- Charlie, você acha que Joey vai voltar? – Me solto de seus braços para encarar aqueles belos olhos, que agora também me pertenciam.
- Sinceramente? – Ele questiona me olhando com tristeza.
- Sim, por favor. – Não paro de olhá-lo nem um segundo.
Charlie sorri e me dá um beijinho. Depois acaricia meus cabelos e toda minha face.
- Ele vai. Vai voltar, e ainda por cima, vai te procurar. – Charlie me olha com os olhos marejados. A tristeza em sua face é aparente.
- Mas...e como eu vou ficar? – Me encolho, e uma lágrima escorre por meu rosto.
- Ei, chega de chorar, okay? Ele não vai fazer nada com você. Já te prometi isso. – Ele limpa a lágrima com o polegar e me deita em seu ombro.
Depois tantas lágrimas escorridas e tantos soluços repetitivos, me pego adormecendo nos braços de Charlie.
Me viro de um lado para o outro e percebo que estou em alguma superfície macia e sedosa. Talvez a cama de Charlie.
Abro os olhos lentamente, esfregando-os com as costas das mãos e me espreguiçando em seguida. Solto um gemido baixinho, e rio comigo mesma por esse ato que cometo toda vez que me espreguiço ou faço alongamentos. É um fato engraçado, e um pouco estranho.
Estou deitada em uma cama grande, sem dúvida, e que possui lençóis vermelhos, por quais estou coberta até a cintura. Pela parede há vários quadros de uma única família: um casal adulto, dois meninos pequenos que aparentam não ter menos que 10 anos e uma menina, a qual me chamou bastante atenção. Oh céus, que menina linda!
Seus cabelos eram extremamente negros, e seus olhos cor de mel. Os lábios finos estavam cobertos por um batom rosa – claro. E o corpo, por mais que fosse uma menina, era lindo.
Suponho que o casal de adultos eram os pais, os dois meninos eram Charlie e Joey, pelos olhos azuis e perfis completamente diferentes. Mas a menina...eu não sabia quem era. Era alguma parente? Uma prima? Talvez uma irmã?
Pois bem, perguntarei isso depois à Charlie. Ele poderá me dar uma resposta concreta de tudo isso.
Levanto da enorme cama, e continuo reparando no ambiente. O quarto tem um leve tom de marrom, e o piso acompanha a mesma cor, só que no entanto, é mais claro. Na frente da cama, há uma grande televisão de tela plana. Portanto, no canto do quarto, há uma caixa preta, com um cadeado. O que será isso? Charlie, mas uma vez, consegue me surpreender e me deixar curiosa.
Ao lado da cama há um criado mudo preto, com um despertador em cima, e um porta-retrato com uma foto da mesma menina dos cabelos pretos.
Definitivamente deve ser alguém muito importante para Charlie. Será que é Penny? Será que ambos cresceram juntos e começaram um amor?
Ainda tenho tantas perguntas...e gostaria muito que Charlie respondesse todas para que as coisas se ajeitassem.
Pego o porta-retrato nas mãos e fico observando a fotografia. Passo os dedos levemente por ela e solto um grande suspiro.
- Ela era linda, não é? – Ouço a voz de Charlie atrás de mim, sussurrando em meu ouvido, e com suas mãos em minha cintura, me abraçando por trás.
Geralmente, eu teria me assustado com seu ato, ou com sua voz tão próxima a mim. Mas isso não aconteceu. De alguma forma misteriosa, Charlie me confortava, mesmo quando eu estava no meu mundo e não esperasse que ninguém me incomodasse.
- Sim. Muito linda. – Me viro lentamente, ainda com o porta-retrato na mão, e encaro os mais lindos olhos azuis, que estão mais claros do que nunca – Mas...você disse "era"?
- Sim, eu disse. O nome dela era Daisy. – Ele abaixa a cabeça e me puxa para a cama.
Me sento e ele se senta a meu lado, ainda de cabeça baixa.
- Quem era ela, Charlie? – Pego em seu queixo e o faço olhar para mim. Seus olhos azuis estão marejados e tristes – Se não quiser me falar sobre isso, tudo bem. – Sorrio de um modo acolhedor e sincero.
- Não, eu preciso contar isso. Você tem que saber de tudo. – Ele já chorava. Bom, pelo visto, é mais alguma armação de Joey.
- Pode começar quando quiser, amor. – Acaricio seus cabelos, os deixando mais bagunçados.
- Daisy, era nossa irmã. Eu e ela éramos muito próximos, e não sei...acho que Joey tinha ciúme de tudo isso. Um certo dia, quando eu estava com 14 anos e ela com 12, estávamos brincando de esconde-esconde. Eu estava contando, e ela foi se esconder. Até hoje escuto sua risada se afastando de mim. A mais linda que já ouvi na vida. Quando terminei de contar, vou atrás dela, e escuto um grito vindo do porão. Vou correndo até lá, mas não encontro nada. Tudo estava em silêncio. Não tinha ninguém e nem nada lá. Até que escuto um barulho, vindo de uma caixa. Era uma caixa enorme. Vou até lá rapidamente, e a abro. Ainda não acredito a que ponto ele chegou, Mary...não posso acreditar... – Ele está soluçando em meio as lágrimas que não param de cair.
O que Joey pode ter feito, com apenas 14 anos? Pelo visto, ele já ela um psicopata desde pequeno.
- Era ela, Charlie? Era Daisy que estava dentro daquela caixa? – Ele assentiu repetidamente com a cabeça, e desabou a chorar mais e mais.
Por trás daquele homem forte e, muitas vezes, grosseiro, existia um ser sensível e emotivo.
Ele se acalma um pouco, mas ainda assim, as lágrimas não param de cair nem por um segundo.
- Ela estava lá. Com todas as roupas rasgadas, com o cabelo bagunçado, arranhões no rosto, mãos e pés amarrados. Estava surrada. Toda roxa. Tinha um imenso corte no pescoço, por qual o sangue escorria violentamente. Será que demorei tanto assim para contar até 20, Mary? Será que fui tão irresponsável com ela, a ponto de deixá-la morrer? Que tipo de pessoa eu sou? Como pude, Mary? Como pude deixar uma menina linda de apenas 12 anos, ser espancada quase até a morte, e depois ter seu pescoço cortado? Ela era minha irmã, Mary. MINHA IRMÃ. E eu nunca irei ter minha menina de volta. – Ele afunda as mãos nos cabelos e abaixa a cabeça.
Eu apenas o abraço. Sei que não é a hora certa para dizer nada. Ele deve estar em uma situação muito difícil, e deve apenas precisar de um abraço.
Como Joey pode ser tão cruel? Que tipo de pessoa faz uma coisa dessas? Com certeza só pode ser uma com doenças mentais.
E o pior de tudo, é que Charlie se culpa pelo o acontecido. Ele acha que foi culpa dele demorar para contar. Que foi culpa dele a morte de Daisy. Mas não foi. A culpa de tudo, foi e ainda é de Joey.
- Mary, obrigado por tudo. Não é qualquer pessoa que agüentaria ouvir revelações tão fortes sobre a família de alguém. Mas, agradeço muito, por essa pessoa ser você. – Ele ainda está abraçado comigo, mas eu o afasto, depositando um selinho demorado em sua boca.
- Você pode contar comigo para tudo. Sou toda ouvidos, e vou te ajudar no que você precisar. Mas, lembre-se que você não é culpado de nada, meu amor. E nós dois sabemos o verdadeiro culpado por tudo. – O abraço novamente, e vejo que algumas lágrimas escorrem por meu rosto, molhando sua blusa.
- Não quero que você chore. Por favor. – Ele diz em meu ouvido, o que me causa arrepios nos pelos na nuca.
- Tudo bem. O que acha de comermos alguma coisa? – Me solto de seus braços e o olho com um sorriso.
- Claro, é uma ótima idéia. – Ele me dá outro selinho e se levanta, me puxando para a cozinha.
Sinto que ainda tenho muita coisa a saber sobre Charlie e sua família. Mas...algo dentro de mim, me diz para que eu não continue com isso, me diz para que eu me afaste.
Não posso fazer isso. Não agora. Não com Charlie. Não posso o deixar sozinho. Eu o amo demais para isso.
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Escrito pelo Destino.
RomanceMarylin Collins é uma mulher ruiva, com seus belos olhos verdes e seu corpo de dar inveja. Ela trabalha rm uma editora, o que sempre foi seu sonho, além de, um dia, publicar algum livro em uma editora famosa. Ela vive uma vida normal e monótona, sem...