Bad Girl

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Eu sei, eu poderia começar isso da maneira mais clichê do mundo e dizendo todas as coisas que vocês já sabem, o que vocês conhecem sobre mim, o que o mundo sabe, mas eu não vou fazer isso. Não. Eu vou fazer o que eu geralmente não faço, vou falar de mim de verdade.

Eu sou uma mulher independente que depende de tudo e não demonstra. Eu sou um corpo sem alma que vaga por aí e não tem uma alma pra completar o corpo. Eu vejo ambos os lados da fechadura, mas ao mesmo tempo não enxergo nada.

Eu sou a pessoa mais fria por fora, sou a pessoa mais quente por dentro. Eu sou vazia a quem conhece o que o mundo conhece, mas sou cheia de tudo por quem me conhece por dentro. Não existem muitos que me conhecem por dentro, talvez só minha irmã ou nem ela, mas o amor? Ah, o amor... o que é amor? Eu não sei.

Eu não falo das minhas dores, eu tento não senti-las, mas as vezes me bate um extremo desespero e eu desabo. Sim, eu desabo, mas não desabo na frente de ninguém, eu desabo sozinha. Eu me deito e choro, sinto as lagrimas caírem de pouco a pouco por muito tempo ate eu adormecer, acordar, respirar fundo e ser a mesma mulher ríspida de sempre.

Sou "durona" aos olhos de muitos, sou do tipo de mulher que não quer se apaixonar, não quer, não tenta, ou tenta. Eu não quero me ligar a ninguém, não quero sofrer o que sofri quando mais nova, é tudo consequência do passado.

Eu sou uma mulher totalmente diferente das mulheres, eu sou uma mulher que provavelmente é um sonho de consumo dos homens porque metade de mim pensa como eles. Sim, eu sou, mas ninguém sabe de tudo isso e muito mais do que isso que acabei de contar.

Talvez todos saibam daqui pra frente, talvez só um ou outro, talvez só Deus ou nem ele, mas o que importa? Nada, porque até agora não importou e eu não me importo. Eu sou vazia sim, mas não tive quem me completasse e se for pra esperar, vou esperar. Não por querer ser romântica, o que eu não sou muito, mas só pra não se decepcionar. Eu deixo acontecer.

Pois é, essa sou eu, mas basicamente, do jeito clichê da coisa e do modo que vocês conhecem: meu nome é Sandra Bullock, eu tenho 29 anos, estou no auge da fama, sou a queridinha da américa e favorita de muitos, a que vive o caos da mídia e o auge da carreira, o topo. Prazer, Sandy. B.

- - - 29/03/15 - - -

Estava eu nesse exato momento, para falar a verdade, as 07:43 de uma manhã de domingo, se levantando lentamente para não acordar o homem do meu lado. Peguei os sapatos e as roupas espalhadas pelo quarto, minha calcinha ficou, isso eu fazia sempre, era engraçado.

Chamei o elevador e liguei o celular: 13 chamadas perdidas.

Isso era um inferno, Cheryl estava pegando demais no meu pé e me dizendo que tinha de tomar cuidado com os meus atos, não sei o que mais, porque eu era uma pessoa importante agora.

Eu odiava isso, odiava ser presa e fingir algo, eu não queria seguir uma linha, eu não tinha linha, eu não tinha a menor vontade de ter e não vou ter, eu era a mulher mais fora do normal que odiava a rotina. Sim. Eu era. Eu sempre fui e sempre vou ser.

Minha cabeça doía e eu quase adormeci no taxi. Uns vinte minutos depois eu já estava em casa. Entrei sem fazer muito barulho, Gesine estava lá, era minha irmã mais velha. Cheryl provavelmente estava lá fazendo algo do seu trabalho que eu nem fazia questão de dar a ela.

Joguei os saltos no corredor, a bolsa no sofá e fui direto pra cozinha, colocando a máquina de café pra funcionar. Nem retornei as chamadas de Cheryl, ela viria atrás de mim, certamente, o que já vinha virando rotina todos os sábados, domingos e segundas.

Quando menos esperei, ela apareceu. Eu só deitei a cabeça na mesa e esperei ela começar. Minha cabeça prestes a cair, eu estava de ressaca e irritada daquilo, estava farta.

- Parabéns, queridinha da américa. - Jogou duas revistas na mesa. - Você quer ser como as outras? - Olhei a capa da revista e revirei os olhos. - A fama está subindo a sua cabeça, Sandra? Sério? Logo você, uma mulher inteligente. - Pegou uma das revistas e a abriu. - Você estava usando drogas, Sandra. De novo.

- Eu não fiz isso muitas vezes, Cheryl. Eu na verdade nem faço isso, eu geralmente só bebo.

- SÓ ISSO, mais nada? - Bufei. - Sandra, você é uma figura publica e uma inspiração pras pessoas. Entende isso. Você não pode sair por ai com um homem diferente a cada sábado, usar drogas quando bem der na telha, beber sempre e foda-se. Não é assim! Você tem uma mídia em cima de você, eu tô cansada de explicar.

- Sério? Então me desculpa, Cheryl, mas eu não vivo pela mídia, eu vivo por mim. - Me levantei e peguei uma xicara de café. - Não posso fazer nada se o mundo se importa comigo.

- E eu não posso fazer milagre se você não escuta sua empresaria. - Ela fechou a bolsa e colocou o tablet sobre a mesa. - Eu me demito, Sandra. Se você vive bem sozinha sem me ouvir, acho que meu trabalho não é necessário. - Vira as costas.

Eu acabei de fazer merda, isso é obvio. Eu não vivo sem a Cheryl, ela é uma das minhas melhores amigas antes de empresaria. Ela tinha 32 e eu 29. Era quase uma mãe pra mim e se ela se demitisse minha carreira iria acabar. Ela cuidava de mim, eu já estava abusando demais.

- Cheryl, não faz isso! - Puxei-a pelo braço.

- Acorda, Sandra! - Eu senti de uma só vez ela me dar um tapa no rosto. - Você está famosa e rica, mas não deixa isso te subir a cabeça. Você não está viciada nas drogas agora, ainda bem, mas é o seu caminho. Você só sai com caras que não prestam, você transa sem compromisso, as vezes nem se lembra do nome do tal. Isso te prejudica, Sandra. Além de elogios, você recebe criticas. Sei que você nunca andou na linha, sou uma das suas melhores amigas, mas você escolheu essa vida, então faz direito porque você vai cair e ninguém vai ajudar você a se levantar. - Abaixei a cabeça. - Quando você caiu a primeira vez eu ainda não te conhecia pra te ajudar, mas agora não cabe somente a mim a te ajudar, cabe a você também. - Abriu a porta de entrada. - Quando decidir o que fazer da sua vida me liga, Bad Girl. - E fechou a porta com força.

O1/7


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