Capítulo XVIII

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Anippe Mahlab

Já é noite. Olho no relógio: 18:30.

Meu coração se agita dentro do peito, como se estivesse na expectativa de algo grandioso.

Penteio os cabelos no enorme espelho do banheiro comunitário. O vai e vem de garotas não para: Sophia, Aisha e Malika também se aprontam para a reunião que o Sr. Miller convocou. Por um momento, me concentro nos uniformes de cada uma.

Aisha usa uma blusa simples com um casaco, e calça jeans com tênis. Sophia usa uma túnica acinturada, calça comprida e botas pretas de cano curto. Já a Malika veste uma camisa solta e uma calça de cintura alta, e calça botas de cano médio. Eu, com minha camisa de botões, saia de pregas, meia calça e botas. Tenho que parabenizar mentalmente a estilista da OCRV: os uniformes construídos em base azul e detalhes pretos são de primeira categoria.

Prendo meus cabelos em um rabo de cavalo alto, e passo um batom bordô nos lábios. Enquanto isso, observo Sophia se aproximar lentamente do espelho, um tanto receosa. Vejo em seu rosto pintado de sardas que ela está com vergonha de algo, então solto:

- Pode chegar perto, ruivinha. Eu não mordo não.

- Eu... eu sei. - ela murmura. Timidamente, ela põe alguns cosméticos na bancada.

- Que foi? Tá acuada só por que eu falei do seu rolo com o russo? - encaro-a, e sorrio quando seu rosto fica inteiramente vermelho. - Ei, não tenha vergonha. Não precisa. Não é nenhum crime.

Sophia sorri.

- Você está feliz. - continuo. - É o que importa.

Um instante de silêncio se segue. Volto a me maquiar, quando ela diz:

- Obrigada, Ani.

- Pelo quê?

- Pelas palavras.

Não respondo. Apenas pisco o olho para ela e dou um leve sorriso.

Alguém bate na porta.

- Aisha? Já acordei o Bernard. Posso entrar? Alguém indecente aí?

Meu sorriso se desfaz quando ouço a voz dele.

- Ah, não... - murmuro.

Sophia olha pelo espelho para o quarto, e me comunica:

- É o Akira.

- É, eu sei. - disparo, talvez rispidamente demais.

Seus olhos violetas em meio às mechas ruivas me encaram com curiosidade.

- O que está havendo entre vocês?

- Nada. Nem nunca haverá.

Ponho rapidamente minha maquiagem na necessarie, e vou para o quarto. Jogo a bolsinha em cima da cama, passo por Akira como se ele não estivesse ali e saio para o corredor.

Não, não quero ele perto de mim.

Não gosto de meio termo. Ou é, ou não é. E se nem ele sabe se sente algo por mim ou não, o jeito é matar o que quer que estivesse nascendo em meu coração, antes que criasse raízes.

Desço para o quarto andar sozinha, e entro no recinto identificado como sala de reuniões.

É uma sala pequena com um palco baixo, e apenas 12 cadeiras, arrumadas em fileiras de 3. Num canto da parede há um painel do tamanho de uma folha de papel, repleto de botões.

Apenas o Vladmir está aqui, então, me sento ao seu lado. Ele me olha esquisito desde que o beijei, como se tivesse medo que eu tivesse um ataque psicótico e o beijasse novamente. Então, permaneço calada e espero os outros chegarem.

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