Brenda's POV
Acordo com dor de cabeça. Depois que Joe foi embora ontem, pensei muito sobre se fiz certo em perdoa-lo. É claro que ainda estou magoada, mas depois de tanto pensar, cheguei à conclusão de que não vale a pena acabar com tudo por uma coisa simples.
Me levanto, tomo um banho e coloco a primeira roupa que encontro, não ligando muito para a aparência. A única coisa que quero no momento é vê-lo.
Quando levo a mão a maçaneta da porta, lembro-me de Peter em um flash e meu sorriso de excitação desaparece. Ontem à noite foi incrível, o jeito como ele me compreendeu, como conversamos... e de repente me sinto culpada e dividida. Ao mesmo tempo que me sinto em pânico por não saber o que fazer, não saber quanto tempo ainda tenho até enfrentar meu destino, não saber o que me espera, como tenho que agir! Minha mente está prestes a entrar em colapso por excesso de informações. Tudo que eu queria era estar na faculdade, levando uma vida tão normal quanto possível, mas pelo menos segura.
Como um objeto dividido entre polos extremos, um lado de mim me diz para fugir, e outro, igualmente relevante, me diz que devo ficar e lutar. Que não é certo abandonar essa gente.
Deixando de lado o primeiro dos polos, mas ainda me sentindo bem menos animada do que quando acordei, finalmente abro a porta e desço para tomar café.
Na mesa encontra-se apenas Mary, com uma cara de quem caiu da cama.
"Bom dia." Digo, meio sem graça.
Ela levanta os olhos para mim e sorri.
"Ah, bom dia, Brenda! Estava esperando por você!", diz ela, animando-se
"Ah, é? Por que?"
"Hoje quero levar você para conhecer os habitantes. Você precisa estar ciente de pelo que e por quem está lutando. Creio que isso vá inspira-la."
Sorrio. A ideia de conhecer o resto do reino me agrada. A estadia até agora foi mesmo um tanto solitária e só então me dou conta de que, com tanta confusão em mente, esqueci de que ainda não havia visto um morador sequer.
"Que ótimo!" Digo a ela.
"Tome seu café querida, precisa estar bem alimentada."
O silêncio se instala por algum tempo, o único som é o mastigar dos pães e frutas.
Então outro pensamento se sobressai em mim: onde está Joe? Achei que ele estivesse querendo me ver também, mas pelo visto me enganei.
"Joe irá com a gente?", pergunto a Rainha a minha frente.
Um olhar muito estranho cruza seu semblante, mas logo desaparece, o que me faz refletir se na verdade não o imaginei.
"Ah, bem, não tenho visto ele desde ontem à noite, querida. Mas Peter vai nos acompanhar"
PETER! Não sei o que pensar e também não sei o que Joe vai pensar disso quando souber.
"Tudo bem então, acho que vou me arrumar. Licença.", digo um pouco rápido demais e subo as escadas de volta para o corredor.
Penso em acordar Joe, mas não sei em qual quarto ele está e também não quero causar mais uma discussão quando ele souber que Peter irá comigo, e não ele.
Sigo para o meu quarto e tento encontrar uma roupa legal. Que tipo de roupa diz algo como "oi, tudo bem? Estou aqui pra tentar salvar vocês de uma morte terrível mesmo não tendo experiência nenhuma nisso e tudo pode dar errado"?
Acabo optando por um vestido verde-água com detalhes dourados. Verde é a cor da esperança, certo?
Faço uma trança em meu cabelo, porque na verdade não sei o que fazer com ele.
Pego meu celular e mando uma mensagem para Peter:
"Então, quer dizer que vai ser meu acompanhante para visitar o povo?"
Ele responde em alguns minutos:
"Pode apostar, menina. Está preparada? :)"
"Não, mas eu tenho opção?"
"Na verdade, não! Te vejo mais tarde :p"
Deposito o celular em cima da mesa e agora não sei o que fazer. Isso é o que não gosto nesse lugar. Essa insegurança, essas faltas de certeza o tempo todo. Eu costumava ser decidida, mas aqui tenho que perguntar o que fazer a cada passo que dou!
Quando estou decidindo que não vou mais ser insegura e sair para explorar o castelo, alguém bate à porta.
"Com licença, senhorita, precisamos ir." Ouço a voz abafada de Harold pelo outro lado da porta.
"Já estou indo", grito em resposta
Dou uma última olhada no espelho, pego o celular e saio do quarto.
Mary já esta esperando na carruagem, ao lado de um Peter mal humorado que, presumo eu, havia acabado de chegar.
"Olá", falo quando entro na carruagem.
Vejo a expressão de Peter se suavizar quando ele responde o cumprimento.
Harold entra na veículo e partimos lentamente.
"Brenda vai gostar do povo, não é mesmo, Peter?" Pergunta Mary, na esperança de começar um assunto.
Seu filho parece um tanto desconfortável e não me sinto melhor quando ele diz:
"Ah... claro. Vai sim."
Ele está muito estranho. Não sei se sempre fica assim quando está perto da mãe, mas é esquisito vê-lo tão quieto.
Mais depressa do que eu gostaria, a carruagem para.
"Então é isso!", diz Mary "Podem ir crianças."
"Que? Eu achei que você iria também." Questiono.
"Bem, eu... quer dizer, eu não estou muito bem, acho melhor ficar aqui" ela tenta contornar a situação, mas fica claro que está escondendo algo.
Com um último olhar para ela, desço, com Peter logo atrás.
O que vejo é, pela falta de palavras maiores, triste. A paisagem é a mesma de todo canto nesse lugar: seca, cinzenta, danificada. Mas existem lojas, casas improvisadas que parecem ter sido destruídas e vestígios de que aquilo um dia foi um belo vilarejo.
E existe o povo. Trabalhando, andando, brincando, conversando... pessoas que são obrigadas a viver naquele estado.
"Peter... o que aconteceu aqui?", praticamente sussurro para ele."
"Como diz a profecia: 'mundo consumido em pragas'. Houveram terremotos, deslizamentos, tempestades de raios. Eles quase não tem o que comer, não podem plantar porque as plantações seriam destruídas dia sim, dia não."
"Como sua deixou que chegasse a esse ponto?", pergunto, me virando para ele enquanto caminhamos.
Ele revira os olhos e responde:
"Mary nunca se importou com ninguém além de si mesma. Incluindo eu. Ela só liga para se tudo está perfeito no castelo e o resto que se exploda."
"Não pode ser. Sua mãe parece uma pessoa gentil, ela não faria isso.", digo.
Ele para e me observa como se estivesse me escaneando com aqueles olhos escuros.
"Brenda, preciso te dizer algo...", suas palavras são interrompidas por uma menininha loira que se aproxima de mim, curiosa.
"Oi!", falo, me abaixando para ficar do seu tamanho.
"Quem é você? Nunca vi você aqui antes", ela diz, sem jeito.
Não sei bem como deveria responder.
"Bem, eu sou nova aqui. Qual o seu nome?"
"Lucy"
"O meu é Brenda. Por que não me mostra onde vive, Lucy?" Sugiro, sorrindo para ela.
"Tudo bem, vou te levar pra conhecer os meus pais. Eles têm passado muito tempo em casa agora porque nosso restaurante foi destruído semana passada." Ela vai falando, enquanto caminhamos, eu segurando sua mão pequena e Peter ao meu lado. "Minha mãe tem chorado muito também, ela fala sobre algo que vai acontecer. Eu não entendo muito bem, sabe, mas digo pra ela que vai dar tudo certo."
Não consigo responder, apenas olho para Peter, que não demonstra expressão alguma.
Transcorridos mais ou menos 200 metros, chegamos a um chalé que outrora fora bonito, mas agora estava em escombros.
Lucy me puxa para dentro da casa, onde os moveis bonitos são mais um sinal de que tudo está errado.
Uma mulher baixinha e gordinha, com os cabelos iguais aos de Lucy, aparece no cômodo.
"Lucy, quem são esses?" Ela pergunta um tanto assustada.
"Não sei, mamãe, os encontrei perto da lojinha de doces", ela diz com simplicidade.
"Você trouxe estranhos para dentro de casa?! Lucy, não aprendeu nada que eu e seus pais ensinamos?!" A mulher diz, aumentando a voz.
"Desculpa entrar assim, senhora, mas só queríamos conversar. Não é culpa da garota." Esclarece Peter.
"Espere aí, estou reconhecendo você! É aquele garoto, filho da rainha! Brad, venha cá!"
Neste momento, um homem alto e magro, de cabelos castanhos se junta ao cômodo.
"O que foi, Molly?"
"O filho da rainha está aqui! Acho que vieram ajudar!"
O homem nos olha, exasperado.
"Sejam bem vindos, entrem, entrem, venham para a sala."
Nós os seguimos, Lucy ainda segurando minha mão.
"Sentem-se, por favor" pede Molly.
"Lucy, o que acha de ir brincar lá no seu quarto?" O homem chamado Brad indaga.
"Tudo bem." Lucy sai da sala saltitante. Nos sentamos.
"Então" os dois se viram para nós com expectativa "o que os traz aqui?"
Olho para Peter, mas ele não demonstra sinal de querer falar.
"Bom, meu nome é Brenda." Ao som do meu nome, os dois soltam exclamações exageradas "suponho que conheçam a profecia, então."
"Todos aqui conhecem, senhorita! Estivemos esperando você por um longo tempo!" Diz Molly.
"É, e eu quis conhecê-los, saber um pouco mais. Quero dizer que vou lutar, sim, para protegê-los. Mas preciso da sua ajuda."
De repente eu tinha uma ideia, de repente, eu não estava mais sozinha.
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Meu lugar no mundo
FantasiaBrenda é uma garota de 17 anos que sempre sonhou morar em Nova York, fazer faculdade, e seguir o rumo à sua vida completamente como sempre planejara. Porém, mudanças inesperadas alteram esse objetivo e Brenda se vê em um lugar onde nunca desejou e n...