Capítulo XI

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Akira Yamaguchi

O quarto para o qual me realocaram não é, nem de longe, tão confortável quanto o andar de amplas janelas onde me instalaram no primeiro dia.

Sigo o longo corredor até um banheiro onde faço a higiene vespertina básica. Tomo um banho e escovo os dentes, admirando a amplitude do lugar, tão diferente dos cubículos existentes em Tokyo.

O banheiro é composto por quatro chuveiros separados por biombos e duas cabines privadas com portas no fim do ambiente. Uma grande pia de mármore branco se estende paralelamente aos chuveiros, emoldurada por um grande espelho.

Enquanto visto o meu uniforme ridículo, Vladmir entra no banheiro e se dirige a um dos chuveiros, pegando um dos sacos que contém o uniforme, toalhas e produtos de higiene, os quais ficam empilhados em uma espécie de armário localizado embaixo da pia.

- Tudo bom, amigo? - disparo a ele, que me ignora e segue despindo as roupas pelo caminho.

Penteio meus cabelos de forma que fiquem com o centro alto. Passo uma pomada nos fios, alinhando-os com os dedos, e observo as laterais raspadas que começam a crescer.

- Nos vemos no refeitório, Vladmir? - dirijo a ele um olhar bastante divertido e confiante.

Ele murmura um "Tanto faz.", ou qualquer coisa parecida. Abro a porta e saio, dando de cara com dois dos guardas aleatórios que nos levam para cima e para baixo, como se fôssemos capazes, ou burros, de tentar fugir daquele lugar cercado de segurança.

Sigo o corredor até o saguão do elevador, escoltado por um guarda. Os dois vasos de palmeiras gigantes que ali se encontram são tão destoantes com o ambiente que acabam sendo a beleza existente.

Entro no elevador e vejo Malika vindo em minha direção, e impeço o fechamento das portas para que ela não precise esperar para descer.

- Boa tarde. - digo a ela, dando um largo sorriso. - Esses banhos pela tarde são revigorantes, né?

A garota apenas me olha e acena com a cabeça, me lembrando perfeitamente Aisha, no momento em que a encontrei escondida entre a cama e a parede de seu quarto.

- Malika. - sussurro. - Sei que não tenho o direito de perguntar, mas o que aconteceu entre você e Anippe?

Ela não responde, mas eu não preciso disso. No momento em que o fato é citado, eu vejo toda a cena passando em rajadas de lembranças por sua cabeça, e ela se põe a ponto de explodir. Vejo que das mãos dela pendem micro estalactites e fico impressionado.

- Cuidado com toda essa frieza. - digo passando a mão pelos cabelos. - Vai congelar seu coração.

Ela não tem tempo de responder, pois no momento que ela abre a boca, o toque do elevador soa e as portas se separam.

Nos dirigimos juntos para o refeitório, para degustar o que nos é servido todos os dias.

Na mesa só estão Anippe e Bernard. Me sento ao lado do garoto para tentar entender o motivo do problema iminente que existe entre nós. Pego uma xícara e me sirvo com chá que está na mesa. Olhando aquela mistura de massa e salada, sinto saudades das sopas maravilhosas que eu tomava no meu apartamento todas as noites.

- Como está o macarrão, príncipe? - dispara Anippe para mim, com sarcasmo em demasia. - Do seu agrado?

- O que a faz pensar que sou diferente de vocês?

- Tirando o fato de você ter roupas decentes e regalias? Acho que nada. - Bernard resmunga na cadeira do lado.

- Bom, eu não pedi nada a ninguém. Na verdade, eu pedi para me colocarem perto de Aisha e, consequentemente, de todos. Nós estamos aqui juntos, entende? - ele abaixa os olhos para o prato. - Eu não quero ser melhor que ninguém, Bernard.

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