Capítulo 11

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Caminhamos até a cozinha, e eu me sento em uma banco de frente para a bancada. Fico observando a grande figura masculina a minha frente. O homem ao qual posso chamar de "meu".

Ele se movimenta com grande leveza por sua imensa cozinha. Sempre que abre algum armário, trata de fechá-lo logo em seguida. 

- Você é bem mais organizado que eu. - Digo em tom de brincadeira e percebo que ele curva os lábios levemente, demonstrando um sorriso.

- Acho que eu me adaptei dessa maneira. De arrumar tudo e deixar tudo organizado. Não me imagino ser um cara bagunceiro. - Ele diz, ainda com o sorriso que eu amo em seus lábios, e eu fico apenas observando ele se movimentar com rapidez e destreza - Tenho cara de bagunceiro? - Ele se vira em um gesto rápido, e me olha com uma careta.

Começo a rir e ele me acompanha, agora chegando mais perto de mim e me envolvendo em seus braços musculosos.

- Não, meu amor. Você parece ser o homem mais calmo da face da Terra. - Continuo com minha brincadeira, e passando as mãos ao redor de seu pescoço, sorrio de leve.

- Tá tirando uma da minha cara, não é? - Ele diz rindo, como se toda a felicidade do mundo estivesse a seu favor.

Não consigo manter o riso, e o acompanho. 

- Sim, estou fazendo exatamente isso. Como descobriu? - O observo atentamente, e vejo que seus olhos estão de uma cor mais clara, mais puxada para o verde, mas não deixam de ser azuis.

- Conheço muito bem a minha garota. - Ele dá uma piscada e um leve beijo em minha boca, que está sedenta pelos lábios dele.

Ele se afasta e volta a fazer o jantar. O silêncio domina o espaço, e eu não sei bem sobre o que falar. A felicidade parece ter voltado nos olhos de Charlie, mas sei que o coração dele está do mesmo jeito. Tenho medo de tocar no nome de Joey e a tristeza o dominar novamente. 

Não vou falar nada a respeito. Não agora. Adoro ver Charlie feliz, e com os olhos cheios de uma alegria contagiante. Mas ele não está totalmente feliz, e eu estranharia se estivesse. 

Mas o que me deixa mais intrigada é: Charlie disse que quando ele e Joey tinham 17 anos, os dois eram inseparáveis. Porém, Joey assassinou a irmã com 14 anos. Como, mesmo depois desse acontecimento, eles eram muito próximos?

- Gosta de gnocchi? - Ele olha novamente para mim, mas dessa vez com uma colher de pau na mão e com um pano de prato em cima do ombro. Típico cozinheiro!

- Gnocchi? O que seria isso? - Olho diretamente para ele, que sorri quando demonstro que não sei do que se trata.

- Grande parte da minha família tem descendência italiana, logo, eu também tenho. Gnocchi é nhoque em italiano. Achei que você soubesse. - Ele, de fato, está tentando me provocar. 

- Não, não sabia. E pra sua informação, Chef , eu não conheço nada da Itália. Espero um dia conhecer, é claro, dizem que é um lugar esplêndido. - Digo com um sorriso no rosto, imaginando como seria estar em um lugar como a Itália.

- Podemos ir lá algum dia. - Toda sua atenção está voltada para uma panela, onde os nhoques cozinham, e outra onde o molho aferventa.

- Quem sabe. - Fico brincando com a barra da minha blusa e o olho de relance.

- Você não sabe nada mesmo sobre a Itália? - Ele diz rindo e com tom de deboche.

- Algumas coisas, como lasanha, que eu adoro, e tiramisu, que eu nunca comi, mas tenho muita vontade de provar. - Eu o encaro, e ele está sorrindo de uma forma verdadeira para mim.

- Eu faço um ótimo tiramisu. - Ele continua me surpreendendo cada vez mais.

- Quando você vai parar de me surpreender? - Digo, me levantando e indo até ele, e observando dentro das panelas. 

- Jamais. Sempre vou te fazer alguma surpresa e sempre vou te deixar de queixo caído. - Ele me dá um selinho demorado e depois me encara, e eu sorrio.

- E vai parar de ser tão convencido? - Sorrio mais ainda, beijando a ponta de seu nariz.

- Isso nunca. É um charme que você adora. - Ele mexe algumas panelas e experimenta um pouco do molho. Em seguida sorri e me dá um pouco para que eu prove.

Despejo um pouco sobre a palma de minha mão e provo. Está tão bom que sinto vontade de comer esse nhoque imediatamente.

Ele, com toda a certeza, sabe bem o que está fazendo. Por um momento duvidei que ele faria um "ótimo tiramisu", mas acho que vou deixar minhas dúvidas se encarregarem de algo mais surreal, porque a comida de Charlie é simplesmente maravilhosa.

- Isso está realmente ótimo! - Digo o olhando com cara de espanto e admiração, e dando um beijo em sua bochecha - Estou orgulhosa do meu chef particular.

- Obrigado, princesa. Agora volte para seu assento e me deixe terminar isso aqui. - Ele diz em um tom autoritário, mas sem deixar seu sorriso radiante desaparecer.

Fico no mesmo lugar e não paro um segundo de olhá-lo.

- Então quer dizer que eu te distraio, Sr. Charlie? - Tento esconder o sorriso que quero esboçar, mas é impossível.

- Você me distrairia mesmo se estivesse dormindo. - Ele sorri e me puxa para um beijo. Um beijo calmo, mas seguro e confiante.

Por um momento eu esqueço de tudo. De todas as maldades causadas por Joey, de todo remorço que Charlie sente...

Mas não consigo apagar isso da minha mente. Há tantas coisas quais eu ainda tenho que descobrir. Ainda tenho muitas perguntas a serem respondidas.

Só espero que nenhuma delas abale mais ainda Charlie do que ele já está.

Escrito pelo Destino.Onde histórias criam vida. Descubra agora