Capítulo Vinte e Três

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Capitulo Vinte e três

Agatha

Já faz cinco minutos que recebi o telefonema da minha mãe, e ainda estou em choque, primeiro por receber uma ligação dela e segundo, por ter passado em uma das melhores universidade dos Estados Unidos, ter ganhado uma bolsa integral.

É uma ótima oportunidade para eu sair daqui sem levantar suspeitas, e me afastar do Gustavo de vez. O difícil vai ser contar para meus avós que vou embora, nós ficamos tão apegados nessas últimas semanas que dói partir.

- Você vai fazer tanta falta, meu amor - Minha avó fala com a voz embargada, seus olhos estão lacrimejados.

- Não faz assim vovó, essa é uma ótima oportunidade.

- Eu sei amor, mas é difícil aceitar que minha netinha vai embora, ainda para um lugar tão longe. - Meu avô tenta se fazer de durão, mas desaba quando eu o abraço.

Foi uma despedida triste, odeio ver meus avós chorando, mas tem que ser assim, meu voo está marcado para as 4 horas da tarde. Pego meu celular, vejo que tem várias ligações perdidas do Gustavo, apago as chamadas, seguro meu choro que ameaça escapulir, respiro fundo e conto até três, pego minhas malas e desço as escadas. Eu esperava qualquer coisa, até um coelho gigante na sala de estar do meu avô, mas o que eu vejo é algo muito pior que um coelho gigante, eu vejo Gustavo, no meio da sala conversando com os meus avós, como se fossem amigos de infância, nossos olhares se cruzam e vejo que seus olhos brilham.

- Agatha - Gustavo me cumprimenta.

- Gustavo - Sussurro tão baixinho que nem mesmo eu, consegui ouvir direito minha voz.

- Nossa Agatha vai embora hoje - Vovó pega um biscoitinho e mordisca o mesmo, percebo que ela está tentando espantar as lagrimas.

- Como? - Gustavo faz uma careta.

- Eu vou embora, tá surdo? - Explodi, que cara desgraçado.

- Agatha - Vovô me repreende.

- Tudo bem, Sr. Antônio - Gustavo estava sério, seu rosto era de alguém pronto para matar um - Boa viagem Agatha.

- Obrigada.

Gustavo saiu, então comecei ao momento tortura, me despedi dos meus avós, várias lagrimas saíram dos meus olhos e dos olhos da vovó. O meu avô só me dizia: "Tome cuidado, minha netinha, o mundo lá fora é perigoso." Se ele soubesse que eu nem precisei ir no mundo lá fora para me meter em encrenca, fisicamente e emocionalmente.

Outro capataz pegou minhas malas e levou para o carro, sai da casa com lagrimas no olhos, chorei pelos meus avós e por ele, pelo Gustavo, nunca iria esquece-lo, era ridículo ter me envolvido tanto com um canalha como ele.

- Vai embora e nem vai se despedir? Você nem se deu ao trabalho de me avisar que iria embora - A voz do Gustavo surgiu atrás de mim.

- Não, eu não vou me despedir - Respondi andando - E não avisei nada a você porque você não é meu dono.

- Por que tá me tratando assim? - Gustavo segurou meu braço e me puxou de encontro ao peito dele.

Me derreto em seus braços, seu olhar transparece tristeza, mágoa, raiva, confusão, e a minha vontade é de desistir de tudo e fazer ele bem novamente, mas uma voz interior grita pra mim que ele vai ter alguém pra fazer isso por ele, e que isso tudo é fachada. Me pergunto se ele já não me humilhou bastante, será que ele ainda quer mais?

- Por que meu amor? - Suspira - Por que tá fazendo isso comigo? Com a gente?

- Eu Gustavo? Sério? - Falo com toda a minha raiva - Pelo que eu saiba é você quem estragou o nosso relacionamento - Faço uma pausa para não cair em lagrimas - Ah não, espera, não existe relacionamento, por que era só sexo, né? Tipo sem compromisso, você me comeu e depois jogou fora.

- Por que está se rebaixando desse jeito? Você mesma tá lhe tratando como uma qualquer?

- E não é isso que só para ahn? Uma diversão? Um brinquedinho? Uma qualquer como você mesmo disse?

- Porra Agatha, para - Ele grita chamando a atenção do capataz - Você é muito mais que isso, você não percebe. Quando eu ia responder, sou calada pelos lábios dele, Gustavo inicia um beijo lento e apaixonado, onde nossos lábios não estão famintos e sim calmos, ele me beija de um jeito diferente de todos os outros beijos que tivemos, esse é puro e calmo, como os ventos das árvores, um beijo que me faz chorar.

- Agatha - Ele sussurra.

- Me solta - Me afasto, seco minhas lagrimas com raiva - Até nunca mais.

- Só me diz por que? - Ele pergunta com raiva.

- Porque eu não quero ficar aqui, nesse mundinho, porque eu recebi uma bolsa de estudos que não posso jogar fora por sua causa, um cara que não tem um relacionamento sério comigo, não quero acabar com 19 anos, gravida com a barriga no fogão, eu mereço mais - Sinto uma dor profundo ao dizer isso - Era só sexo, Gustavo - Completo.

- Ok, vai lá pro seu mundinho fútil, sua megera, eu sabia que você era assim, e você tem razão, foi só sexo, e eu já comi melhores que você. Não se ilude que eu já me apaixonei ou até mesmo amei você, sai desse mundo de príncipes encantados, volta pro mundo real, que aqui, não existe amor. - Gustavo está com as narinas dilatadas. E tudo que ele diz me corta profundamente o meu coração, eu respiro fundo, nossos olhares se encontram, mas neles há dor, mágoa, ressentimento, raiva. Com um longo suspiro eu me viro para voltar a andar, ouço os passos dele se afastando de mim, e percebo que ele levou meu coração junto. Dou uma última olhada e percebo que ele já havia sumido.



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