Lucas
Meu pai saiu do meu quarto alegando estar atrasado para o trabalho, e por mais que eu insistisse em julga-lo por ele sair logo hoje que tudo tinha acontecido, eu não conseguia, porque no fundo tudo o que eu realmente queria era ficar sozinho comigo mesmo. Minha mãe não conseguia parar de chorar, e minha avó a tirou do quarto tentando acalma-la e dizendo que logo traria meu café da manhã, eu apenas concordei, mas no fundo fiquei grato por elas saírem do quarto, eu precisava sentir essa dor sozinho, não havia abraço, nem palavras nesse mundo que me consolassem, esse sentimento de desordem na minha cabeça era permanente, e sinceramente eu necessitava do silêncio, para pelo menos por um segundo acreditar que o meu pesadelo tinha se tornado real.
Quando o barulho dos passos foram sumindo,me levantei e tocando a parede caminhei até a porta, eu tocava na longa superfície de madeira tentando achar a chave, e quando por fim a achei eu a virei, me trancando não só no meu quarto, mas também no meu mundo solitário e ridículo. Escorreguei pela porta e me sentei encostado na mesma, tranquei dentro de mim as lágrimas e qualquer demonstração de medo, segurei meus joelhos com o coração disparado e inconsolável, eu parecia apenas uma criança indefesa chorando com medo do escuro, mas esse medo não era fantasioso, eu temia a escuridão permanente,que me seguiria até o fim dos meus dias, me agarrava a ideia de que tudo seria passageiro, como uma noite chuvosa e escura, em que eu chamava por meus pais, apenas por um medo fútil de se sentir sozinho em meio a escuridão, mas agora mesmo eu tentando mentir pra mim mesmo, era impossível esconder a verdade, eu estava condenado a uma sentença de medo da minha própria vida, cada dia seria uma tortura e eu teria que aprender a conviver com isso, mesmo que isso acabe comigo.
Não demorou muito para que eu ouvisse batidas fortes contra a porta, permaneci em silêncio na esperança de quem quer que fosse, fosse embora, mas uma voz chegou aos meus ouvidos me fazendo perder por completo a expectativa de que isso isso acontecesse:
- Lucas, abre essa porta, eu trouxe seu café.- minha avó falou.
- Não to com fome.
- Você não vai ficar o dia todo trancado ai sem comer nada, abre essa porta por favor.
-Vó eu to bem, me deixa sozinho.
- Lucas eu to falando sério, abre essa porta.- falou um pouco desesperada
- Não vou abrir.
Ela suspirou derrotada parecendo inconformada pela minha atitude, era óbvio que ela estava preocupada, mas mais do que nunca eu precisava ficar sozinho:
- Tudo bem, mas não pense que vai ficar ai o dia todo.
-Obrigado.
Ela se afastou e eu consegui ouvir o barulho da louça batendo na bandeja, cada barulho que se seguia eu conseguia escutar, era algo estranho, mas o que eu podia fazer quando a audição era um dos poucos sentidos que me restavam?
As horas se passavam, e eu permanecia ali, querendo que o medo fosse embora, mas uma voz doce e preocupada de mais se fez presente:
- Lucas, sou eu a Laura, me deixa entrar.
Eu permaneci em silencio, mas ela não se contentou com a minha ignorância e tornou a me chamar:
- Lucas, você ta bem? - perguntou preocupada.
-Preciso mesmo dizer? - respondi seco
-Me deixa entrar.
- Vai embora.
Laura
Ali em frente a porta de seu quarto, eu me perguntava o que ele estaria fazendo, sua voz soava rude e triste, e eu apenas esperava ansiosa que ele abrisse aquela porta e me deixasse de alguma forma consola-lo, mas era obvio que ele nao mudaria de ideia tao cedo, Lucas jamais deixaria seu orgulho de lado:
- Tem certeza que não vai abrir? - perguntei
- Já falei pra ir embora.- gritou
- Não vou.
-Para de insistir,eu não vou abrir essa maldita porta.
- Não to mais insistindo, mas também não vou embora, se for preciso passo o dia todo aqui.
Ele não falou mais nada, e um silencio absurdo reinou naquele lugar, me sentei encostada na porta e prendi meus joelhos contra o peito, ainda não sabia como agir perto dele, e isso era estranho, pois ele foi uma das únicas pessoas que eu consegui ser sincera desde o início, mas agora com essas barreiras entre nós, tudo o que eu consigo pensar é em maneiras de mante-lo perto de mim. Suspirei derrotada e confusa, e me peguei atordoada por todos meus pensamentos, eu não conseguia pensar em como era passar pelo que ele estava passando, e não o julgava por estar agindo indiferente esse tempo todo, eu agiria da mesma forma, porém mesmo anestesiada pelos meus devaneios, eu sentia uma necessidade árdua de abraça-lo, e de alguma forma fazê-lo acreditar que tudo ficaria bem, queria que ele soubesse que jamais o deixaria sozinho, e mesmo nos dias mais difíceis eu estaria ao seu lado:
- Não vai nem conversar comigo? - perguntei esperançosa.
- Eu não pedi pra você ficar ai. - respondeu ente dentes.
-O silêncio me incomoda.- admiti.
-O silêncio é tudo o que eu quero no momento.
Me calei, não tinha como retrucar quanto a isso, esse era um direito dele, e de forma alguma eu diria o contrário. Quando cheguei aqui mais cedo, encontrei Clarissa com os olhos vermelhos de tanto chorar na sala, ela me abraçou e me contou o que aconteceu, e eu até agora não sabia como reagir a isso, ele afastou a própria mãe, o que me fazia pensar que ele me queria por perto?
Ouvi Passos subirem as escadas e logo uma figura de cabelos brancos apareceu, sorri ao ver quem era, Dona Amélia se aproximou com um sorriso triste, e eu me levantei a fim de cumprimenta-la com um abraço:
- Como vai querida? - ela perguntou
-Bem e a senhora?
- Indo. - ela apontou para a porta e sorriu- ele não facilita pra ninguém não é mesmo?
- To acostumada.
- Aceita tomar um chá comigo e com Clarissa?
-Muito obrigado, mas vou continuar aqui, é claro, se não tiver problema.
-Fique o quanto quiser. Se mudar de ideia estamos na cozinha.
-Obrigado.
Sorri tímida e enquanto ela saía do meu campo s visão, voltei a me acomodar no chão frio, ainda com a vaga esperança de que ele abrisse a porta. Vez ou outra eu ouvia algum barulho dentro do quarto, mas não dizia nada, não era capaz de falar uma palavra se quer, então continuei calada. A noite caiu, e com ela veio o frio, as horas pareciam uma eternidade, eu não olhava no relógio com a esperança de que o tempo passasse mais rápido, então quando enfim decidi ver as horas, me surpreendi ao ver que já eram onze e meia da noite, vez ou outra Dona Amélia vinha me fazer companhia, ela estava preocupada comigo, mas eu estava decidida a ficar ali o tempo que fosse, uma hora ou outra ele teria que sair. Encostei a minha cabeça no batente da porta, já certa de que logo cairia no sono, meus olhos estavam pesados e o tédio me invadia por completo, mas um barulho de uma uma chave rodando em sua fechadura me fez encarar a porta, sorri ao ver que minha espera enfim tinha válido a pena.
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Oi gente.... o que vocês tem achado disso tudo? Muito obrigado pelos comentários, votos e leituras, vocês não tem noção do quanto isso me anima a continuar todos os dias.
Me desculpem, mas infelizmente essa semana só postarei esse capitulo, semana que vem tera dois :) é que eu realmente preciso me organizar nas minha histórias. Obrigado por tudo mesmo, até semana que vem ... Beijosss ♡
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Tentando enxergar o amor
Romance| EM REVISÃO | A história de dois jovens que por o acaso do destino se encontram. Um pode mudar a vida do outro, mas para isso é preciso que enxerguem o amor que ambos sentem. Lucas e Laura tem que traçar os caminhos certos para crerem que o amor é...