Não foi fácil tentar retomar a antiga rotina depois de tudo o que aconteceu nos últimos dias. Dias atrás estávamos juntos; meu pai e eu abrindo aquela mesma porta para iniciar mais um dia de trabalho. E agora, tudo o que eu tinha era sua lembrança. A barbearia estava uma bagunça. Resultado do serviço de busca feito pela milícia para encontrar o maldito anel de família daquele porco. Lembrei-me disso com uma boa carga pessoal de ódio. "Queria que Dave estivesse aqui... Ele poderia me ajudar." Pensei quase sem perceber. Imediatamente me desfiz daquela ideia. Precisava parar de pensar tanto nele, precisa tentar não o querer perto de mim o tempo todo. Eu poderia ficar louco por isso.
Não levou muito tempo, e logo tudo estava no lugar. Do jeito que meu pai gostava. Então, com um pouco de receio abri a porta e esperei. "Sem medos" – como Dave me disse. Eu podia ver as pessoas que passavam olhando em minha direção e comentando coisas uns com os outros. A princípio eu disse pra mim mesmo que não deixaria que isso me incomodasse; mas depois de um tempo, comecei a perder a paciência. Depois de muito tempo não havia entrado ninguém ali. Foi loucura de minha parte esperar que seria a mesma coisa de antes, então quando me levantei para fechar a porta, Rick entrou quase passando por cima de mim.
_Jeff, eu soube do que aconteceu! A vila inteira está comentando, e... Desculpe.
Rick me abraçou, eu senti falta daquele gesto sincero.
_Por que não me avisou? Eu poderia ter ajudado em algo!
_Não havia mais nada a ser feito Rick. Nada...
Todos os acontecimentos recentes estavam rondando minha mente como fantasmas, eu precisava contar para Henrique. Sim, as coisas estavam sérias demais para abreviar nomes. Fechei a porta e tranquei por dentro. Hora de mais revelações, não seria nada prudente deixar qualquer pessoa ouvir o eu tinha pra contar a Rick.
_Henrique, sente-se. Precisamos conversar.
_Henrique? Se você disse meu nome todo, então é assunto de vida ou morte. Desculpe o trocadilho. – Disse ele ficando sem graça.
_Meu pai se matou por culpa pelo que fez à vida da minha mãe, e também pelo que tentou fazer com a minha... Ele deixou uma carta. Se desculpando, e pedindo que eu fosse feliz como ele nunca foi. Ele me deu a benção para amar quem eu quiser. Mas a que preço? Sabe Rick, estou me sentindo um pouco culpado por isso.
_Não diga isso Jefferson! Você mesmo acaba de dizer que foi a culpa pelo que ele fez à sua mãe que o levou a isso. Olhe pra mim – disse ele pegando meu rosto e o virando em direção ao dele – isso não é sua culpa!
Inevitavelmente aquele gesto trouxe Dave de volta ao meu pensamento de maneira tão forte que senti o calor dele em mim.
_Isso não é tudo, tem outra coisa que preciso contar. Rick, você precisa jurar que não contará nada a ninguém. Nem a Jonas, pelo menos por enquanto.
_Santo Deus! O que foi que você fez dessa vez?
_Prometa!
_Tudo bem, eu prometo. – Disse levantando a mão direita.
_Eu... Eu conheci uma pessoa.
_Ah, nossa... Não era o que eu esperava ouvir. Continue.
_Na verdade eu ainda não sei se eu o encontrei, ou ele me encontrou. Ainda estou confuso a respeito dele.
_E quem é o felizardo? Eu conheço?
_Certamente não. O mais estranho é que eu nunca o vi por aqui. Ora, você sabe o que eu quero dizer. Nós crescemos nessa vila, não há uma pessoa aqui que a gente não conheça. Ele não se parece com ninguém... Com nada que eu já tenha visto.
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Atração Infernal
Ficción GeneralEstou apaixonado por um demônio, e por isso estou condenado ao inferno. Receberei o castigo por nutrir um sentimento tão puro por alguém que joga no lado negro do tabuleiro. Então antes que eu seja levado, vou lhes contar como aquele anjo obscuro en...