Luz do dia

91 13 6
                                    

Acordei confuso. Olhei o local por alguns instantes e devagar fui relembrando o que acontecera horas atrás. Passei os olhos pelo quarto e encontrei Luke deitado no chão, em cima de um edredom.

Segui para o banheiro, agradecendo por não ter que sair do quarto para aquilo. Eu precisava tentar me livrar do gosto ruim que estava em minha boca. A minha cabeça doía levemente, e comparado a outras vezes, aquela era a ressaca mais fraca que eu tive, nem parecia que eu havia bebido tanto. O remédio que ele me deu deve ter funcionado.

Encontrei minhas roupas secando no boxe mas ao tocá-las percebi que ainda estavam úmidas. Voltei ao quarto e encontrei meu celular em cima da cômoda ao lado da minha carteira. O visor marcava 7 e meia da manhã.

Peguei o aparelho e deitei-me novamente, dormindo pouco tempo depois. Quando reabri os olhos, procurei meu celular e já eram quase 11 horas. Luke já não estava mais no chão, nem o edredom. O abajur estava desligado e havia uma luz fraca passando pela persiana.

Quando fui novamente ao banheiro, minhas roupas já não estavam mais ali. Ouvi alguém abrir a porta do quarto e logo a voz de Luke me chamar.

- Bom dia. Está melhor ?

- Bom dia . Estou. Obrigado. – Não tinha como tratar mal uma pessoa que havia me ajudado e cuidado de mim, ainda mais estando na sua casa.

- Tem café, leite e chocolate quente.O que você prefere ?

- Luke, não precisa se preocupar. Eu só preciso da minha roupa e vou embora.

- Sua roupa está na secadora. Não se preocupe. E está chovendo Michael, minha mãe vai te levar depois do almoço.

- Como você pode ser tão legal assim comigo ? Sei lá, você dormiu no chão e me trouxe aqui... Como chegamos aqui ?

- Não estou fazendo isso por você. É pelo Calum, eu prometi a ele. – ele riu da minha cara de espanto. – Ok, estou fazendo por você também.

- Não tem problema, eu não faria o mesmo por você. Talvez nem mesmo por mim. – eu ri. – Enfim, não me lembro muito do que houve, mas se fiz algo ou falei algo que desrespeite sua casa, ou se fui muito idiota...me desculpe.

- Você se comportou bem. Eu vi que estava mal, caindo de bêbado e estava babando como um cão com raiva. Enviei mensagem aos garotos e peguei um taxi. Você deitou no meu ombro e só acordou quando chegamos. Tive que subir as escadas praticamente com você no meu colo e depois do banho você dormiu.

Não sabia o que pensar. Estava muito confuso,e de certa forma, envergonhado. Ele pegou uma roupa no armário e me entregou.

- Pode vestir isso, e vamos tomar café.

Quando terminei de me vestir, ele já havia arrumado a cama. Seguimos até a cozinha,e ele fez um chocolate quente e abriu um pacote de coockies.

- Você não usa óculos em casa ? – tentei puxar assunto.

- Não preciso, na verdade eles são apenas para leitura. Uso o tempo inteiro por que acho legal.

- Fica melhor sem eles. - dei de ombros.

- Pretendo continuar sem a partir de agora.

Terminamos e ele lavou a louça rapidamente. Enquanto isso a mãe dele chegou e me cumprimentou. Ela carregava algumas sacolas de supermercado então a ajudei.

- Obrigada querido. Vou fazer o almoço, você gosta de macarronada ?

- Sim, Sra. Hemmings. – sorri simpático.

- Pode me chamar de Liz.- ela sorriu da mesma maneira.

Luke também sorria de alguma forma e aquele momento foi no mínimo diferente. Não me lembro de ter passado por algum momento parecido. Por alguns instantes, não houveram gritos nem xingamentos. De repente eu estava na casa do garoto mais irritante e sua mãe estava me tratando bem. Aquilo era confuso demais.

Ele me puxou para o quarto de novo. Abriu a persiana deixando a claridade entrar no local, e o vidro estava embaçado devido a chuva.Sentei-me na beira da cama e ele se aproximou, sentando ao meu lado. Conferi meu telefone e havia algumas chamadas perdidas de minha mãe. Retornei dizendo onde estava e que não ia demorar muito, e encerrei a ligação.

- Sabe que quando quiser conversar, eu estarei aqui. – ele disse encarando o chão.

- Não quero conversar. Não é porque está sendo legal comigo que pode se intrometer na minha vida.

- Desculpe.Não é minha intenção. E não quero que fique bravo como da ultima vez. – ele puxou uma de suas muitas pulseiras, me oferecendo. – Amigos ?

Peguei uma das que eu tinha, e entreguei a ele. – Amigos. – e trocamos as pulseiras.

Desviei o olhar para um canto, e percebi a guitarra.

- Já sei como te agradecer por tudo.- apontei para o objeto com meu queixo.

Luke correu animado, pegando o instrumento e ligando-o ao amplificador. Pedi que escolhesse uma música em meu celular, e ele selecionou '' I miss you'' do blink 182.

Mostrei-lhe quais eram os acordes, e a maneira correta de usar a palheta. Logo ele já tirava a primeira parte da musica, e seguimos para o refrão.

A mãe dele trouxe o macarrão para comermos no quarto, e uma jarra de suco. Ficou feliz com o que o filho aprendera,e me agradeceu por ensinar. Sugeriu que eu passasse por lá semanalmente, a fim de ensinar-lhe mais coisas, e não tive como recusar, afinal eles estão me tratando melhor do que merecia.

Depois do almoço, peguei minhas roupas e ela me levou até em casa. Me despedi e entrei , tendo de responder as muitas perguntas de minha mãe, e ouvir seu velho discurso sobre drogas e doenças sexualmente transmissíveis.

Subi para meu quarto, deixando ela falar sozinha. Será que a Sra Hemmings estaria afim de adotar um irmãozinho pro Luke ?




MY GETAWAYOnde histórias criam vida. Descubra agora