Capítulo 7: O Dever e o Coração

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No cair da noite, decidi ir à caça em uma reserva local, não muito distante da cidade. Alimentar-me certamente faria esquecer os olhos daquela garota mimada. Por alguns minutos, o sangue quente de um animal me trouxe paz. Quando abri os olhos, vi a imagem de Jessy em minha frente, sorrindo. Que inferno estou vivendo!

Os animais nos dão a força que precisamos para continuar como vampiros. Seu sangue é fraco, não é igual ao sangue humano, que por sua vez poderia nos devolver todos os poderes. Então, eu arrancaria ela do meu coração, que depois de 200 anos parece querer bater novamente. A fúria se apossou de mim, pensamentos e imagens invadiram minha mente. Corri o mais longe que pude. Jamais deixaria Jessy se aproximar novamente, não queria ouvir seu coração bater; aquele som provocava meu instinto protetor.

Foi tão bom vê-la dormindo todas as noites, mas nunca farei isso novamente. Recuso-me a ser um idiota apaixonado.

Chega! Ela está tomando o controle da minha vida.

Derrubei as árvores à minha frente como se pudesse aliviar o sentimento de dor. Seria o medo de amar? Amar um humano? Sorri, incrédulo com meus próprios pensamentos.

Naquela noite, dormi na reserva, cercado pelos destroços que eu mesmo causei. Não poderia voltar e enfrentar seus olhos; sou um covarde que não compreende a arte de amar. Na manhã seguinte, ao chegar à casa dos Conway, ouvi o som insistente do meu celular tocando no andar de cima. Impaciente, subi as escadas devagar, como um humano normal. Odeio ter que fingir.

Embora pudesse pular direto para o andar de cima, seria arriscado. Esqueci completamente que o clã me ligaria naquela manhã. Toda semana eu repassava os acontecimentos a um membro do conselho, mas desta vez ignorei as ligações e mensagens.

- O que está fazendo aqui? - resmunguei ao ver Jessy em meu quarto assim que abri a porta.

- Desculpa, achei que poderia ser importante e o celular não parava de tocar...

- Saia do meu quarto! - gritei, apontando para a porta.

- Você passa a noite fora, não avisa ninguém e ainda chega agindo como um idiota! Bem típico de você - reclamou, cruzando os braços.

- Jessyca, por favor, me deixe sozinho para que eu possa atender a ligação - falei, com um tom leviano e irônico.

- Cínico! - respondeu, saindo do quarto com aquele ar de superioridade e orgulho que sempre a acompanhava.

Eles estavam impacientes. Tudo piorou quando revelei que não avançamos nada. Eles exigem um fim para tudo. Sentia suas ameaças acertarem meu ponto fraco: Jessy.

Naquela noite, não consegui relaxar. Precisava mudar a opinião do conselho, e com urgência. Na manhã seguinte, encontrei-me com Macoy no laboratório.

- Ainda bem que está aqui, Caio. Preciso de uma amostra do seu sangue - disse Macoy, segurando duas ampolas.

- Teve algum avanço, Macoy? - perguntei enquanto ele retirava meu sangue com uma seringa.

- Espero resultados positivos depois deste teste. Por enquanto, temos que aguardar, mas consegui algo que você vai gostar! - ele me mostrou uma ampola com um líquido azul.

- O que é exatamente?

- Aqui está algo que aquecerá seu corpo. Primeiro, tenho que testar nas suas amostras de sangue antes de aplicar em você.

- Macoy, tenho algo a lhe dizer, mas temo que não goste do que vai ouvir - disse, retirando mais uma amostra de sangue e colocando-a ao lado da ampola com o líquido azul.

- Claro, pode falar. Só preciso colocar as amostras na incubadora. Preciso de um minuto.

Admirava o trabalho de Macoy, sempre prestativo e solidário com todos ao seu redor. Conversamos até o entardecer, e percebi que ele ficara apreensivo. Queria poder ajudar, e não mediria esforços para proteger os Conway. Ao lembrar da última desavença com os bruxos, saí ileso, mas a mãe de Jessy se sacrificou por nós. Retornamos à mansão. Sua filha havia deixado um bilhete, avisando que estava em um jantar na casa de sua amiga Cande. Desde o evento no acampamento, os bilhetes tornaram-se frequentes. Macoy, ao encontrar os bilhetes, ligava imediatamente para a filha em busca de satisfações, mas Jessy sempre conseguia acalmar o pai e retomar o controle da situação. Sentei-me à mesa com Macoy e o acompanhei em um bom vinho Pinot. Notei que Macoy admirava um quadro fotográfico onde ele e Jessy sorriam em um entardecer.

Dois Mundos: Sangue e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora