Passei o restante do dia bastante nervoso sobre minha decisão de apresentar Rick e Dave um ao outro. Talvez tivesse sido um tanto imprudente, mas já estava feito. O que me restava era torcer imensamente para que isso desse certo e principalmente, para que Dave cooperasse. Eu simplesmente não sabia como imaginar a reação dele a esse encontro.
Felizmente, ou não; o dia passou bem rápido. Eu sei que é totalmente irracional dizer que o dia demorou a passar, ou passou depressa; considerando que todos os dias possuem o mesmo número de horas. Mas dependendo das situações, era essa a impressão que eu tinha.
Logo que o sol se pôs, fechei a barbearia e fui para dentro de casa. Tentei organizar tudo, limpar um pouco – a casa estava mesmo precisando disso – fiz o que pude às pressas já que eles poderiam chegar a qualquer momento. Ainda havia um pouco do vinho bom na garrafa, era um começo. Preparei carne para o jantar, era o melhor que um homem de dezenove anos sozinho em casa podia fazer.
Tomei um banho e coloquei uma roupa decente. Essa ocasião era muito importante, então queria tudo perfeito. Isso não poderia dar errado. Uma falha entre meu melhor amigo e meu namorado demônio não seria nada boa. Passado algum tempo depois que eu havia me vestido, Rick entrou. Trouxe consigo uma garrafa lacrada de Rum. A combinação de Rick e bebidas mais fortes juntos não era nada boa. Mas deixei passar pela sua simples boa vontade.
Nos sentamos à mesa de jantar; Rick se serviu do Rum e eu preferi ficar sóbrio por enquanto. Seria meu trabalho impedir que ele passasse da conta. Minutos depois de conversa jogada fora, as batidas lentas e rítmicas na porta denunciavam a presença de Dave. Que bom que ele bateu na porta ao invés de aparecer em forma de fumaça infernal no meio da minha sala – pensei.
Abri a porta e lá estava ele. Perfeito e arrasador como sempre. Não tinha como não ficar de queixo caído olhando pra ele. A aparência completamente impecável e o charme que emanava dele me tiravam do ar. Logo ele entrou, sério e concentrado. Quando fechei a porta e me virei, ele me puxou para um beijo rápido. No que Rick ainda estava de costas e não o viu. Eu já sabia que minha mensagem havia sido recebida por ele; já que havia trago consigo outra garrafa de vinho e pães frescos. Olhei em seus olhos e não precisei pedir mentalmente sua cooperação, ele entendeu o recado. Apenas assentiu com a cabeça e seguimos em direção à mesa de jantar.
O passo número dois daquele plano estava começando. Quando chegamos à mesa, Rick se levantou para cumprimentar Dave. Sua face denunciava a mesma sensação que tive quando o vi pela primeira vez – e ainda tinha em certos momentos – a sensação de ver alguém tão perfeito que dava vontade de toca-lo, apenas para ter certeza que era real. Dave por outro lado foi completamente natural. Nunca conheci alguém com modos mais refinados que os dele. Suas palavras perfeitamente pronunciadas eram um deleite aos ouvidos.
Servi o jantar. Na mesa, tínhamos bebida suficiente para um grupo grande. Pedi a alguma grande força oculta – que não fosse o Dave – para que Rick não ficasse bêbado. Digamos que ele ficava bastante exaltado, e às vezes falava o que não devia. A carne que preparei estava com um gosto aceitável, estávamos comendo, mas Dave não havia tocado o prato. Eu havia me esquecido de um grande detalhe como o fato de que Dave não alimentava como seres humanos e logo me senti constrangido por uma falha tão grande. Olhei em sua direção, e encontrei seus olhos focados em mim. Eu não sabia o que dizer, o que pensar. Então ele sorriu daquela forma maliciosa, serviu do seu próprio vinho em um dos copos e simplesmente começou a comer como todos nós. "Eu quis dizer que não precisava comer. Não que não podia" – falou ele em minha mente. Deixei escapar um sorriso aliviado. O passo dois foi um sucesso.
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Atração Infernal
General FictionEstou apaixonado por um demônio, e por isso estou condenado ao inferno. Receberei o castigo por nutrir um sentimento tão puro por alguém que joga no lado negro do tabuleiro. Então antes que eu seja levado, vou lhes contar como aquele anjo obscuro en...