Capítulo XXXVI

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7 semanas depois.

Naquela noite, dentro do quarto 7, eu senti o fim, ele estava pairando em cima de nós dois, pronto para despencar em nossas cabeças, em cima da minha cabeça. Sim, eu soube que algo iria acontecer e talvez eu devesse ter me aproveitado dessa intuição para me despedir. Aquela foi a última vez que a abracei e deveria ter dito adeus, ou ter dito que a amava. Mas, eu me calei e preferi ignorar tudo, fingindo que estaríamos bem na manhã seguinte.

Tenho uma relação de amor e ódio com Búzios, para mim um lugar não deveria ser palco de memorias tão contraditórias como as que fiz lá. Não deveria ter tantos altos e baixos como tive lá. Não, corrigindo, não deveria ser palco de uma queda tão drástica como a que tive lá. Armação de Búzios foi uma ladeira abaixo para mim e Maria Augusta. O primeiro dia foi auge, no último sequer nós olhamos.

E o pior de tudo é que as lembranças da praia e do oceano não estão me ajudando a fazer as questões sobre as cadeias de carbono. Essa prova de química está me matando e nem consigo focar nela, estou correndo os olhos pelas alternativas e marcando letras aleatórias. Estamos fazendo um simulado com todas as matérias e não consigo sair da primeira até que me irrito com química e passo para artes.

Artes pelo menos tem palavras, mas isso não quer dizer que eu saiba o que é impressionismo, expressionismo, cubismo, surrealismo e cia. O único que sei quem é o Rene Magritte, isso porque Magu um dia me disse que ele era seu artista surrealista favorito. De resto faço a prova do mesmo jeito que fiz a de química, arriscando a sorte, depois mudo para português. De maneira geral a única matéria que sei algumas respostas é a de história, pois para minha sorte caiu muito sobre as Grandes Guerras e sobre globalização.

Me levanto e entrego minha prova e o meu gabarito para a professora. Sou o primeiro a levantar, os outros ainda estão se esforçando ao máximo para se sair bem. O simulado vale quase toda a nota desse bimestre e também é uma preparação para o Enem que ocorrerá esse final de semana. Não dou a mínima para minha última nota e não dou a mínima para o Enem, provavelmente nem me darei ao trabalho de ir fazer.

Saio da sala de aula porque quem terminou pode esperar no pátio. Me sento num banco embaixo de uma árvore e coloco os meus fones de ouvido. Não consigo me concentrar em música alguma, a única coisa que quero fazer é ir embora para a minha casa. Eu odeio essa escola, odeio estar aqui, odeio ser obrigado a estar aqui.

Uns dez minutos depois que me sentei Teresa Campos atravessa o pátio em minha direção. Tenho certeza que vai passar por mim e seguir reto, mas ela não faz isso. Teresa se senta no banco ao meu lado. De todos os lugares da escola; biblioteca, cantina, pátio interno, ela tem que vim sentar justo aqui?

Finjo que nem notei a sua chegada e fico parado olhando para o longe.

_Como você foi?

A ouço falar e quero muito ignorá-la, porém quando ela repete a mesma pergunta eu faço a favor de tirar os fones de ouvido.

_Oi?

_Como você foi no simulado?

_Provavelmente mal.

_Eu acho que fui bem!

Não perguntei como ela foi porque sei que foi bem. Teresa saiu rápido da sala porque sabia exatamente o que estava fazendo e não porque assinalou qualquer coisa como eu. Ela é a número 1 da turma, tagarela e inteligente, chata.

_Como você está?

Lá vem a maldita pergunta, as pessoas perguntam por educação, sem se preocuparem com a resposta, sem se prepararem para resposta.

A Detestável Letra MOnde histórias criam vida. Descubra agora