Eu já sabia que havia feito besteira, que mais uma vez Cheryl tinha brigado comigo e que de certo modo eu estava errada. Eu quem escolhi esse mundo, eu escolhi ser atriz e eu tinha de manter isso pois era o meu trabalho, minha vida, eu amava o que eu fazia, mas as vezes era tudo muito estressante, irritante, sufocante... eu só me sentia bem bêbada, chapada completamente, transando com alguém que não ficaria no meu pé no dia seguinte ou fazendo alguma coisa que me tirasse o tormento rotineiro.
Estar ali, sentada naquela maldita banheira por uma hora, sentindo meus dedos engelhados, uma taça de vinho pela metade e um jazz bem baixo tocando no fundo para que eu pudesse tentar me acalmar não estavam me ajudando.
Eu não gostava de pensar na vida porque ela era uma grande decepção pra mim, minha história era uma grande merda e eu não gostava de me lembrar do passado. Eu não tinha ninguém, era a mais pura verdade.
Minha irmã era mais velha, porém, fazia de tudo para me criticar. Era a única pessoa "ao meu lado" mas era quem mais me tirava do sério. Minha mãe era indiferente, só ficava do lado do meu pai, que por sua vez, não me apoiava nem depois da fama.
Eu não usava drogas regularmente, eu só gostava de sair pra beber. Uma outra coisa que não tinha era amigos. A minha amiga, uma das únicas, era Cheryl. Eu a conheci na época da faculdade. Eu estava no primeiro ano e ela no terceiro, dos quatro anos de publicidade, que cursava no mesmo campus que eu.
Eu morei com ela por dois anos, depois disso ela nunca mais me abandonou. Eu comecei a fazer sucesso e ela foi a primeira que me apareceu, pela qual estava comigo até hoje, até umas horas atrás se eu não fosse uma merda de pessoa.
Eu sabia que ligar pra ela agora seria burrada, a gente ia brigar e não ia dar certo. Eu só queria a companhia de alguém, queria abraçar alguém, eu queria algum braço. Eu posso ser durona, pelo menos tento ser para me proteger, mas eu sou uma grande e inútil pessoa carente de abraços e palavras bonitas que nunca recebi.
Passei as mãos pelo rosto e tomei o restante do vinho apoiado no mármore, saindo da banheira e me enrolando ao roupão branco e grosso que havia deixado pendurado ao cabide ao lado do enorme espelho do quarto.
Como de costume eu tirava o roupão e me observava nua. Eu tinha marcas no corpo de coisas passadas que não iriam mais apagar, infelizmente. Eu odiava meus braços e evitava sair sem blusa de manga, mesmo sendo quase impossível.
Também tinha marcas de alguns chupões no meu pescoço, cintura e alguns na perna. Meus cabelos estavam soltos e um pouco úmidos. Eu não me sentia bonita, eu não era bonita, mas eu era uma figura pública e tinha de me manter.
O lado ruim das coisas que aconteciam é que eu não queria me manter, estava acontecendo. Eu estava magra demais, eu estava abatida, eu estava mal, mas eu tinha de mostrar o oposto, fazer o que mais odeio, mentir para todos e sorrir. Era muito difícil pra mim.
Coloquei o roupão novamente e desci as escadas. Estava me sentindo mal, aquela casa enorme e ninguém lá pra me mandar pra puta que pariu justamente agora. Eu precisava de atenção.
Liguei para um dos meus amigos, que por sinal era um idiota e não atendeu a merda do telefone em nenhuma das 5 ligações. Deitei naquela porcaria de sofá e fiquei ali por uns 40 minutos até escutar a porta abrir. Me sentei rapidamente no sofá e amarrei a fita do roupão, esperando que fosse Cheryl, mas não...
- Você não tranca a porta da sua casa, não, Sandra?
- George, seu idiota! - Joguei uma almofada nele. - Você não atendeu a merda do telefone.
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Best Mistake
FanfictionVocê já parou pra pensar que ela é tão problemática porque não tinha ninguém pra concertar? Você já parou pra pensar que ela era tão fria porque não tinha ninguém pra esquentar? Você já parou pra pensar que ela era tão vazia porque não tinha ninguém...