Capítulo 10 - Heart and Soul II

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- Qual carro você quer? - meu pai me perguntou.

Eu mal tinha acabado de acordar direito para o meu primeiro dia de aula na nova escola e ele já me atingia com um soco na cara que era aquela pergunta. Eu o encarei com olheiras nos olhos e o cabelo todo desarrumado. Eu devia estar parecendo uma leoa com sua juba. Pisquei os olhos mais uma de vez pra tentar clarear as ideias.

- Eu tinha um Chevrolet Camaro 1985 - respondi.

- Não perguntei qual você tinha - meu pai se aproximou e se sentou nos pés da cama - Perguntei qual você quer.

- Pai, podemos não falar sobre isso outra hora? - pedi - E você pode, por favor, me dar um pouco de privacidade? Bater na minha porta antes de entrar seria ótimo.

Ele me olhou constrangido. Provavelmente não devia estar acostumado a ter muitos hóspedes em sua casa, muito menos uma filha morando com ele. Mas eu estava lhe ensinando meus modos lentamente. Ele já sabia que eu não era fã de bacon e que eu gostava de fazer as coisas por mim mesma. Por mais que viesse uma empregada todo dia, era eu que arrumava meu quarto porque eu não queria que ela mexesse nas minhas coisas. Não porque eu tinha medo que ela fosse roubar algo, mas sim porque eu sabia exatamente onde tudo ficava na minha pequena bagunça. Além do mais, nunca tive uma empregada. Eu já estava mais do que acostumada a arrumar minha cama pela manhã e a trocar meus lençóis toda semana.

- Desculpa - ele pediu em um murmúrio.

- Está tudo bem, você só não se acostumou ainda - dei de ombros.

Ele sorriu em agradecimento à minha compreensão.

- Pai - eu o chamei e arqueei as sobrancelhas.

- O que?

- Privacidade, lembra?

- Ah, é verdade - ele se levantou e caminhou até a porta com pressa - Estou te esperando na cozinha para tomar café.

Eu assenti e lhe mandei um sorriso enquanto ele fechava a porta. Eu me levantei da cama e me espreguicei. Olhei no relógio do meu celular e constatei que eram 7 horas da manhã e quatro minutos. Sorri instintivamente ao me lembrar da conversa que tive com Louie na noite anterior. Ela me contou tudo o que tinha feito na semana e eu fiz com que ela me garantisse que nossa mãe estivesse cuidando bem dela. Surpreendentemente, ela falou bem de Alan também, o namorado da minha mãe. Mas o que me deixou mais contente foi saber que ela também sentia minha falta, mesmo tendo minha mãe por perto.

- Eu vou te ver, anjo - eu lhe tranquilizei.

- Quando? - ela perguntou.

- Logo. Agora minhas aulas vão começar e eu não vou poder ir tão rápido quanto eu queria, mas eu vou te ver assim que puder. Não se preocupe.

Aquela ideia era a única que me dava conforto. Eu e meu pai já havíamos tocado no assunto "ir para Winnipeg" e sua resposta foi "se você quiser, tudo bem". Mas eu sabia que ele só estava dizendo aquilo porque queria que eu gostasse dele. Então eu não pressionei mais e não mencionei mais o assunto. Eu ia esperar o tempo passar e ia esperar a data certa até pedir para ir para Winnipeg novamente. Aí a poeira já teria abaixado. Meu pai não teria como dizer não.

Tomei uma ducha rápida e escolhi uma roupa básica. Jeans, camiseta e tênis. Eu não estava tentando chamar atenção pra mim, até porque odiava aquilo. Eu ia ter que repetir um semestre e a única coisa que eu queria era passar despercebida naquela escola. Eu tinha certeza que seria um lugar recheado de riquinhos e patricinhas, já que ficava dentro do condomínio. Eu só torcia pra que não fosse muito ruim.

Desci para tomar café com meu pai e nós ficamos em silêncio. Tomei um cappuccino com canela e comi panquecas. Meu pai não era muito bom na cozinha, mas ele tentava. Sorte que ele tinha uma cozinheira que era ótima. Quando acabamos de tomar café, passei na sala e peguei minha mochila. Eu já a tinha deixado no andar de baixo pra não esquecê-la no quarto. Passei uma das alças pelo ombro e nós caminhamos até o carro.

Heart and Soul II (Justin Bieber)Onde histórias criam vida. Descubra agora