As crianças

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Ando em direção ao meu novo trabalho, entro numa sala de crianças, elas estão traumatizadas pelo o ocorrido, suas cabeças estão baixas e tudo o que posso ouvir é um choro baixo vinda de uma alma desesperada.
A sala tem muitas crianças, mas continua vazia, nunca vi crianças tão caladas.
Meu objetivo aqui é alegrá-las, conversando com elas e esclarecendo tudo para que fiquem melhores e mais felizes.
-Boa tarde!
Digo em tom alto com um sorriso forçado no rosto, estou triste também. Não ouço respostas, meu sorriso se desmonta.
Me recomponho com um sorriso novo e digo novamente:
-Boa tarde!
A sala continua calada.
-Bem, eu não sei bem se vou conseguir fazer isso, até porque estou triste também. Mas quero que se alegrem, ou melhor, nos alegrem, alegrem este lugar! Nós damos nossas vidas para salvar as pessoas desse acontecimento terrível e cheio de explosões, os sobreviventes são importantíssimos para nós, temos que salva-los. Mas, quem é que nos salva?

Cabeças pequenas de crianças pálidas se levantam, os olhos confusos de cada uma delas passam a encontrar os meus, confusos olhos brilhantes.
-Quem?
Uma garota de cabelos loiros e encaracolados pergunta para mim em tom baixo e tímido o que todos nessa sala querem perguntar.
Respondo:
-Vocês.
A sala toda se pergunta para confirmar e eu continuo:
-A alegria de vocês nos salvam, vocês são os únicos alegres por aqui e quero que compartilhem toda essa alegria conosco, vamos alegrar o ambiente! Quem sabe todos não trabalhem melhor agora? E se doentes se recuperarem mais rápido? Afinal, quem não gosta de ser alegrado num dia triste, onde o Sol se recuse a aparecer? Quem não gosta de um abraço quentinho vindo de corpinhos pequenos como o de vocês num dia frio? Sorriam! Mudem este lugar!

Não vejo mais olhos confusos e esbugalhados, agora vejo olhos confiantes vindos de pessoas confiantes e sorridentes.
Um garoto negro levanta-se e me agarra, me dá um abraço quente. Até que ele continua o abraço sem separar nossos corpos e mais crianças levantam-se de suas cadeiras, uma por uma acha um espacinho e me abraça. Até que todas fazem isso e ficamos conectados num só abraço, corações batendo juntos e almas felizes.

-Obrigada
Digo enquanto sorrio, dessa vez com um sorriso verdadeiro.
Ouço alguém batendo na porta, viro minha cabeça e peço para entrar, é Matt, vejo seus cabelos ruivos, seus olhos e seu sorriso, ele se alegra em ver as crianças felizes.
A mulher de cabelos azuis também vem, ela olha para as carteiras vazias primeiramente, mas depois direciona seu olhar para nosso abraço.
-Você conseguiu, garota!
Ela diz alegre.
Matt solta a maçaneta da porta e junta-se ao abraço, nós nos ajoelhamos para abraçar as crianças melhor.
Nosso abraço acaba e as crianças saem da sala para brincarem em outro lugar, a garota dos cabelos azuis também parece ter saído, vou em direção a porta e fecho-a.
-O lugar aqui parece morto sem essas crianças.
Matt diz ao se aproximar de mim, me encontro encostada na parede ao lado da porta.
-Não sei como consegui fazer isso, elas pareciam horríveis.
Admito.
Nós dois conversamos sussurrando, não desejamos que nossa presença na sala seja notada.
-Espero que seja uma ótima mãe para nossos filhos.
-O-o quê?
Pergunto tímida, minhas bochechas se avermelham.
Matt se ajoelha no chão frio.

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