Atração Infernal

Capítulo 15: Incendiário

Tenho de ser honesto, não foi nada fácil dormir naquela noite. Eu já estava acostumado a receber meu amante demoníaco todas as noites. Era pelo que eu esperava ansiosamente todos os dias. Estar nos fortes braços de Dave, fazia com que qualquer coisa ruim que acontece durante o dia desaparecesse da mesma forma que a fumaça infernal liberada na chegada de Dave também desaparecia. A cama parecia não estar tão acolhedora; o quarto parecia hostil, e a solidão ali dentro me fazia questionar se Dave havia se ofendido pelo favor que eu havia pedido. Ou por tê-lo invocado durante o dia. De qualquer forma eu não sabia, então gradativamente me deixei cair no sono. Ele não viria mais naquela noite.

Estava frio e escuro. O vento soprava forte aquelas árvores espalhando folhas e poeira ao meu redor dificultando minha visão. A terra estava seca, meus pés doíam e eu não conseguia saber onde estava. Adentrei naquela escuridão na noite profunda. Não havia estrelas nem lua e em alguns trechos não havia céu, já que as altas árvores bloqueavam minha visão. Então, bem adiante; pude ver um clarão. Estava distante e chegava a mim como uma visão desfocada de uma luz opaca. Eu não sabia para onde ir, então segui aquela luz. Em um momento eu estava longe, e no momento seguinte eu estava perto. Estava lá. A cabana na floresta estava em chamas enquanto homens observavam tão friamente. De repente, o som dos gritos chegou a mim. Gritos de agonia, pavor. Porque não fazem nada? Eu me perguntei. Logo percebi que eu não podia interagir, minhas mãos atravessavam seus corpos. Eu era um fantasma ali. Ou talvez eles fossem. Relutantemente corri até a cabana, ou ao que ainda estava sendo consumido pelo fogo. Lá dentro estava uma mulher também em chamas, e diferente dos outros ela podia me ver. Seu olhar de medo logo encontrou o meu, nesse momento parecia que ela não sentia mais dor. Sua expressão tornou-se terna em minha direção, e em minha mente ela disse: Confie nele Jefferson.

Acordei suado e desnorteado. Meu coração batia rápido dando-me a sensação de falta de ar. Era um sonho, mas parecia bem mais que isso. Aquela cabana, aquela mulher... Ela era minha mãe, eu não pude conhecê-la, mas no meu subconsciente eu sabia disso. Suas últimas palavras ainda ressoavam bem lá no fundo da minha memória. "Confie nele..." Eu gostaria de ter entendido naquele momento, mas só fui encontrar sentido nessas palavras mais a diante.

Levantei-me um pouco confuso, mas não queria deixar que esse sonho tomasse meu pensamento. Talvez fosse mesmo só um sonho. Também não havia sinal de Dave ali, o que já era esperado considerando que o sol brilhava do lado de fora. Então me lembrei do mais importante; naquela mesma noite a cigana capturada seria queimada. Dave havia desaparecido, e eu não iria invoca-lo outra vez. Estava realmente determinado a salvar aquela vida, então fui até a pessoa que apoiava e participava de minhas loucuras.

Me vesti e fui até a casa de Rick, era bem cedo e tive de atirar pedras em sua janela até que ele despertasse. Então, quando ele apareceu sonolento e irritado por ter sido acordado, fiz sinal para que ele me encontrasse no estábulo. Ninguém poderia ao menos imaginar o que eu estava planejando. Minutos depois ele apareceu ainda esfregando os olhos e bastante irritado. Ele não era acostumado à rotina de acordar junto com o sol como eu era. Ele não precisava disso.

_Jefferson Marshall, eu espero para seu próprio bem que você tenha uma explicação extremamente razoável para me acordar a essa hora.

_Será que você estaria interessado em arrumar confusão?

_Não. Não mesmo. Mas a título de curiosidade, em que tipo de encrenca suicida você quer me incluir agora?

_Quero que me ajude a libertar uma prisioneira.

_O QUE? Você ficou louco Jeff? Vá dormir, também farei o mesmo.

_Espera! Rick, só você pode me ajudar agora! Lembra-se daquela noite em que cheguei aqui assustado? A cigana que leu minha mão? É dela que isso se trata.