Imprevisível

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A cidade estava colorida, as casas enfeitadas, a neve cobrindo os telhados. Era o primeiro Natal que não parecia ridículo ou entediante. Era o primeiro Natal que eu não estava odiando.

Depois de enfeitar minha árvore junto com minha mãe, seguimos para o quintal, onde colocamos alguns pisca-piscas na janela, e uma placa de madeira na porta dando as boas-vindas.

Fiz um boneco de neve ao qual escolhi pedras devidamente azuis para colocar nos olhos. Eu amava aquela cor. Talvez porque me lembrasse de Luke.

Encarei minha criação assim que terminei. Minha mãe passou um braço em minhas costas, dando-me um abraço lateral. Ela estava mais feliz também, e isso deixava tudo ainda melhor. A ultima vez que fizemos aquilo eu devia ter uns 11 anos.

Entramos novamente em casa, onde segui para meu quarto para tomar banho e me arrumar. Resolvi que vermelho combinaria com a época e então tingi meus cabelos. Vesti uma calça skiny preta e meus coturnos.

Procurei pela camiseta preta que Luke me deu mês passado de aniversário, mas ela não estava lá em lugar nenhum.

- Você olhou dentro do armário ? – minha mãe perguntou ajeitando as coisas na mesa da cozinha.

- Eu olhei até debaixo da cama mãe. E já olhei na roupa suja, mas tenho certeza que ela não estaria lá, porque você sabe que a guardei para usar hoje. – disse antes da campainha tocar.

- Quer atender a porta querido ? Já te ajudo a procurar.

- E se for o Luke ? Como vou lá sem roupa ? – perguntei antes do segundo toque.

- Então suba e procure sua roupa Michael. – ela disse seguindo para sala.

Apressei em subir os degraus e fechar a porta. Olhei pela persiana mas quem quer que fosse já tinha entrado. Continuei a busca pela minha roupa, e aquele desaparecimento já estava me irritando.

- Idiota. – disse para mim mesmo quando lembrei que deixei a peça junto da roupa de cama na ultima gaveta da cômoda.

Peguei a peça e enfim pude vesti-la. Segui para o banheiro onde apliquei meu perfume e ajeitei meus fios. Desci rapidamente para encontrar Luke, mas ele não estava lá.

O senhor que estava parado na cozinha já era conhecido, mas eu não esperava que fosse vê-lo justamente hoje. Na verdade não esperava vê-lo nunca mais. Os olhos tão verdes como os meus me encararam ao perceber minha presença.

- Mike. – um sorriso cortou seu rosto.

Eu apenas negava com a cabeça, enquanto a fúria corria por meu sangue. Endureci meu maxilar e cerrei os punhos. Minha respiração estava tão rápida quanto meu coração. Minha mãe assistia a cena encostada na pia.

- Sai da minha casa. – disse pausadamente.

- Filho, eu quero...

- Cala a boca ! – gritei o interrompendo. – Não me chame de filho, e sai da minha casa.

- Michael ! Você precisa me ouvir.

- Eu não preciso ouvir você e nem quero, então sai daqui. – respirei fundo. – Por favor.

- Mike, ele é seu pai. – minha mãe dizia ainda no mesmo lugar.

- O que ? Ele nos abandona, desaparece e nem manda sinal de vida. Você é meu pai Karen, e minha mãe também. É só você, tudo que eu tenho.

- Eu entendo sua revolta Michael mas... – ele começou a falar.

- Não fale o que não sabe. Revolta não significa nada do que eu sinto. Eu não consigo nem desprezar você por ser tão nojento. Eu não consigo nem te odiar porque eu tenho pena de você, só isso. Some daqui e não volte mais. Faça como você sempre fez, estava muito bom sem você.

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