Capitulo XII

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48 semanas depois

Eternidade? Ela não existe e nem com a morte se pode alcançá-la, Magu estava errada! Dessa vez a maldita convencida se enganou e eu queria que ela estivesse certa, mas ela não estava, aprendi isso da pior maneira possível.

Estamos mortos e nem por isso somos eternos, nosso amor não resistiu a tanto. Eu enterrei a Maria Augusta, ela está morta para mim, assim como eu estou morto para ela. Na verdade, nunca existi em sua vida, fui apenas uma âncora que a fez afundar mais devagar! Não que eu tenha sido uma âncora decente, até porque não consegui impedir que fizesse mais merdas. Só fiz com que ficasse mais tempo à deriva, enquanto lhe dava a chance de me levar para fundo do oceano junto com ela!

Infelizmente, aquela velha história do Primo Basílio, onde o casal feliz é desgastado pelo tempo, também não me consola. É óbvio que não faríamos parte de um conto de fadas, é óbvio que encontraríamos outra forma de nos destruirmos! Contudo, eu gostaria de ter a chance de ver o que o tempo reservaria para nós dois.

Isso, tudo que eu queria era mais tempo! Mais tempo para me decepcionar, mais tempo para me arrepender, mais tempo para desperdiçar com uma ingrata, mais tempo com ela! Eu morreria outra vez, só para trazê-la de volta a minha vida. Nem que fosse para ter meu coração partido outra vez, nem que fosse para devolver essa tendência masoquista que roubei dela!

Todavia tenho que me contentar que o tempo só anda para frente, infelizmente não construíram uma máquina que volte ao passado e claro Maurício Villario não tem capacidade de fazer isso sozinho. Em breve fará um ano e o famoso remédio popular "dar tempo ao tempo" não está funcionando, não estou me recuperando, estou estagnado, vazio, incompleto. Céus, incompleto, não acredito que pensei mesmo isso, é patético, pois não é como se a Maria Augusta me completasse, não é como se fossemos caras metades, almas gêmeas ou metades da laranja, ou qualquer um desses clichês cafonas. Não é nada disso, é só que ela tumultuava minha vida de uma forma inimaginável, sua presença se tornou tão palpável que quando deixou de exercer suas funções, a sua falta se fez notável.

É claro, a culpada por me fazer pensar tanto nela é a minha preguiça, se não tivesse tanto tempo livre não sobraria espaço para lamentações/reclamações. Terminei a escola e não consegui entrar para nenhuma faculdade, na verdade nem tentei de fato, não fiquei no serviço meia boca que arrumei nem uma semana inteira. E ainda há o meu metabolismo acelerado para ser culpado, me alimento vinte quatro horas por dia e continuo pesando o mesmo de sempre, talvez se tivesse facilidade em engordar, procuraria exercícios para fazer. Mas já que não tenho, fico na mesma rotina de sempre: cama, computador, televisão.

Televisão, é isso que estou fazendo, é sexta-feira à noite e estou assistindo TV na sala. Meu pai ainda não chegou do trabalho e minha mãe está na cozinha fazendo o jantar, provavelmente se indagando sobre o que a levou a ter um filho único tão inútil. Mamãe está de saco cheio de mim e da minha companhia infernal, por isso tento ficar o mais tempo possível dentro do meu quarto, porém as vezes me canso de ficar preso naquele quadrado e venho para a sala. Ok, talvez eu também esteja de saco cheio de mim mesmo!

Ouço um barulho irritante tilim tintar no ambiente, chamando minha atenção no segundo toque. O telefone! Finjo que não escuto e espero que minha mãe se desloque para vir atender, já que sou mesmo um inútil não vou ter o trabalho de me levantar.

Terceiro toque, ela não vem, começo a cogitar a hipótese dele tocar até cair. Quarto toque, respiro fundo, não vou atender, não preciso atender, com certeza é minha tia querendo contar coisas fúteis sobre a vida de outros parentes.

_Maurício estou com as mãos sujas, você pode por favor atender a porcaria do telefone! - grita dona Elisângela da cozinha.

Bufo e me levanto devagar na esperança que a tia Tereza desista. Ela não o faz! Atendo.

A Detestável Letra MOnde histórias criam vida. Descubra agora