Atração Infernal

Capítulo 18: Ameaçados

A noite passou e logo veio a manhã. Acordei com os raios de sol que entravam pelas frestas da janela e refletiam em meu rosto. Em questão de segundos as cenas da noite passada tomaram meus pensamentos; mesmo lembrando de tudo com certa vergonha de mim mesmo, um sorriso se formou em meus lábios instantaneamente quando me virei de lado na cama e vi Dave ao meu lado. Seus olhos estavam fechados, mas eu sabia que ele não dormia. Sem se mover, e ainda de olhos fechados ele também sorriu. Aquele sorriso diabólico e malicioso que puxava apenas pra um canto da boca – diga-se de passagem, o meu favorito – fazia meu coração disparar como se eu estivesse em uma corrida, sem nunca sair do lugar. Aquele maldito sorriso que derrubava todas as minhas defesas e fazia de mim o homem mais imprudente da Terra. Aquele sorriso pelo qual eu havia me apaixonado perdidamente, da mesma forma como uma pessoa se atira de um penhasco sem ao menos olhar pra baixo. Sem chance de retorno a segurança e firmeza do chão.

_ No que você está pensando? - Ele me perguntou, ainda imóvel.

_ Acho que eu não preciso dizer. - Falei, ainda sem conseguir achar as palavras certas. Se é que elas existiam.

_ Você se envergonha? Porque eu não. - Dave falou, dessa vez se virando pra mim com os olhos abertos como dois oceanos, capturando minha alma para si.

_ Obviamente nada nesse mundo poderia lhe causar vergonha. Você é um demônio! É profano, devasso, não tem nenhum pudor e...

_ E você adora – ele falou me beijando de repente.

É claro que eu não tive coragem de negar. Mentir para Dave era mentir pra mim mesmo; a diferença que às vezes eu mesmo podia acreditar nas minhas próprias mentiras, ele não. Ele era capaz de olhar através de mim, nos recantos mais profundos e obscuros da minha alma. Sabia o que eu queria, quando queria e porque queria mesmo quando nem eu mesmo sabia. Ao mesmo tempo que nossa conexão era a base na qual eu me apoiava naqueles tempos difíceis, ela não deixava de me fazer sentir vulnerável. Mas sabe de uma coisa? Eu realmente amava cada segundo aquilo. Desde a confiança, ternura e cumplicidade, à forma como ele me encostava contra a parede ou me jogava na cama. Aquela mistura insana de poder, delicadeza e dominação. Se eu pudesse voltar no tempo, não teria feito nada diferente, mesmo estando condenado pelo meu amor. Era o que eu pensava: eu só teria essa vida, então estava decidido a vivê-la como eu queria, com toda a intensidade, independente do quanto a sociedade sempre fosse gritar que isso era errado e que eu iria para o inferno.

Estava vivendo uma temporada de pura emoção jovem e felicidade que eu jamais tinha experimentado. Era incrível! A vida que eu estava construindo com Dave fazia com que eu me sentisse no topo do mundo. O homem mais sortudo. Eu me sentia vivo, amado, desejado e protegido. Estava vivendo no limite dia após dia, e o fato de estar fazendo algo considerado proibido me excitava ainda mais. Aquele amor era uma droga extremamente viciante, a qual eu nunca conseguia me imaginar perdendo.

O que eu estava vivendo, nenhum ser humano havia vivido antes. Com certeza a experiência mais inusitada que eu jamais poderia imaginar. Nunca era entediante; desde as coisas mais simples como quando ele ia até a barbearia, levava uma xícara de café, me dava um beijo na testa e saía rápido para evitar ser visto, até as coisas mais assustadoras; como quando ele desaparecia no ar em forma de fumaça negra, ou se transformava em um gato preto para andar pelo condado sem atrair atenção indesejada. Eu era privilegiado por tê-lo em minha vida, mas por incontáveis vezes eu pensei; a que preço?

Estava começando a me sentir obcecado por ele, e diante dessa sensação eu estava começando a perder outras coisas que também eram importantes pra mim. Já não tinha tanto contato com Rick, da forma que tinha antes. Ele era meu melhor e único amigo, e eu sentia que não estava sendo o amigo que ele merecia que eu fosse. Eu também não tinha contato com nenhum parente, eu só tinha Dave. Estava afundando lentamente em minha paixão desenfreada, que ardia como o fogo consumindo tudo em que toca.