Capítulo 9 - A Discórdia e o Ciúme

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Na estrada, Jessy meticulosamente examinava os documentos guardados no cofre, cuidadosamente retirando um pergaminho que parecia ter décadas de idade e um pendrive. Com olhos brilhando, ela abriu a caixa de jóias, adornada com as iniciais de sua mãe, e seu olhar se fixou em um colar que abraçava uma pedra verde, emanando uma aura de mistério e história.

- Esse colar pertenceu à sua mãe? - Comentei, observando o símbolo gravado no metal que segurava a pedra preciosa - Parece-me familiar, mas não consigo lembrar de onde.

- Papai sempre disse que tudo o que era da mamãe um dia seria meu. Acho que esse dia finalmente chegou - disse Jessy, colocando o colar em seu pescoço e admirando a sua beleza única - É incrível como algo tão pequeno pode carregar tantas histórias. Papai costumava me contar sobre mamãe, descrevendo-a como uma feiticeira sedutora.

Ela segurou o colar entre as mãos com um gesto de ternura.

- Sua mãe era realmente uma pessoa especial - comentei, recordando-me da última vez que a vi, usando uma pulseira semelhante à de Jessy.

- Você conheceu minha mãe? Sabe o que realmente aconteceu então?

- Sim, e da última vez que a vi, ela usava uma pulseira semelhante à sua.

- Espera! Então você estava lá quando ela morreu? E ainda por cima, você não envelhece? Por que não fez nada para impedir a morte das pessoas aqui? Como pode deixar meus pais lutarem para...

- Calma, vamos com calma. Deixe-me explicar antes de tirar conclusões precipitadas - segurei firme o volante, tentando controlar minha impaciência diante das perguntas acusatórias de Jessy. - Sim, estive presente quando sua mãe nos deixou. Mas minha situação é um pouco mais complicada do que parece, e quanto a não ter agido para impedir as mortes, havia razões que talvez você ainda não compreenda.

- E ficou só assistindo enquanto as pessoas morriam? Como pode...

- Permita-me continuar e você entenderá melhor - interrompi, tentando manter a calma enquanto enfrentava o olhar furioso de Jessy. - Sua mãe me confiou a missão de proteger você e seu pai, que estava gravemente ferido. Fomos trancados no porão por Melissa, e por mais que eu tentasse, não conseguia abrir a porta. Enquanto isso, lá em cima, um bando de bruxos fazia seus rituais. Não vou dizer que não lutamos, pois seu pai estava à beira da morte. Eu intervim para protegê-lo de um feitiço fatal... mesmo que naquela época eu não nutrisse os melhores sentimentos por ele - sorri com um misto de amargura e nostalgia ao relembrar. - Poderia ter simplesmente partido, mas decidi encarar uma batalha que não era minha, Jessyca.

- E onde estava mamãe durante toda essa confusão?

- Não sei ao certo. Por alguns minutos, houve uma discussão acalorada, e eu não conseguia entender o que estavam falando. Eles usavam uma linguagem própria, algo incompreensível para mim. Então, de repente, houve uma explosão, mas o porão permaneceu intacto. Sentimos o estrondo, a poeira se ergueu, e a fumaça invadiu o local. Mas o mais estranho é que não encontramos nenhum corpo... tudo simplesmente desapareceu.

- Minha mãe deu a vida para nos salvar! O que eles queriam com ela? - as palavras de Jessy saíam entrecortadas, enquanto ela tentava conter o choro que inundava seu rosto.

Encostei o carro na beira da estrada, sentindo a urgência de confortá-la, mas não sabia como. Busquei suas mãos, mas ela recuou ao sentir meu toque frio. Nossos olhares se encontraram por um breve instante, e vi a dor refletida nos olhos inchados, uma luta interna se desenrolando dentro dela.

- Não tenha medo de mim. Por favor! - implorei num sussurro, desejando poder oferecer algum conforto.

Ela se inclinou em minha direção e me abraçou com força. No início, fiquei sem reação, seu corpo quente contrastando com o meu frio. Lentamente, permiti que meus braços a envolvessem, retribuindo o abraço com a mesma ternura. E ali, naquele momento de vulnerabilidade compartilhada, desejei mais do que nunca poder aliviar sua dor. Céus, como eu a desejava.

Dois Mundos: Sangue e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora