Minha excelente vida

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São 6:00 da manha quando meu despertador começa a tocar. Eu, instintivamente, o desligo; há poucas coisas que eu odeio mais do que o toque do meu despertador. De certa forma isso me ajuda, me faz acordar.
Pulo da cama e vou até o banheiro. Tomo um banho rápido, escovo meus dentes e tento fazer o melhor que posso com meus cabelos que insistem em se fantasiar de vassoura todos os dias! -qual é, é novembro, o Halloween já passou!
Demoro cerca de 20 minutos olhando fixamente para o guarda-roupa a escolha de algo descentes para uma sexta feira. Finalmente, decidi usar um vestido florido e sapatilhas. Quando estou saindo do quarto lembro que estou no meio do mês de novembro em Nova York. Eu era acostumada com o tempo das estações do Brasil, está sendo meio difícil agora: fuso-orário, aulas novas, pessoas novas, cidade nova... E ainda tem o clima! Ótimo. Volto ao guarda-roupa e lá se vão mais 20 minutos para escolher uma simples calça jeans e um casaco estilo detetive- eu o odeio, mas é quente.
Na cozinha, encontro Joe. Eu estou em NY fazendo intercâmbio, então participo daqueles programas em que uma família bacana é associada da empresa de intercâmbio e te deixa ficar na casa deles até o fim do curso. É um saco!
Não que eu esteja reclamando nem nada: eles são muito legais, mas eu sinto falta de ter um lugarzinho só pra mim, onde eu não tenho que encontrar com o irmão mais velho da família cortando as unhas do pé na mesa da cozinha.
"Oi", ele diz, assim que me vê
"Bom dia, Joe. Poderia, por favor, não por seus pés num local onde comemos?!"
"Tudo bem, tudo bem. Parece que alguém já acordou de mal-humor, credo!"
"Não é mal-humor, só estou pedindo, porque isso realmente é muito nojento." Neste momento ele tira os pés de cima da mesa.
"Tudo bem, mandona." Ele sorri.
Passo por ele e pego o café já quase frio na cafeteria. É, a família Winston acorda muito cedo. Caramba, eu já acho a minha hora de acordar cedo, imagina acordar as 5 da manhã!
"Bom dia, mocinha!", ouço a voz de Anna, a mãe.
"Bom dia, Anna! Você parece muito melhor hoje.", observo. Anna andou doente semana passada, mas ao julgar por suas bochechas coradas e o familiar brilho nos seus olhos, constato que já deve estar melhorando.
"Ah, sim, querida, me sinto bem melhor. A que horas você volta da escola hoje?"
Faço faculdade na NYU e o ano letivo está quase no fim. Puxa, não parece que já estou realizando meu sonho a quase um semestre!
"Acho que por volta das 18:00.", respondo.
"Bem, amanhã é seu aniversário, então talvez eu tenha uma surpresinha para você...", ela diz, com um sorriso vitorioso.
No pouco - e ao mesmo tempo muito - tempo que fiquei com os Winston, aprendi a amar cada um deles. Anna, sempre alegre, carinhosa e com um humor invejável! Nada a abala, ela é uma grande inspiração. Rick, o pai, um tanto sério, porém igualmente gentil e atencioso. Os gêmeos, Jenny e Peter, que tem apenas 5 anos, são crianças bem agitadas, mas acho que são prodígios ou algo do tipo; seja o que for, também os amo, eles são divertidos e sempre sabem me por para cima. Ah, e tem o Joe, claro, o Mr. Babaca, como o chamo; o garoto é super irritante, mas admito que me ajuda muito, já que é 3 anos mais velho e já se formou. O cara pode ser chato, mas é inteligente.
"Não senhora, dona Anna. A senhora já faz demais por mim e eu nem tenho como retribuir."
"Deixa disso menina! Você sabe que é, praticamente membro da família."
"Tudo bem", digo com um sorrisinho. Confiro o relógio e vejo que são quase 7 horas. "Preciso ir, vou me atrasar.", me despeço com um beijo no rosto de Anna e a costumeira frase para Joe: "Até logo, Mr. Babaca", e ele faz uma continência.
Pego minha mochila, meu celular, e saio.

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