ninguém da o braço a torcer

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Laura

Assim que pus meus pés na faculdade, Rafaela enganchou em meu braço e sorriu e uma forma exagerada para mim:

-Bom dia raio de sol! - ela falou animada

-Bom dia. Por que essa animação toda? 

Eu não estava com bom humor hoje, meus nervos pareciam que iam explodir, mas eu apenas tentava me controlar e manter a calma, não queria brigar com ninguém, até porque as pessoas não tinham culpa dos meus problemas pessoais:

-Não posso acordar de bom humor?

-Você acorda de bom humor todos os dias, não sei como consegue.

-Já vi que ta de mal humor.- levantou as sobrancelhas me analisando- mas de qualquer forma, você ta convidada pra festa que vai ter amanha no meu apartamento.

-Festa? Num apartamento? .

-Sim, qual o problema?

-Talvez o fato de não poder colocar musica alta.

-Para de procurar as consequências de tudo, apenas aceite o convite.

-Quero só ver como você vai fazer isso.

-Eu dou meu jeito. Mas então, vai ou não?

-Não sei Rafa, depois de amanha vou viajar, e preciso descansar antes.

-Como assim vai viajar? -perguntou arte falando os olhos- acabou de começar a faculdade.

-Vou passar quinze dias na casa dos meus pais, mas recupero as aulas depois.

-Que horas você vai viajar?

-A tarde.

-Então não tem desculpas para não ir na festa, você vai e ponto final.

Rafaela entrou na sala de aula e sentou na carteira ao meu lado, eu ri dessa sua insistência sem limites, até que faria bem eu ir a uma festa, era só ir e se divertir, não tinha nada demais nisso. Logo Lucas apareceu e ela se virou para falar com ele:

-Festa amanhã a noite na minha casa, e nem adianta falar que não vai, já perdi a minha paciência toda tentando convencer a Laura de ir.

-Ok, e porque ela não queria ir?

-Porque ela vai viajar depois de amanha.

Ele no mesmo instante olhou para mim interrogativo, como se quisesse saber o motivo pelo qual eu iria viajar, sinceramente eu não devia explicações para ninguém, e odiava que ficassem me perguntando coisas que diziam respeito somente a mim. Quando as palavras iriam sair dos labios dele, Rafaela tornou a falar alegremente:

-Eu devia convidar a sala inteira.

-Você nem conversa com o restante da sala- falei

-Mas posso começar a falar em questão de minutos.

-Você é impossível Rafa.- Lucas falou

Ela riu convencida e começou a tirar seu material da bolsa, eu apenas fiquei girando um lápis no dedo pensando em como seria essa viagem, no fundo eu sabia que meus pais ainda queriam que eu morasse com eles, mas não era fácil quando se tinha um sonho, e eu sempre sonhei em vir para São Paulo e morar com a minha irma, mas é claro que eu jamais os abandonaria, porém tinha medo de que alguma forma eles me fizessem desistir de tudo aqui para voltar para lá.

Eu tinha quase certeza absoluta de que Lucas viria falar comigo na hora da saída, de um menino solitário ele se tornou próximo demais a mim em pouco tempo,e agora eu que queria tanto me aproximar, estou tentando achar uma forma de me afastar. Não é que ele seja uma má pessoa, pelo contrario, ele é um ótimo amigo, mas depois daquele dia tudo o que a sua presença me causa é desconforto. 

No instante em que o professor entrou na sala, Lucas se levantou meio cambaleante e foi falar com ele, eu apenas fiquei o olhando confusa, logo ele saiu da sala e o professor gritou meu nome:

-Laura.

-Sim?

-Vai ajudar o Lucas por favor.

Rafaela olhou para mim preocupada e eu apenas me apressei em pegar o meu material e sair da sala, andei pelos corredores tentando encontrar ele, e logo o vi entrando no banheiro, é claro que era o banheiro masculino e não era permitido que  meninas entrassem, mas o Lucas estava passando mal e precisava da minha ajuda, nesse caso as regas tinham exceções. 

Lucas

Eu entrei no primeiro banheiro que consegui identificar, e logo tirei meus óculos, me debrucei sobre e pia e jogue o máximo de água que consegui, minha visão estava mais turva que o normal e isso me dava agonia, eu não podia piorar logo aqui e agora. Tentei fazer com que minha respiração voltasse ao normal, eu simplesmente entrava em panico quando isso acontecia, olhei no espelho mas não conseguia identificar nem mesmo a minha imagem, só havia borrões, soquei a minha mão contra o vidro totalmente frustrado,ouvi o vidro se quebrar  e logo pude sentir arder minha mão, com certeza eu tinha me cortado.

Me sentei no chão e segurei minha mão, tentando estancar o corte, mas uma voz chamou minha atenção:

-Lucas?O que ta acontecendo?

Era a Laura ,eu tinha certeza que era. O que ela estava fazendo aqui?:

-O que você ta fazendo aqui?

-O professor pediu que eu viesse ver se você estava bem.

-Estou ótimo, não tem nada com que você deva se preocupar.

-Percebi quando você esmurrou o espelho. 

Ela estava se aproximando de mim, eu podia sentir, logo ela se sentou ao meu lado e segurou delicadamente a minha mão machucada,  grunhi de dor. Não demorou muito para que minha visão fosse voltando ao normal, não totalmente, mas o suficiente para eu distinguir o que estava a minha volta. Laura estava me encarando de uma forma preocupada, mas eu me limitei apenas a soltar nossas mãos, me levantar e colocar meus óculos novamente:

-Você precisa ir para enfermaria.- ela falou

-Vou para casa.

-Sua mão ta sangrando muito.

-Relaxa, eu não vou morrer de hemorragia.

-Você não sabe.

-E se eu morrer, que diferença faz? Você pelo menos vai parar de me evitar o tempo todo.

Peguei minha mochila e a deixei sem palavras no banheiro, mas não demorou muito para que eu ouvisse passos me seguindo:

-Lucas espera- ela gritou

-Eu vou na enfermaria, e fica tranquila porque eu sei o caminho, não preciso de guia até la.

-Aproveita e vê se ela tem remédio pra ignorância, quem sabe assim você engole essas suas palavras medíocres e aprende que mais cedo ou mais tarde vai precisar da ajuda de alguém.

Depois de seu breve desabafo ela ficou quieta mas eu sabia que estava se remoendo de raiva, andei o mais depressa que pude até a enfermaria, mas o que ela falou não me saia da cabeça, talvez ela suspeitasse o que estava acontecendo comigo, mas infelizmente estava certa quando disse que mais cedo ou mais tarde eu vou precisar de ajuda.Por que raios o professor tinha que mandar logo ela atras de mim? Tudo agora era Laura, eu não estava aguentando mais a pressão que ela estava causando em meus pensamentos, aonde eu olhava havia algo que me lembrava ela, e eu odiava esses sentimentos confusos que vem me atormentando. A enfermeira foi rápida ao fazer o curativo, mas por causa de eu ter quebrado o espelho tive que ir a secretaria e levar uma bronca do diretor, apenas após ele ter certeza que eu pagaria o estrago, me liberou e finalmente pude ir para casa, eu estava nervoso e louco para gritar ao mundo que  queria morrer,  queria apenas uma saída para todos os problemas. É claro que eu não iria me matar, não precisava do ato em si para me sentir longe da minha vida, eu estava assim agora, e sinceramente não havia mais nada que importasse.









Tentando enxergar o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora