O porquê de eu ter vindo

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Normalmente, eu iria dirigindo para a faculdade, mas meu carro está no conserto. Odeio pegar ônibus, não por questão de frescuras ou algo do tipo, mas porque eu realmente não sei. Se no Brasil já era difícil, aqui é muito pior. NY é uma cidade imensa, com tantos nomes, bairros, ruas... Então eu simplesmente vou andando. Pelo menos assim eu posso decorar o caminho e pedir informação quando necessário.
Desde que me conheço por gente meu sonho sempre foi vir pra cá. Eu não sei exatamente por que, mas em todas as fotos, filmes e programas que retratavam essa cidade, eu sentia como se aquele lugar me preenchesse, como se eu pertencesse a ele. Diziam que eu não conseguiria, que viver em outro país, com uma língua diferente e tudo mais séria quase impossível. Mas o meu amor pela cidade e minha curiosidade me ajudaram a lutar por isso. Estudei muito, economizei muito, e agora, aqui estou eu. Andando pelas ruas de Manhattan, observando o que quis observar a minha vida toda.
Algo nesses prédios enormes, no jeito com que as pessoas andam e falam, parecendo ocupadas e importantes, me passa liberdade, independência. Eu não sairia deste lugar por nada. Agora que finalmente estou aqui, percebo mais do que nunca que esse é o meu lugar no mundo.
Fazem quase 6 meses que estou aqui e as coisas ainda parecem... Mágicas! Eu adoro andar por essas ruas movimentadas, adoro os táxis amarelos, adoro o inglês, adoro os cinemas, os teatros, e acima de tudo, adoro como sinto que poderia fazer qualquer coisa que quisesse neste lugar.
Embora eu seja muito centrada no meu objetivo. Eu estou no primeiro ano da faculdade, estudo literatura. Meus pais também discutiram muito esse tema comigo, disseram que talvez eu devesse cursar algo que renderia mais, algo mais concreto. Mas, caramba, eu prefiro não fazer nada do que pagar uma faculdade e passar a vida toda fazendo algo que não gosto.
Sempre gostei de escrever, é libertador. Só que há dias que estou inspirada para escrever um livro, mas há outros em que mal consigo elaborar uma mensagem de texto.
Aperto o passo para não me atrasar e passo na Starbucks para pegar um café. Dobro a esquina, distraída, atualizando aplicativos do meu iPhone, quando esbarro em alguém e derrubo todo o meu café. Droga! Era só o que me faltava! Me sinto incrivelmente aliviada ao olhar para cima e ver que é Jake, meu melhor amigo.
"Ei, garotinha, olha por onde anda!", ele me provoca, com um sorriso.
"Ai, Jake, estou tão atordoada que nem vi que era você!"
"Poderia pelo menos pedir desculpas, né?"
Nesse momento, percebo que ele está usando uma camiseta branca, ou melhor, estava, pois agora ela está com uma mancha marrom terrível!
"A meu Deus, me desculpa! Que estrago. O que você vai fazer? Já estamos atrasados."
"Calma, Brenda. Eu tenho outra camiseta na mochila, chegando no campus eu troco. Você anda bem agitada."
"Nem me fale. Prova atrás de prova, semestre acabando, tenho que procurar um emprego..."
Ele me segura pelos ombros "Ei, calma. Vai dar tudo certo. Caramba, você planeja demais!"
"É incontrolável!", respondo, mordendo o lábio.
Ele sorri e assente. Seguimos em silêncio o curto caminho que falta até o campus.
Como disse que faria, ele troca de camiseta e seguimos para a aula. O dia passa rápido e divertido, com aulas interessantes. Jake e eu saímos juntos da sala. Já faz um tempo que venho percebendo as pessoas nos olhando e fico me perguntando o motivo. Acho que não deveria me preocupar, provavelmente olham para Jake, não para mim, porque ele é realmente lindo. Ele é alto, é musculoso, mas nada exagerado, tem cabelos loiros com aquele corte de cabelo que diz "sou um modelo americano", olhos azuis bem claros e um sorriso que já fez o coração de muitas garotas se derreterem. Ele poderia muito bem estrelar um filme, mas resolveu investir em biologia. Bom para ele, ele é o pacote bonito e o conteúdo agradável. Ele é perfeito. Mas nunca tivemos nada além de amizade, e nem o vejo de jeito nenhum diferente disso.
"Então, Bre, como estava à sua aula incrivelmente entediante?", ele pergunta, momentos depois, tirando-me do meu debate comigo mesma de como os olhos dele podiam ser tão claros. Pareciam descoloridos.
"Ei, não é entediante. É só... Para pessoas inteligentes." Respondo, lançando-lhe um sorriso orgulhoso.
Ele ri "Que seja. Está livre agora? Vamos comer alguma coisa."
"Tudo bem."
O sigo até a nossa lanchonete favorita, enquanto repenso que estou esquecendo de alguma coisa...

Algum tempo depois, estou sentada à frente do meu melhor amigo, ambos devorando um hambúrguer gigante. Além do silêncio confortável entre nós, só são ouvidos nossos "hummm" de satisfação pelo hambúrguer.
"Nossa, isso é tão bom!", comento com Jake, que balança a cabeça concordando e de repente tem um sobressalto. Larga o lanche e praticamente grita:
"Brenda! Amanhã é seu aniversário!"
"É, eu sei, isso acontece uma vez por ano, então não precisa ficar tão empolgado..." Como se uma lâmpada se acendesse na minha cabeça, pulo da cadeira depressa quando finalmente lembro o que estava esquecendo: a festa que Anna ia preparar para mim! Confiro meu relógio. SÃO 7:30! Meu Deus, Anna esperou por mim 1 hora e meia! "Preciso ir! Te ligo mais tarde!"
"Ta bom, maluquinha! Até mais tarde!", ele praticamente grita a última parte, pois já estou saindo pela porta do estabelecimento.
Enquanto saio correndo pela rua, tento me lembrar o caminho de volta e bato em mim mesma mentalmente por ter esquecido de algo tão importante.

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