3 - O caminho para Cherokee

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Faltavam poucos quilômetros para a entrada da cidade e avistei uma pequena pensão, tudo devidamente como calculado. Parecia bastante humilde, aquém dos meus gostos, mas aconchegante o suficiente para esperar a madrugada passar. Eu geralmente prefiro lugares mais movimentados e luxuosos, mas tinha certeza que não encontraria algo melhor por ali. Por sorte, teria uma boa cama, café quente, um pouco de Rum e uma boa lamparina para eu sanar minha noite de insônia com um livro de literatura. Se a agronomia era o meu primeiro amor, eu era polígamo. A Literatura era minha amante noturna.

Já cansado, desci da carruagem, prendi o cabresto num pedaço de madeira ali, e bati na porta. Havia uma luz fria no interior, não demorou e um senhor de uns 60 anos apareceu. Tinha um ar desleixado, mas não tanto a ponto de ser deseducado. Carrancudo, perguntou o que eu queria àquela hora da noite. Expliquei que estava viajando a trabalho e precisava de um lugar para descansar até o amanhecer, e então partiria para Cherokee. Disse que pagaria bem. Dinheiro não era meu problema, como nunca foi e eu esteva bem preparado. O homem me convidou a entrar com um sorriso de leve no rosto. O dinheiro arranca a simpatia do fundo da alma das pessoas.

O lugar tinha um aspecto ainda mais pobre do lado de dentro. As paredes e assoalhos de madeira precariamente decorados com carpetes coloridos e colchas de retalho pelo menos atribuíam um ar caloroso. No salão principal, algumas mesas e cadeiras postas em fileiras serviam de sala de convivência e refeitório para os poucos hospedes que provavelmente apareciam por ali. Ao fundo, uma cortina de tecido dividia o salão como uma parede improvisada. Perto da cortina havia uma última mesa, desalinhada de todas as outras e aparentemente mais limpa, mais firme e melhor servida que todas as outras. Era denominada a mesa de Honra, aquela reservada para os convidados mais nobres.

No interior da estalagem pude ler numa placa de madeira "Família Bender". Logo abaixo, um retrato da família com o senhor que logo me apresentou o seu clã: o pai John Bender sentado à esquerda, sua esposa Marli Bender ao seu lado. À frente da mulher, o filho John Junior, que na época do retrato era um adolescente, e a garotinha da família, Kate Bender, sentada no colo do pai enquanto segurava a mão do irmão. Sorriso nada inocente e forasteiro de uma criança que sabia que se tornaria uma bela mulher.

Percebi que a foto fora tirada a algum tempo quando o sr. Bender chamou a família para me servir. Aparentemente, toda a estalagem era administrada pela família, sendo que cada integrante tinha papel fundamental no tratamento dos hóspedes. Junior já era um homem adulto, estava com vestes informais. Cumprimentou-me e saiu para desarmar a carruagem e levar os cavalos ao estábulo. A sra. Bender, com um sorriso falso me prometeu um café quente exatamente como eu havia sonhado no caminho até ali e saiu para o outro lado da cortina, que era onde ficava a cozinha e os quartos dos donos da hospedaria. Por último, responsável pela acomodação do hóspede que era eu, apareceu Kate.

Ah!! Kate... a garotinha do quadro tinha crescido e se tornado a mulher mais bonita que eu já tinha visto em toda minha vida. Seus olhos eram de um verde tão profundo que pareciam me sugar para o fundo de sua alma. Seus cabelos tão negros quanto a noite mais escura, meio presos num coque, meio caídos nos ombros pareciam desenhar o desarrumado perfeito. A moça já tinha se recolhido quando eu cheguei, levantou apenas para me atender então, misturava-se em trajes de dormir e roupas de se apresentar ao público. Sua pele pálida parecia gelada demais perto dos lábios avermelhados e carnudos. Ela estava terminando de abotoar o sobretudo, mas não pude deixar de ver os seios salientes quase descobertos pela camisola. Pareciam duas frutas maduras prontas para serem chupadas. Ela me sorriu maliciosa, ou pelo menos eu tive a impressão de ter sido assim. É provável que tenha sido um golpe de olhar, já que meus instintos carnais certamente a olharam com as mais vorazes intenções. Em meus mordazes pensamentos, qualquer coisa que aquela mulher fizesse naquela hora da noite me pareceriam sugestivos.

Ela tocou minha mão fugindo totalmente dos protocolos de boas maneiras, não que isso tenha me incomodado, e me puxou:

- Venha!! Vou te mostrar seus aposentos. – Eu tive certeza de que ela estava, sim, sendo maliciosa.

Senti os olhos quentes do pai dela sobre meus ombros, mas creio que tenha sido só imaginação, pois se ele tivesse, de fato, visto o meu rosto denunciando todos os meus desejos sexuais sobre a filha dele, teria me posto para fora naquele exato momento. Sem olhar para trás, segui a moça até um corredor e ela me guiou até um dos quartos de hóspedes. Como eu previa, não era nada luxuoso, mas tinha lençóis limpos e uma lamparina acesa para que eu pudesse ler, se é que eu conseguiria me concentrar em mais alguma coisa depois do sorriso de Kate. O quarto me surpreendera. Eu já tinha me preparado para bem menos do que aquilo.

Agradeci a moça tentando parecer decente, sentei-me na cama, tirei o casaco e os sapatos supondo que ela já tivesse saído dali. Levantei os olhos para a porta e ela continuava ali, parada, olhando para mim com um meio sorriso. Perdi a noção do tempo e espaço olhando nos olhos dela, descendo para o pescoço despido e para o decote do vestido branco que revelava muito mais do que seria apropriado para uma moça de família. Passeei pelo seu corpo de mulher de cima a baixo desenhando-o em minha mente e voltei para os olhos verdes intensos. Foi quando percebi que a estava encarando, desviei rápido o olhar faminto e perguntei se havia algum problema. Por que ela ainda estava ali? Ela se desculpou e simplesmente disse que, respeitosamente, me achou interessante. Que não apareciam muitos clientes como eu por ali. Desconcertei-me inteiro pois não esperava tal ousadia. Senti todo o meu corpo querer saltar para cima dela e mostrar-lhe o quanto eu poderia ser interessante para ela, mas com muito esforço me contive, até porquê naquele exato momento sua mãe entrava no quarto com minha xícara de café, que por sinal, até que cheirava muito bem. A mulher me entregou o líquido fumegante e saiu puxando a filha:

- Vamos Kate. Está tarde e o moço quer descansar. – A velha saiu resmungando mais alguma coisa que eu não consegui compreender.

Ah, ela estava errada. Eu não queria mais descansar. Eu queira Kate. Queria ela ali me olhando. Poderia facilmente imaginá-la sem aquelas roupas de dormir se achegando a mim de mansinho e encostando o corpo no meu. Mas isso não aconteceria e ela já tinha saído do quarto, então me contentei com a xicara de café. 

Katie BenderOnde histórias criam vida. Descubra agora