O abrigo

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-Para onde vamos?
Pergunto enquanto Matt corre e meu corpo balança em seus braços.
-Vamos para casa, construí um abrigo contra tsunamis, terremotos ou qualquer outro caso de emergência.
Matt me responde com a respiração ofegante, ele corre rápido.
A cada vez que Matt bate um de seus pés no chão ou simplesmente pisca os olhos uma outra bomba explode. A cidade está um caos, só vemos fogos, pessoas desabrigadas, prédios e casas desabando e ouvimos apenas gritos vindos de gargantas secas, de pessoas roucas de tanto implorarem por ajuda.
Chegamos em casa, ela ainda tem algumas partes intactas, Matt chuta a porta, fazendo com que ela caia no chão e me leva até o jardim, um local da casa onde nunca fui.
Coloco meus pés no chão e corremos até o abrigo. São portas pequenas no chão, como se fosse um pequeno armário enterrado com portas muito resistentes.
Matt abre as portas e vejo que é bem mais fundo do que parece este "armário", ele pula primeiro por ser alto e conseguir fazer com que sua cabeça fique para fora e estende seus braços como se pedisse para eu pular neles.
Fecho os olhos e pulo, sinto dor quando minhas costas batem em seus braços e logo depois abro meus olhos novamente.
Observo o abrigo, é uma pequena sala, bem grande para o que parece ser um pequeno armário, tem comida, velas e cobertores.
Viro-me e vejo Matt fechando as portas, logo ele sai das pontas dos pés e consegue andar normalmente na pequena sala.
Mais uma bomba se explode, desta vez é perto de casa. O chão treme, e eu caio. Uma batida dolorosa no chão, onde meus seios se espremem.
-Está tudo bem?
Matt se aproxima e me levanta, depois me abraça forte.
-S-sim.
Respondo enquanto nos sentamos no chão frio.
Matt coloca seu braço em meu ombro, juntando nossos corpos e diz em seguida:
-Eu vou te proteger, Analua. Não importa o que aconteça, não vou deixar nada te machucar, você é a única coisa que tenho e a mais importante da minha vida.
Dou um sorriso no canto da boca e o beijo. Penso em algo muito importante, algo que tira minha atenção.
-No que pensa?
Pergunta Matt ao perceber que estou distraída.
-Matt, o que somos afinal? Eu não entendo, nos amamos e sentimos que nos conhecemos há séculos, mas não nos conhecemos. Não somos nada um do outro, eu simplesmente fugi de casa com você.
-Acho que precisamos nos conhecer mais e descobrir o que somos... Bem, qual sua cor preferida?
Mesmo com o barulho das bombas, o cheiro do fogo e os tremores no chão, Matt insiste em descontrair e me fazer rir de qualquer forma.
-Vamos, diga!
Ele insiste com um sorriso brilhante, um sorriso encantador.
-Roxo, porém um roxo como a cor do açaí. E a sua?
-Branco.
-Roxo açaí combina com branco, caso eu morra teria como colocar essas duas cores no meu funeral?
Faço uma pergunta séria, porém com um sorriso no rosto. Ele percebeu que é sério, porém cala-se. Talvez ele não imagine isso acontecendo.
Levanto-me, pego os cobertores, nos cubro e digo por fim:
-Obrigada.
Beijo sua bochecha, encosto meu rosto em seu peito quente e ouço cada batida de seu grande coração de ouro. Se ele pudesse me colocaria dentro dele para me proteger, seu coração é maior que ele mesmo. "O garoto do coração de ouro", vou me lembrar bem desse título, talvez Matt goste dele.
Fecho meus olhos e o terror do ambiente lá fora se cala com um sonho gostoso de sonhar vindo de minha mente.

Pronta para amarOnde histórias criam vida. Descubra agora