Capítulo XX

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Meu pai chegou do serviço cedo, as seis em ponto. E lá estávamos nós; Ofélia e eu, o esperando na sala.

_O que é isso?

Seus olhos vão imediatamente para a cachorra e antes de terminar a frase minha mãe surge no cômodo, completando o que é preciso para dar início a uma discussão.

_Essa é a minha cachorra Ofélia! Ofélia esse é o meu pai!

_Maurício eu já não disse que é para sumir com isso! Você ainda não a devolveu para a dona? - minha mãe se dirigi a mim com um tom grave, eu permaneço como estou.

_Maria Augusta é louca, ela não vai pegá-la de volta e papai me deixou ficar com ela!

_O quê? Não pensei que você fosse arrumar um cão assim tão rápido!

_Como assim você deixou Marcos? Eu tinha dito que não hoje mais cedo! Primeiro ele aparece com aquela garota e agora acha que vai poder ficar com a cachorra dela?!

_Eu não estou entendendo! – meu pai balança a cabeça, coitado.

_Como não? Seu filho quer ficar com essa coisa sendo que sou alérgica a cachorros e você diz que sim?!

_ Bem meu pai deixou, então se já está tudo resolvido... – me levanto do sofá com a intenção de deixá-los sozinhos, enquanto há tempo.

_De onde ela surgiu? – meu pai aponta para a cadela e eu saio da sala sorrateiramente enquanto os ouço conversar.

_A garota, aquela esquisita dormiu aqui e largou a cachorra!

_Que garota Elis?

_A amiguinha, amiguinha do seu filho.

Ouço as vozes se afastando, enquanto vou em direção ao meu quarto, porém, ainda assim consigo ouvir os resmungos. Felizmente nenhum dos dois vai atrás de mim, o que é meio ilógico, ao se levar em conta que sou o culpado da história. Mas minha mãe é assim mesmo, não faz muito sentido, tenho pena do papai, pois ela vai fazê-lo surtar. Só espero que eles entrem num acordo e que Ofélia esteja incluída nele.

Continuo ouvindo o que eles falam, pois de forma crescente as vozes começam a aumentar. Papai continua perdido sem entender muita coisa, minha mãe grita em tentativas vãs de contar sobre Magu, enquanto fica brava por ele ter me deixado ficar com a cadela. Seu Marcos parece estar do meu lado, pois diz que não vê problemas em eu ficar com o animal, é só uma cadelinha. E desta maneira eles seguem por mais quarenta minutos, até que a agitação ganha um tom contrário e as vozes diminuem outra vez. Ele aparece no meu quarto, segundos depois, carregando Ofélia. Entra e bate a porta atrás de si.

_Quero que você me explique quem é a tal garota e porque sua mãe está brigando comigo por causa dessa criaturinha! – ele coloca a pequena Ofélia no chão e se senta na beirada da minha cama.

_Eu e Maria Augusta, aham, Maria Augusta é a garota que estava fazendo um trabalho comigo aqui em casa esses dias, você foi direto dormir por isso não a conheceu. Enfim, eu e ela estávamos indo embora da escola ontem quando achamos a cachorra, ela estava machucada e a Magu disse que iria levá-la para casa. Mas seu pai não a deixou ficar com ela, então ela veio aqui ver se eu podia ficar, claro que disse que não. Mamãe não estava sabendo dessa história e achou que era só uma visita, mais ai é que está, estava caindo uma chuva danada e ela acabou dormindo aqui...

_A garota ou a cachorra?

_As duas! Ai quando eu acordei e dei por falta dela, da garota, ela tinha ido embora e tinha largado a cachorra aqui!

A Detestável Letra MOnde histórias criam vida. Descubra agora