Capítulo XXVIII

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Abro os meus olhos e vejo a pele levemente rosada dela na minha frente, Maria Augusta permanece encolhida nos meus braços. Ela mal se mexeu durante a noite e eu mal me mexi porque não queria correr o risco de acordá-la. Claro, mal fechei os olhos, primeiro porque ela estava comigo, segundo porque sabia que amanheceria e teria que explicar os machucados no meu rosto para minha mãe. Além de fazer com que ela não percebesse a presença da Magu aqui dentro do meu quarto. Bem amanheceu e não faço a mínima ideia de como irei fazer nada disso.

Passo meus dedos pelo braço direito da garota e por um segundo me permito apenas observá-la. Olho para a sua nuca, para suas costas e para o seu cabelo solto. Ouço um barulho do lado de fora do meu quarto, mas não me preocupo, eu me certifiquei de trancar a porta ontem à noite.

Me certifiquei sim, porém para minha surpresa a maçaneta gira e escuto os passos pesados do meu pai entrando no quarto. Meu coração gela e eu faço a coisa mais idiota que poderia fazer, eu pego a coberta e jogo em cima da cabeça da Magu, como se isso fosse escondê-la. O corpo dela, na hora mais inoportuna, começa a se remexer embaixo do tecido.

_Mas que diabo Maurício, você por acaso está tentando me matar sufocada? – pergunta ela, descobrindo a própria cabeça.

Meus olhos saem dela e vão direto para o meu pai, ela me acompanha e só então o vê parado na porta, olhando para nós dois.

Magu sussurra um "droga" baixinho e então pega novamente a coberta e se enfia debaixo dela, como se tivesse repensado a minha ideia de escondê-la ali.

_Maurício quem é essa?

_Como você entrou aqui pai, eu tranquei a porta!

_A casa é minha, eu tenho a chave ora!

_Isso é uma falta de respeito, você não pode entrar no meu quarto desse jeito!

Meu pai franzi o cenho e sua expressão, que até então era de surpresa, se fecha.

_O que foi isso no seu rosto?

Maria Augusta sai debaixo da coberta e se senta na cama, eu me sento também.

_Oi! – diz ela.

_Oi! – responde ele – Então Maurício, vai ou não vai me explicar o que aconteceu aqui?

_Ah, a gente...

_Não, não isso, o que aconteceu com seu rosto!

_Meu pai não gostou muito da ideia do Maurício aparecer ontem de noite na minha casa, atrás de mim... – começa Magu, mas ela é interrompida pela figura da minha mãe, que surge na porta.

_Mas o que que é isso?

Coloco a minha mão nas minhas pálpebras e tento raciocinar de maneira rápida, antes que um deles comece a surtar. Me levanto da cama e vou até onde estão.

_Podemos conversar na sala?

_Meu Deus o que é esse roxo na sua cara?

Minha mãe se aproxima de mim e segura meu rosto, olhando para onde levei os socos ontem.

_Na sala pode ser?

_Vem Elisângela! – a voz do meu pai é grave e ele segue reto em direção ao corredor, minha mãe faz o mesmo.

Olho para trás, Maria Augusta está olhando para as mãos, dou-lhe um meio sorriso, mas ela não chega a ver. Sigo meus pais.

Marcos para ao lado da televisão e minha mãe ao seu lado. Ela bate o pé direito no chão sem parar, como um tique nervoso.

A Detestável Letra MOnde histórias criam vida. Descubra agora