"Pra onde ele foi?", pergunta Joe dando uma volta completa em torno de si mesmo.
"Eu não sei. O que é mais estranho é que eu já vi esse homem. Ele estava me encarando em frente à Broadway ontem... Quer dizer, hoje. Eu não sei."
"Como assim? Você falou com ele? O que ele queria?"
"Não, eu ia falar, mas Jake apareceu bem na hora.", ao dizer isso entro em pânico e me lembro de Jake. "Joe, você sabe onde o Jake possa estar?"
"Brenda, eu não sei nem onde eu estou! Mas é claro, você só se preocupa com ele! Não deveria!", ele aumenta o tom de voz.
"Do que você está falando?, digo, no mesmo tom que ele.
"Que ele não é quem você pensa que é!"
"Você nem o conhece! Não pode sair por aí julgando as pessoas!"
"Eu não julgo sem conhecer. Você, pelo contrário, conhece o cara a seis meses e já se acha importante pra ele!", ele quase grita.
"É claro que eu sou importante! Nós somos melhores amigos! Mas não espero que você entenda isso, porque não têm amigos! Pelo simples fato de ser um babaca com todo mundo!"
"Melhores amigos o caralho! Ele só quer te comer!"
Estou com muita raiva, quero quebrar a cara de Joe pelo que ele está falando. Mas o meu problema é que quando fico com raiva eu começo a chorar feito uma estúpida! Meus olhos se enchem de lágrimas: "Como você pode falar algo assim? Eu te odeio, você é o cara mais idiota, imbecil e estúpido do mundo inteiro, Joe Winston! Eu..." Sou interrompida por um rugido impossivelmente alto de rasgar os tímpanos. Em menos de 3 segundos, uma criatura enorme chega voado e aterrisa a 10 metros de nós. Ondas de terror são enviadas instantaneamente para o meu corpo todo. É a imagem mais horrenda que já vi em toda a minha vida. O animal/criatura possui um rosto humano, porém deformado. Um olho mais para baixo do que o outro, apenas metade da boca e o nariz virado para o lado, do jeito que eu geralmente desenho. No fim dos braços - recobertos por escamas - há garras de ferro capazes de estraçalhar alguém em segundos. Pernas que lhe permitem correr, mas também uma cauda que lhe permite nadar. Sem contar as asas, é claro, com um tipo de esporas nas pontas.
Fecho os olhos para me convencer de que o que vejo é apenas ilusão, mas quando os abro a criatura horrenda ainda está lá. Não consigo evitar e solto um grito agudo tão forte que faz meus pulmões arderem. Estou petrificada, mas então Joe pega minha mão e me puxa para corremos dali. A criatura não hesita antes de começar a nos perseguir. Não tive a oportunidade antes de perceber a sua pior parte, mas agora ela se revelou: ela soltava raios pela boca! Como uma espécie de dragão, mas com raios ao invés de fogo.
Grito outra vez quando um raio passa a milímetros da minha perna e Joe me puxa com mais força. Não tem nada a quilômetros à frente! Não tem onde nos escondermos ou nos refugiarmos! Não podemos ficar correndo o tempo todo, já estou cansando.
"Joe, nós precisamos de um plano!" Grito, ao olhar para trás e ver a criatura cada vez mais perto.
"Você tem algum em mente? Estou aceitando.", ele grita em resposta. Olho para os lados procurando algo. Nada.
"Infelizmente não.", em um momento de estupidez , pego uma pedra e jogo na besta. É óbvio que não adianta nada e só enfurece mais ainda o animal, que começa a disparar raios em todas as direções e aumenta os rugidos. Por que diabos eu fiz isso???
"Que brilhante ideia, pirralha!", replicou Joe.
"Me desculpe, mas não sei o que fazer!" Enquanto corro, giro a cabeça procurando por um lugar para se esconder, ou alguma coisa para deter a fera. Quando de repente, da terra sem nada, vejo surgir uma espada incrivelmente brilhante. Olho para Joe, que está ofegante. "Vai, eu te dou cobertura!", ele grita, e então recomeça a correr, mas para o lado oposto, sendo seguido pela Fera. Corro o mais rápido que posso em direção a espada, meus pulmões ardem, minhas pernas imploram para parar, mas não posso agora, estou muito perto. Quando chego até a espada, ela some, e se materializa a cerca de 10 metros de distância para a esquerda. Corro novamente para alcançá-la, mas o processo se repete. Estou muito devagar. Curvo-me, respirando pesadamente algumas vezes para acumular forças.
"Anda logo, Brenda!", Joe grita, e sou invadida por uma onda de pânico quando vejo as garras da Fera arranhado suas costas nuas. Isso é tudo o que preciso para me recompor. Junto todas as forças que ainda restam dentro de mim e corro. Corro como se minha vida dependesse disso - porque realmente depende. Concentro meu olhar na espada, implorando mentalmente para que ela não se mova. Fui rápida o bastante dessa vez para agarrá-la antes que escapulisse de novo. Ao tocar a espada, ela se ilumina ainda mais, e algo dentro de mim se transforma. Sinto-me forte e destemida. Volto a correr na direção da Fera, que está no encalço de Joe. Em menos de 20 segundos os alçando. Paro a frente da criatura, mas não sinto dela o mesmo medo que sentia antes. Eu sabia o que teria de fazer, eu não tinha escolha. Precisava salvar a minha vida e a de Joe. Mesmo assim, hesito diante da ideia de tirar a vida de um ser.
"Não pense demais! É agora ou nunca!", grita Joe, parecendo que juntou suas últimas forças restantes para proferir aquelas palavras. Olho nos olhos da Fera e sinto-me devastada. Seu olhar é raivoso. Não como o de um cão que morde alguém, mas como o de um assassino que mata criancinhas a sangue frio. A besta me encara como se me conhecesse e me abominasse. O medo me invade outra vez. Junto todas as forças e a coragem que preciso, enquanto desfiro um golpe certeiro no peito da Fera. Ela grita. Um grito longo, agonizante e ensurdecedor. Depois cai de costas, fazendo a poeira do solo pairar sobre o ar.
Observo-a por alguns instantes e corro até Joe.
"Ai meu Deus, você está bem?", pergunto.
"Eu não acredito que você conseguiu matar aquilo, pirralha."
"Não me chame assim, ou acabo com você também.", rio para desmanchar a tensão.
"Você é incrível.", ele diz, com um brilho nos olhos e um sorriso encantador.
"Eu sei. Agora, vamos." Ajudo-o a se levantar e apoio um de seus braços no meu ombro. Estamos sujos e suados, parecendo dois trapos imundos, caminhando trôpegos por um cenário pós-apocalíptico ao anoitecer. Como viemos parar numa situação dessas?! Meu sangue ainda está cheio de adrenalina e ainda estou com aquela espada na mão. Ela me faz sentir invencível. Mas mesmo assim, cada célula do meu ser está mais cansada do que eu já pensei que pudesse ficar. Está quase totalmente escuro agora, mas ao longe, avisto uma silhueta. Estreito os olhos para poder enxergar melhor. É o mesmo homem da Broadway e de hoje mais cedo.
Pisco várias vezes, desconfiando que não seja real. Mas dessa vez, ele não desaparece.
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Meu lugar no mundo
FantasyBrenda é uma garota de 17 anos que sempre sonhou morar em Nova York, fazer faculdade, e seguir o rumo à sua vida completamente como sempre planejara. Porém, mudanças inesperadas alteram esse objetivo e Brenda se vê em um lugar onde nunca desejou e n...