Capítulo 13: Menos Duas

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Despistamos os dois homens na escuridão que favoreceu nossa fuga. Rapidamente nos afastamos da cidade, cientes de que nossa demora no armazém não passaria despercebida, alertando os outros. O latido dos cachorros ecoou, instigando nossa corrida em direção à floresta, com eles em nossa cola. Jessy, superou seu cansaço, apoiando-se em uma árvore para recuperar o fôlego. No momento em que a ergui, uma flecha cravou-se no centro das minhas costas, a dor pulsando em cada respiração. Mesmo assim, continuei carregando-a até o abismo, mantendo uma distância segura dos perseguidores. Jessy, ao tocar minhas costas, percebeu o estilhaço de madeira e o sangue que escorria.

- Caio, o que é isso? Você está sangrando? - Ela perguntou, visivelmente preocupada.

- Acertaram-me. Você terá que remover a flecha - Mal conseguia articular, minha voz embargada pela dor - Jessy... a flecha está envenenada!

Ela hesitou, avaliando a situação, antes de responder com urgência.

- Há muito sangue. Eu... Eu não posso... não consigo fazer isso. Pode ser pior se eu tentar retirar. Terá que suportar até chegarmos ao hospital!

- Hospital? - Forcei um sorriso de bravata - Jessy, se não tirar a flecha, espero que saiba cavar. E por favor, coloque algumas flores na cova também!

-Ah, droga! - Ela murmurou baixinho ao segurar a flecha - Por sua conta e risco.

Jessy hesitou três vezes antes de retirar a flecha de minhas costas. A sensação de alívio foi imediata, mas o formigamento logo deu lugar à tortura. Meu corpo implorava por repouso! Respirei fundo, sentindo o ar chegar aos pulmões debilmente, e minha visão turva agravava o desgaste mental. No entanto, precisava continuar. Envolvi Jessy em meus braços e corremos pela mata até encontrar a erva que procurávamos na entrada do abismo. No trajeto para Manaus, tropecei em algumas raízes e, temendo derrubar Jessy, diminui o ritmo, demorando um pouco mais do que o planejado.

- Jessy, precisamos de roupas limpas. Espere aqui, tive uma ideia - eu disse, soltando seu corpo dos meus braços.

- Ideia, como da última vez que você disse isso e acabamos em um banheiro sujo onde tive que retirar balas de madeira do seu corpo? - Jessy respondeu, arqueando uma sobrancelha.

Entramos no aeroporto sorrateiramente. Deixei Jessy em uma sala enquanto hipnotizava um casal, solicitando a troca de roupas.

- Eu juro que se você me deixar aqui de novo, eu mesma te acerto com outra flecha - Jessy sussurrou.

Levei o casal até a sala onde Jessy esperava impaciente. Depois de nos vestirmos, ordenei ao casal que esperasse até o amanhecer para sair, garantindo tempo suficiente para que pudéssemos partir com calma.

- Ah, o velho truque de hipnotizar pessoas para conseguirmos roupas limpas. Clássico de um vampiro - Jessy comentou.

Comprei passagens para Belém, no Pará. Dentro do avião, Jessy entrelaçou nossas mãos.

- Caio, desculpe-me por tudo o que aconteceu com você. Estou sendo um peso maior a cada dia. Se não fosse por mim, você poderia ter fugido com as ervas. Estou atrasando você.

- Não se preocupe comigo, eu me curo rapidamente - disse, encostando-me no assento e depositando um beijo em sua mão. - Tente descansar. O veneno da flecha já passou, está tudo bem agora.

- Bem, pelo menos agora podemos dizer que passamos por uma verdadeira flechada de amor, não é? - Jessy riu.

A cidade era bela, cheia de vida, e Jessy se encantou com o lugar. Na lista de ervas de Macoy, o item 04, Dundyuw Sacristus - Pará, tinha uma observação escrita: "Mãe Praiana eventos místicos".

Dois Mundos: Sangue e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora