Aparentemente, nós dois estamos chocados com toda essa situação. Ficamos extremamente calados durante longos dez minutos. Dou um longo suspiro e percebo que Charlie me olha com o canto do olho. Viro para ele, que está me olhando fixamente nos olhos. Ele passa a mão pelo meu cabelo, contorna por toda a minha face e chega até meu pescoço. Ele me beija e eu retribuo, mas percebo que ele ainda está tenso com tudo isso.
Me afasto e ele abaixa a cabeça, parecendo decepcionado com ele mesmo.
- Mary, obrigado por ser a única pessoa no mundo que me entende realmente. – Ele diz com sinceridade e me olha novamente nos olhos, esperando uma resposta.
- Charlie, eu te amo. E não precisa me agradecer por nada, mas...será que você poderia me explicar o que realmente acontecendo?
- Bom...primeiro, Joey não está indo embora. Ele está fugindo. – Acho que ele percebe a minha expressão de pânico e então, para por um momento, para que eu recupere o fôlego.
- FUGINDO? Como assim, Charlie? – Meus olhos estão totalmente arregalados e minha boca está aberta. Charlie segura nos meus ombros com uma expressão aflita e preocupada.
- Mary, acredite, se você está agindo dessa forma só porque eu disse que Joey está fugindo, você vai morrer se eu contar toda a verdade sobre ele. – Ele sorri com sarcasmo e percebo que ele está tirando onda da minha cara.
Dou um tapinha de leve em seu ombro, sorrindo.
- Isso não tem graça, Charlie. Para de tentar me distrair com essas suas bobagens. – Ele sorri e me abraça de um jeito confortador, mas fica sério rapidamente. – Termina logo essa história, por favor.
- Continuando...Muito tempo atrás, quando tínhamos 17 anos, Joey e eu éramos inseparáveis. Ninguém podia com a gente. – Ele sorri quando diz isso, de uma forma que parece que ele está relembrando os momentos bons com seu irmão - Mas um dia...ele ficou distante. Ele não queria falar comigo, e eu não entendia o por que de tudo isso estar acontecendo.
Ele dá uma longa pausa, e me olha com os olhos marejados.
- Amor, não fica assim. Por favor. – Ele começa a me encarar e então desvia o olhar. – Olha pra mim, Charlie. – Peço carinhosamente para ele, então ele me puxa para seus braços.
Sinto que ele chora por cima da minha cabeça e me sinto mal por isso.
- Quer continuar, ou quer falar de outra coisa? – Dou um sorriso, tentando reconfortá-lo.
- Quero continuar...tenho que colocar isso pra fora, isso que está me engasgando a muitos anos. – Ele diz com um olhar sombrio, e preocupado.
Isso definitivamente foi estranho. Do modo como ele disse, parece que as coisas estão realmente bem sérias.
- Tudo bem, então pode falar. – Continuo o encarando de um modo acolhedor. Ele abaixa a cabeça por um momento e limpa suas lágrimas com as costas da mão. Depois disso, me encara novamente.
- Depois de muito tempo afastados, eu fui falar com ele sobre tudo isso. Joey simplesmente disse para que eu o acompanhasse até algum lugar. E assim o fiz. – Ele solta um longo suspiro, parecendo desapontado – Ele me levou até um galpão antigo, e me mostrou tudo, Mary...
Charlie soluçava tanto, que eu não sabia se o abraçada ou se o dava morfina para se acalmar. Puxei ele pra mim, encostando sua cabeça em meu peito e acariciando seus cabelos.
Depois de longos 10 minutos desse jeito, ele se recompôs e, novamente, me encarou.
- Ele te mostrou o que, Charlie? – Olho em seus olhos azuis, e me sinto totalmente perdida.
- O que ele dizia ser o trabalho dele. – Eu já estava ficando cansada dessa cena toda de Charlie. ele nunca chegava ao ponto principal, sempre adiava o mais importante.
- Fale logo, Charlie. – Mesmo estando histérica, consigo pronunciar as palavras calmamente.
- Ele contrabandeava mulheres, e as deixava no galpão se ninguém as comprasse. As deixava passando fome, frio e medo. Joey me disse também que ás vezes, abusava delas por não se comportarem. Batia nelas, e muitas vezes, se ficassem meses sem que fossem vendidas, ele as matava. – É...ele tinha razão. Acho que vou ter um ataque cardíaco.
- COMO? COMO ESSE DOENTE FOI MEU VIZINHO? PORQUE ELE DIZIA QUE ERA "APAIXONADO" POR MIM? ELE SÓ QUERIA ME VENDER? ME ESTUPRAR? – Me descontrolo totalmente, e quando percebo, estou em meio a um rio de lágrimas.
Coloco as mãos no rosto, e começo a soluçar. Charlie me puxa para perto de si, me abraçando e me fazendo carinho.
Como Joey foi capaz de fazer isso? Eu ainda não consigo entender...que tipo de doente mental ele é. Será que ele fazia isso por diversão? Será que ele ganhava muito dinheiro com isso? Será que ainda ganha? Será que está sendo perseguido?
Tantas perguntas...mas tanta falta de energia para perguntá-las. Mesmo estando chorando desse jeito, tenho que saber de tudo. Charlie tem que me responder, e eu tenho que me controlar.
- Calma, Mary...eu nunca deixaria ele fazer isso com você. – Sua voz é calma e confortadora. Seu toque é quente e protetor.
- Charlie...ele está sendo perseguido? – Digo, ainda encostada no ombro dele.
- Sim, está. Tudo isso porque ele também contrabandeava armas de uma grande produtora. Os donos da empresa descobriram isso, e mandaram vários capangas atrás dele. – Ele diz isso tranquilamente, como se perseguir Joey fosse o certo a fazer. Mas...pensando bem...acho que é o certo mesmo.
- Mas por que você sempre disse que Joey te fez mal? – Me desencostei de seu corpo e o encarei.
- Bom...ele pediu para que eu o ajudasse no seu trabalho, mas recusei. Pensei em contar para nossos pais, mas Joey me ameaçou e disse que se eu contasse algo, eu iria morrer. Nunca comentei com ninguém sobre tal coisa. Tive medo dele me caçar e me fazer algum mal. E foi basicamente o que ele fez...- Ele solta um grande suspiro, afim de tentar aliviar a tensão da conversa.
- O que esse monstro fez? – Cuspo as palavras, pensando em algo que, possivelmente,Joey fez para Charlie.
- Na época, eu estava namorando com uma garota chamada Penny. Eu a amava, e, como Joey queria me afetar de uma forma devastadora, ele a seqüestrou. Fiquei como louco a procurando por todos os cantos, até que pensei no galpão onde Joey me levou. Ela estava lá...toda ensangüentada, sem roupas, com diversos hematomas...e com o corpo amarrado. Estava morta. Depois desse dia, Joey foi embora, e eu vim atrás dele. Fiquei sabendo que ele estava te vigiando, e por algum motivo, eu queria te proteger. Comecei a investigar sua vida, seus amigos, sua família...descobri quase tudo sobre você. – Tudo o que ele diz, parece um punhal que atravessa, sorrateiramente, meu peito.
- Ainda não acredito que ele é esse ser humano horrível. – Me aconchego nos braços de Charlie e me aperto conta si, com medo de que algo ou alguém, possa me separar dele.
- Mas de uma coisa você pode ter certeza, Mary: vou cuidar de você. Nada vai te fazer mal. Eu prometo. – Ele me aperta mais ainda contra si, em um ato protetor.
- Eu te amo, Charlie. – Ele beija o topo da minha cabeça, e faz carinho na mesma.
- Eu também te amo, raio de sol.
Apesar de toda a tensão que está havendo sobre Joey e tudo mais, Charlie ainda assim, consegue me deixar calma, e me permite ser amada.
Parece que todos os meus medos, ilusões e pesadelos, se vão quando ele está por perto.
Só espero que Joey não tente fazer nada contra Charlie e nem contra mim. Ele seria capaz? Claro que seria. Se ele foi capaz de fazer as coisas horríveis que Charlie disse, ele pode fazer qualquer coisa contra mim, ou pior, contra Charlie.
E é com isso que estou mais preocupada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Escrito pelo Destino.
RomanceMarylin Collins é uma mulher ruiva, com seus belos olhos verdes e seu corpo de dar inveja. Ela trabalha rm uma editora, o que sempre foi seu sonho, além de, um dia, publicar algum livro em uma editora famosa. Ela vive uma vida normal e monótona, sem...