuridão.

As vozes haviam voltado, mas dessa vez eu não reconheci a língua em que falavam e uma das vozes tinha um tom muito áspero embora não parecesse agressivo parecia inumano, havia outra voz, era feminina, mas parecia mecânica, eu tentei abrir meus olhos para ver o que acontecia, mas a dor era insuportável.

Eu forcei um pouco meus olhos então e pude ver que haviam tubos e também água por toda minha volta, por fim eu acabei deduzindo que eu estava deitado em uma espécie de tanque. Tentei forçar mais meus olhos, mas a luz queimava como fogo, então eu os fechei até a dor se dissipar e a escuridão voltou.

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Eu sonhei com as estrelas novamente, na verdade com uma estrela, era muito linda, sua luz era extremamente brilhante e ela estava viva, eu podia sentir isso, mais do que isso eu podia até ouvi-la cantando a mais linda melodia para mim, era como se a melodia fosse feita a partir da minha vida, como se alguém ou alguma coisa descrevesse minha alma na forma de uma musica.

Céus Vermelhos: Ponto ZeroOnde histórias criam vida. Descubra agora