Atração Infernal

Capítulo 3: Revelações de Rick

Não consegui dormir direito, e quando acordei ainda não havia amanhecido. Fiquei apenas ali, deitado, pensando em todos os acontecimentos da noite anterior. Eu sabia que teria muitos problemas pela frente, mas de certa forma; bem lá no fundo, eu não conseguia deixar de me sentir orgulhoso por ter finalmente tido coragem para expor meu ponto de vista, enfrentando Walter e meu pai.

Já fazia bastante tempo que eu vinha carregando todo o fardo sozinho, eu precisava de ajuda certo? Então talvez estivesse faltando atitude de minha parte de me permitir ser ajudado. Rick era meu melhor amigo, na verdade acho que era o único. Era só um ano mais novo que eu, e certamente mais cedo ou mais tarde, seria forçado a se casar também, ou não. Ele era um garoto atlético de pele clara, cabelos muito escuros e quanto aos olhos, eu tinha dúvidas sobre serem azuis ou verdes. Ou uma mistura das duas cores. Nos conhecemos fazendo bagunça no último banco da igreja quando éramos crianças, e desde então mantínhamos uma sólida amizade. Chegara a hora de compartilhar com ele meus problemas e meu segredo. E se fosse mesmo meu amigo, ficaria do meu lado.

Meu pai estava incomunicável, claramente me evitando; mas em determinado momento do dia, o fiz saber que iria visitar Rick naquela noite. E ele, ou não me ouviu, ou fingiu não ouvir. Mas sinceramente eu não esperava gentileza dele depois do que fiz. A família de Rick morava próxima à igreja. Os Fordson eram famosos por serem descendentes dos fundadores do condado, e além de serem importantes, eram por demais religiosos.

O caminho durante a noite parecia bem diferente do dia, como se até as ruas mudassem de lugar. Não haviam muitas pessoas nas ruas, considerando que se recolhiam cedo, e só se ouvia de longe cães latindo em algum lugar. A igreja parecia bem mais assustadora que durante o dia também; suas torres pontiagudas dirigidas à escuridão do céu, a pintura degradada pelo tempo e aquela solene cruz, davam um aspecto fantasmagórico ao lugar. Mas não havia o que temer, era apenas fruto da minha mente preocupada. Já tiveram a sensação de estar sendo seguidos? Estava acontecendo comigo naquele momento.

Já havia passado pela igreja, e seguia um pouco inseguro pela estreita rua, sempre olhando por cima dos ombros; passando por um poço, e depois por um beco, quando alguém chamou minha atenção. Uma mulher apareceu bem ali em minha frente, e eu nunca soube de onde ela teria surgido. Pelos seus trajes, longos cabelos metade trançada e metade soltos, grandes brincos em formato de argolas e um colar que naquele momento eu não sabia, mas era um pentagrama; eu diria que era uma cigana. Mas o que essa mulher estaria fazendo por ali? Eram tempos de ignorância aqueles, se fosse pega, seria julgada e condenada por prática de bruxaria. Mesmo que não fosse cigana. Povos pagãos também não eram bem vistos, já que viviam de seu jeito próprio e não eram comandados pelas leis da igreja.

A estranha mulher se aproximou de mim, à medida que eu me afastei de costas. Um passo à frente dado por ela, e um para trás dado por mim. "Não tenha medo de mim, não desejo seu mal"- ela disse. Permiti que se aproximasse, e ao estar diante de mim, pegou minha mão. Tinha longos cabelos negros presos com um lenço da mesma cor sobre a cabeça. O que mais chamava atenção em suas feições, eram os olhos verde musgo, não havia muitas pessoas com olhos daquela cor. Eu por exemplo, nunca vira antes. Ela apalpava e tentava virá-la em todas as direções possíveis; e depois de alguns instantes com um olhar nebuloso e enigmático ela deu seu parecer.

_Você está destinado a algo que ninguém viveu, e nem viverá. Você tem pedido por ajuda, e será atendido; porém cuidado! Seus caminhos serão tomados pelas sombras, mas você será liberto por elas. Você viverá um amor que ninguém viveu e será consumido por ele. Terá uma vida longa, mais longa do que imagina, mas um dia será tomado pelo cansaço e irá clamar para que a morte o leve. Ainda este ano você...