No dia seguinte, acordei sentindo algo viscoso sobre o meu rosto e instantaneamente pus minha mão sobre aquilo. Era mel e com algo branco misturado. Corri para o banheiro do quarto mesmo e diante do espelho vi meu rosto sujo com lápis de olho, creme dental e mel. Tinha até um órgão genital masculino desenhado na minha testa.
QUE ÓDIO ALHEIO!
Esfreguei tanto sabonete na minha cara que parecia que eu queria arrancá-la ao invés de limpar aquilo tudo. Enxaguei com muita água e verifiquei se não havia mais nenhum resíduo no meu rosto. E não é que aquela meleca toda deixou meu rosto menos oleoso e diminuiu a quantidade de cravos e espinhas? Pois é! Mas o quilo de cola já seca no meu cabelo ainda estava nítida alí.
Levei o shampoo até o box e tentei me livrar daquela praga enquanto a água do chuveiro caía sobre minha cabeça. Com muito esforço, muito mesmo, consegui. Me ajeitei como o The Flash e com minha mochila em mãos fui para o refeitório, ou melhor, cantina. Mas durante o pequeno percurso, os desocupados que estavam pelo pátio olhavam para o celular, seguidamente para mim e riam como se não houvesse o amanhã. Um sentimento de dúvida num estalo foi embora quando me lembrei do que poderia se tratar: Da minha situação minutos antes, é claro.
Minha vontade era de sair batendo em todo mundo, como se isso fosse possível. Mas mantive meu controle e sensatez. Segui andando. E respirando fundo.
Tem dedo do Igor nisso, óbvio que tem, e pelo lápis de olho só pode ter sido a panaca da namorada dele que certamente estava junto. Mas a lei do retorno vem por aí.
Peguei minha bandeja com o café da manhã e me sentei em uma das mesas mais afastadas do refeitório, mas não foi suficiente porque um grupo de garotas se colocaram em volta da mesa que eu estava e me olhavam com deboche. Percebi isso apenas com um olhar de relance enquanto mastigava, mas ignorei todas elas que pareceram não gostar nem um pouco disso. Uma delas deu um soco na mesa e sua cara de dor provocou meu riso. Tomara que perca a mão junto com o braço inteiro.
— Não tá ouvindo a gente falar com você? — Só então pude notar a panaca da namorada do Igor no meio delas quando ela tomou a frente.
— Eu tenho mais o que fazer — falei me colocando em pé, mas bloquearam a minha passagem.
— Tá cedo, amorzinho — Kátia liderava o bando.
— Sai da minha frente Kátia! — alertei tentando demonstrar convicção mas por dentro eu estava quase me borrando. Urgh!
— Vai fazer o quê? — amesma desafiou.
— Isso... — e despejei o copo inteirinho de suco de uva sobre o lindo uniforme branco dela. Nem me pergunte onde estava a minha cabeça, entretanto, a cara dela foi hilária.
Fiz merda, comprei briga e estou ferrada. Mas foi bem feito.
Saí dalí o mais rápido possível à medida que ela me xingava e as pessoas riam dela. Tomei assento na primeira carteira da primeira fila da sala de aula, a mais próxima da porta caso fosse necessário correr de um certo alguém enfurecido e já imaginando o que viria por aí. Barato ela não ia deixar, isso é bem óbvio.
O sinal tocou em alerta a aula e os alunos foram chegando e se assentando. E nada da Kátia chegar. Só não sei se isso é bom ou ruim pra mim, mas tentei pensar positivo e imaginar que num passe de mágica ela acabou esquecendo de tudo. Que psicose!
O Gus chegou atrasado. Me deu um "oi" bem rápido e para uns amigos dele e mesmo assim levou repreensão da professora porque segundo ela "ele estava demorando demais para se sentar", desnecessário. Igor mesmo nem apareceu na aula e não faz falta alguma, pelo contrário.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Volta Por Cima
RomanceEduarda Mendes é uma garota ainda em seu período escolar onde é vítima de bullying e acaba descontando toda a raiva da opressão na comida, o que acarreta mais problemas. Tem vergonha em dividir esse problema com os pais que nem são tão presentes ass...