Laura
- Você com certeza vai achar que eu enlouqueci, mas em partes, creio eu que realmente estou perdendo um pouco da minha sanidade. Porém, simplesmente não posso fugir disso.
Com uma xícara fumegante de chá entre as mãos, sentada no sofá, eu julgava meus delírios e tentava me esconder de toda a verdade, como aceitar algo assim? Eu aceitaria, até porque essa era a realidade de agora em diante:
-Do que você ta falando?
Alana perguntou confusa, enquanto mexia em alguns papéis do seu trabalho, na mesa de centro da sala:
-Das minhas decisões.
-E quais decisões são essas? Tá pensando em cortar o cabelo? - perguntou rindo
-É sério Lana.- suspirei e ela parou de rir- eu to confusa.
-Por causa de que?
-Por causa do Lucas.
- Eu sempre te disse, que ter um relacionamento é mais difícil do que parece.
-O meu caso é mais complicado ainda.
-Por quê? - ela arqueou as sobrancelhas- o Lucas não é tudo o que você pensava?
- Não, não é isso. É só que ...
-Que?
Engoli em seco, bebi um gole do chá, e encarei Alana, será que Lucas me odiaria se eu apenas desabafasse com a minha irmã ? Eu não podia me preocupar com isso agora, preciso mais do que nunca de conselhos e de um ombro amigo:
- O Lucas tem uma doença...
Ela soltou os papéis sobre a mesa e levou as mãos a boca parecendo assustada:
- Ai meu Deus!!Não me diga que ele vai morrer?
-Credo Lana! Vira essa boca pra lá.
- Desculpa. É que pelo jeito que você falou parecia uma coisa seria.
-E é uma coisa seria.
-Então fala o que é.
-Já ouviu falar de Retinose Pigmentar?
-Nunca. O que isso causa?
- Ele ta ficando cego. - falei e um nó se formou na minha garganta
- Como assim ficando cego?
- Já faz algum tempo que ele descobriu que tinha isso, e desde então sua visão vai sumindo aos poucos, a qualquer momento ele pode não voltar a enxergar mais nada.
- Meu Deus, ai que dó. E como ele ta reagindo a isso?
- Ele ta péssimo, ninguém lidaria bem com uma situação dessas.
-Mas e você? Como se sente com tudo isso?
Alana me olhava preocupada, eu devia estar acabada de tanto chorar, eu precisava chorar por causa de tudo, pois meus sentimentos ficavam trancados dentro de mim, e eu sinceramente estava atordoada de mais com toda a recente realidade. Suspirei pensando em como realmente estava lidando com essa situação, mas a verdade era que eu não tinha nem noção do que estava se passando pela minha cabeça:
- Eu to confusa. Como eu vou lidar com isso tudo?
- Boa pergunta. Você realmente está preparada para enfrentar Deus e o mundo pra ficar com ele?
- Não sei.
-Porque você sabe como vai ser. Você vai ter que aprender a viver com o preconceito das outras pessoas, e isso com certeza vai ser perturbador.
- Você acha que eu devo ficar com ele? Porque sinceramente eu estou com medo, estou tão ou mais perdida nisso tudo do que ele mesmo, e tenho medo de não conseguir superar todas as dificuldades.
- Você ama ele?
-Ta brincando? - perguntei ja com lágrimas nos olhos- eu nunca amei tanto uma pessoa na minha vida.
- Então siga seu coração.- ela se levantou e veio me abraçar- eu nunca vou te julgar, independente da escolha que tiver, só quero que escolha o que te faça feliz.
Eu encarei seu olhar sincero e me deixei levar pelas lágrimas, o que eu faria? Não sabia como agir, porém tudo o que meu coração queria era que eu ficasse ao lado do Lucas, talvez fosse perturbador passar por todas as dificuldades com ele, e eu sei que essas não seriam poucas, mas de alguma forma eu precisava vê-lo feliz novamente, e não sucegaria até ter a certeza de que eu tinha feito tudo o que estava ao meu alcance, eu o amava e só queria o seu bem.
Lucas
Eu acordei, mas não estava com vontade nem de abrir os olhos, a cama era tão confortável que eu podia passar o dia todo ali, apenas sem fazer nada, só pensando na minha inutil existência e na menina que diz me amar. Não seria tão difícil assim, era só continuar de olhos fechados e tudo ficaria bem, mas de qualquer forma eu abri os olhos, pronto para ver a luz do dia atingir meu quarto, mas essa luz não veio, eu os fechei ja entrando em desespero e tornei a abri-los, porém nada aconteceu, continuava tudo escuro como breu. Um nó começou a se formar na minha garganta, mas eu persistia em ver qualquer coisa, nem que fosse apenas um frestinha de luz, mas não havia nada.
Comecei a chorar descontroladamente, e a esfregar meus olhos, não poderiadia ser real, isso não podia ter finalmente acontecido. Sem obter resultado eu tentei levantar da cama para acender a luz, mas me segurei na mesma por quase cair, respirei fundo três vezes, e ao contrário do que muitos diziam, isso não me acalmou.
As lágrimas só continuavam a rolar pelo meu rosto, eu me via sem proteção alguma perdido na escuridão, me virei e me apoei em algo que parecia ser a minha mesa de estudos, então gritei o mais alto que pude, minha garganta doeu pelo som estridente, passei a mão sobre essa superfície, deixando cair qualquer coisa que estava sobre ela, o grito de alguma forma me fez sentir melhor, mas o desespero e a dor de não poder ver nada ainda estava presente, continuei gritando com as mãos na cabeça, eu só queria ver, isso era pedir muito? Apoie na parede e tentei me locomover, mas era quase impossível, a cada passo que eu dava tinha algo no caminho, e por causa disso acabei caindo sobre algo que não identifiquei, rolei no chão de dor e tornei a gritar totalmente frustrado, não demorou muito para que eu osvisse a porta ser aberta, e a voz de que parecia ser minha mãe dizer:
- Ai meu Deus!
-Acende a luz, por favor acende a luz. - pedi desesperado entre lágrimas.
Minha mãe me colocou sentado, e minha respiração estava ofegante enquanto eu mantinha a esperança de que quando a luz fosse acesa, eu enxergaria novamente, mas então cinco palavras vindas do meu pai me destruiu por completo:
- Ela já ta acesa filho.
- Eu não to vendo nada, me ajuda, por favor ...- os soluços eram constantes, eu simplesmente não conseguia me controlar, era desesperador a sensação de não ver nada- vó me ajuda.
Senti minha mãe me abraçar e sussurrar um:
-Vai ficar tudo bem.
Minha avó se aproximou e eu senti seu toque no meu cabelo, na tentativa falha de me acalmar, meu pai segurou a minha mão e não disse mais nada, o, silêncio predominou naquele cômodo e eu só conseguia pensar no quão inútil eu havia me tornado, os choros silenciosos deles eram notaveis para mim, por que estavam chorando quando era pra mim esbanjar toda e qualquer lágrima que havia no mundo? Eu queria me soltar de tudo e de todos, queria continuar gritando até que meus pulmões queimassem, mas nenhuma atitude ridícula iria mudar o fato de que eu fiquei cego.
<><><><><><><><><><><><><><><><>
Eu estou chorando.... e me culpo.por escrever essa cena. Ai meu coração... to emocionada! Vocês gostaram?
Obrigada gente por estarem lendo, vocês não tem noção de como isso me anima pra escrever, amo vcs !! Beijos as até o próximo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Tentando enxergar o amor
Romance| EM REVISÃO | A história de dois jovens que por o acaso do destino se encontram. Um pode mudar a vida do outro, mas para isso é preciso que enxerguem o amor que ambos sentem. Lucas e Laura tem que traçar os caminhos certos para crerem que o amor é...