Dizem que quando as coisas estão muito tranquilas é apenas um pressagio de coisas ruins que estão por vir. Eu que sempre tive uma vida atrapalhada e confusa, cheio de cicatrizes que antes de Luke eram feridas abertas, cheio de problemas e acostumado ao caos, depois de conhece-lo tanta coisa mudou, que eu não me lembrava mais dos dias ruins. Mas como eu disse, até os dias bons chegam ao fim.
Naquela manhã Luke não foi á aula. Já haviam 3 meses que estávamos namorando, e havíamos passado um ótimo fim de semana juntos, e domingo a tarde o deixei na porta de sua casa, ele parecia bem. Hoje de manhã não fez nenhum contato e faltou a aula, o que estava me preocupando.
Eu não conseguia me concentrar no que era dito pela professora, eu nem escutei o sinal do intervalo tocar, e foi Calum que me tirou do meu transe. Segui com ele pelo refeitório, tentando ligar pro Luke mas o celular caia direto na caixa postal.
- Está vendo como nos sentimos quando faz esse tipo de coisa ?
- Calum, não estou para brincadeiras. Não percebe que há algo errado ?
- Ele deve estar doente, mas se fosse grave a mãe dele já teria te ligado.
- Não sei... Seja lá o que for, ele precisa de mim.
Quando o ultimo sinal tocou, eu sai apressado, correndo o mais rápido que pude para casa dele. Quando cheguei na porta, toquei a campainha e tentei recuperar o fôlego. Toquei novamente, com o coração apertado. Aquilo estava estranho demais.Dei mais alguns toques desesperados, e comecei a bater na porta gritando por ele. E então finalmente ele abriu.
- Michael, vai embora, por favor.
- O que ? – eu reparei nele. Havia uma faixa em seu braço, então o puxei para mais perto. – Quem fez isso Luke ?
- Vai embora. Por favor.
- Eu não saio daqui enquanto você não me contar o que houve.
- Michael ! Vai agora ! – ele gritou e entrou trancando a porta novamente.
Gritei pelo seu nome mas ele ignorou. Sentei-me no batente, e disse alto que iria ficar ali até que ele voltasse e me explicasse o que estava acontecendo. E passaram-se 5 minutos, depois outros cinco. Mas minha esperança continuava intacta e eu estava decidido. Vinte minutos depois e pareciam que eram horas naquele chão duro, mas permaneci ali. Até que quarenta minutos depois ele abriu a porta devagar.
Me levantei rapidamente para olhá-lo de novo. Ele me encarou e me aproximei abraçando-o, mas ele continuou parado sem nenhuma reação.
- Você precisa sair daqui. Por favor. Eu prometo que te conto tudo amanhã, mas agora você tem que ir.
Respirei fundo, e olhei para ele, mas o silencio pairava entre nós. Deixei um beijo em sua testa antes de seguir para minha casa. Eu estava quebrado. Estava destruído. Eu nem me lembrava mais como era sentir aquela maldita dor na alma, e ela havia voltado. Ela estava lá no lugar de Luke. Mas eu definitivamente preferia meu loiro.
Liguei para Calum, contando entre soluços o que havia acontecido. Ele foi solidário, tentou me confortar, mas nós sabíamos o quão inútil seria. Apenas avisei que faltaria no dia seguinte e desliguei. E então, eu ajoelhei, e rezei com todas as forças que podia, eu implorei para que Luke ficasse bem, seja lá o que tivesse acontecendo.
Eu me esforcei para dormir. Mas apenas cochilava e acordava lembrando de tudo que estava acontecendo. E então pegava no sono de novo. E o ciclo se repetia. E eu acordei gritando, chamando por ele. E quando recobrei a consciência eu chorei. Ainda eram seis da manhã.
Segui para janela, e esperei pela hora que ele fosse chegar. Mas ele não aparecia. Minha mãe seguiu para o trabalho, e eu não tive a mínima vontade de almoçar. Já se aproximava das três da tarde e a tortura continuava, até que ao longe, surgiu um ponto de esperança.
Desci correndo as escadas, e quando ele se aproximou eu o abracei. E ele retribuiu. E então eu o apertei com todas as minhas forças, deixando beijos em seu pescoço.
Ele entrou em casa, e seguimos para meu quarto. Luke estava tão abatido, seus olhos estão tão tristes, que doía em mim. Sentamos na cama, ele esfregava as mãos sem parar. A faixa ainda envolvia seu braço direito.
- O que houve ? – perguntei afagando sua perna, sentando-me ao seu lado na cama.
- Ontem... – ele respirou, esforçando-se para não chorar. Então entrelacei nossas mãos, e ele me olhou com um sorriso singelo. – Ontem quando você me deixou em casa, eu encontrei a sala toda revirada. Eu ouvi gritos na cozinha, era a voz da minha mãe. E ele estava lá Mike. Estava lá com uma faca, ele queria dinheiro. – seu discurso foi interrompido pelo choro.
Eu o abracei. Deixei um beijo no topo de sua cabeça, tentando reconforta-lo. Ao seu recuperar ele continuou.
- Meu irmão, Jack. Eu nunca te falei dele, mas eu tinha um irmão. Quando meu pai nos deixou ainda pequenos, meu irmão mais velho ficou revoltado. Ele cresceu fazendo coisas ruins, e aos dez anos foi morar com meu pai. Desde então não tínhamos contato.Até que ontem, ele estava lá, falando que meu pai havia morrido, e ele só queria dinheiro. Ele pegou uma faca para ameaça-la, e eu nem quero pensar no que poderia ter feito se eu não o impedisse. E então eu só pedi para que ele se afastasse, e quando ele me olhou,eu vi, nos olhos dele, eu vi ! Estavam vermelhos, tinha tanta maldade neles, eu podia sentir de longe o cheiro da droga, e do álcool. E eu que tenho tanto medo de filmes de terror, tive que enfrentar um, ao vivo.
- Está tudo bem agora meu amor. Fica calmo. – abracei-o contra meu peito. – ele nunca mais vai chegar perto de você.
- Eu sei.- ele me apertou antes de olhar em meus olhos. – Eu tentei impedi-lo de machucar minha mãe, ele me feriu e quando os vizinhos chegaram... Ele pegou a faca e cravou contra o próprio abdomem. E o sangue dele ainda está lá Michael. Minha mãe estava em choque, e hoje ela foi para casa de meus avós. Eu só não a acompanhei, porque eu não suportaria ficar longe de você.
- Luke ! – eu segurei seu rosto próximo ao meu. – Eu te amo. Eu te amo com toda minha vida. Eu amo você Luke Hemmings, e nunca vou abandonar você.
E ele sorriu, e me abraçou de novo. E eu senti que o mundo novamente estava em paz. Sabia que passaríamos por aquilo, e tudo ia ficar bem. Eu iria cuidar dele. Sim. Eu podia fazer aquilo.
- Deita aqui. – puxei o cobertor e ele se deitou. – Minha vez de cuidar de você.
Fui ao banheiro e peguei uma caixa de prontos-socorros. Quando voltei, desenfaixei o seu braço, e apliquei um produto que ajudaria na cicatrização. Deixei um beijo sobre o corte, e enfaixei novamente.
Fui a cozinha e peguei a maior quantidade de doces e besteiras que encontrei e retornei ao quarto, deixando tudo na cama, próximo a ele. Liguei a Tv em um canal de filmes onde passava uma comedia romântica, e me acomodei ao lado dele.
- Te amo Mike. – ele deu um selinho.
- Eu te amo também Luke. – puxei-o para perto do meu peito e ficamos ali.

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MY GETAWAY
Hayran KurguDuas pessoas aparentemente diferentes, mas profundamente iguais. A única certeza de Michael é que ele já não tem certeza de nada.