Capítulo X

263 37 2
                                    


Virtuosa é uma cidade do triângulo Mineiro, aproximadamente duzentos mil habitantes, tamanho médio. Bem, na minha concepção é uma cidade pequena, sempre vivi aqui e conheço todo o lugar, e se não há mais o que explorar quer dizer que já está pequena. Não é o meu lugar preferido do mundo, até porque não conheço o mundo inteiro, é apenas meu lar, lar que pretendo abandonar.

Sempre morei no mesmo bairro e só estudei em duas escolas. Pode se considerar uma escola só na verdade, já que elas são praticamente grudadas. Estou no último ano e não vejo a hora de ir para a faculdade, vou fazer direito, acho que será legal. Quero ser um juiz, bom acho que a maioria dos estudantes de direito também quer, mas pretendo seguir firme com meu objetivo.

O Enem está se aproximando e quero muito conseguir nota para entrar numa faculdade federal. Principalmente se for em outra cidade, tudo que eu mais quero é sair de Virtuosa. Contudo os estudos não são muito a minha praia, gosto de estudar o que eu gosto, entretanto não vejo necessidades em certas matérias. Matemática, por exemplo, totalmente sem sentido, só vou precisar do básico e isso já sei. Mas ainda assim terei que responder a 45 questões sobre ela, o que está definitivamente, me tirando do sério.

Sei que deveria estar me preparando para o monstro de 180 questões/redação desde o primeiro ano. Porém, haviam coisas mais interessantes para serem feitas do que estudar para o Enem! Porém, agora estou preocupado, pois além dele há outro fator me pressionando psicologicamente, que se chama viagem de formatura. Antes de entrar para a faculdade eu preciso terminar o ensino médio, óbvio. Como recompensa nós vamos para Búzios, a viagem já está paga e meu pai com certeza irá me matar se eu for e depois tomar bomba. Viajaremos em alguns dias e minhas notas em matemática estão me preocupando. Não quero ir na viagem de formatura, com a probabilidade não me formar ainda existindo.

Agora estou aqui, a pouco mais de um mês da prova, e há poucas semanas de viajar tentando recuperar o tempo perdido. Por isso acordei cedo pelo segundo dia consecutivo, para ir a uma palestra na escola. Qual o tema?! "Como fazer questões de matemática em pouco tempo!" Maravilhoso! Espero do fundo do meu coração que o sono que estou sentindo seja recompensado.

Chamei o Pedro, o Sérgio e o Vinicius para virem comigo. Pedro foi categórico dizendo que nem Deus o faria levantar cedo para ter aula de matemática. Sérgio falou que tentaria vir, o que significa que também não virá. O único que deu certeza foi o Vinicius e por isso o estou esperando aqui na frente do colégio.

Ele chega quinze minutos depois do combinado e tenho certeza que perdemos o início da palestra.

_Não tem relógio na sua casa? - pergunto.

_Ter tem, o que não tem é disposição antes da uma da tarde!

Não falo mais nada, até porque seria hipocrisia, eu também custei a levantar.

_Vamos entrar? - sugeri ele, eu faço que sim com a cabeça.

Entramos no prédio e Vinicius não sabe nem aonde vai ser a aula extracurricular.

_É na biblioteca! - digo e seguimos rumo a ela.

Chegamos e como era de se esperar já começou, entro e sem querer tropeço em um ventilador que está no chão. O professor palestrante é o Theodoro, ele parece surpreso em nos ver aqui e indignado por eu já ter entrado atrapalhando. Todos encaram a mim e ao Vinícius, basicamente estão aqui só os alunos mais nerds da escola e eles estão tão chocados com nossa presença quanto o professor.

_Vocês vieram para a palestra? - o professor Theodoro pergunta.

_Sim! - não, vim para respirar o ar empoeirado desses livros velhos, é claro que viemos para a palestra.

A Detestável Letra MOnde histórias criam vida. Descubra agora