Gritos

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Novamente eu acordo, porém com o som de gritos agudos e dolorosos, recheado de pedidos de calma com frases "pare, por favor"
Estou assustada, ando correndo até a sala, verificando cada canto no caminho para descobrir de onde vem a voz.
A porta da passagem secreta está aberta, os gritos vem de lá, vem de Matt.
Entro no local com mais sangue nas paredes do que eu lembrava, os gritos só aumentam, a dor transborda ainda mais na voz.
Vejo a pior cena do mundo, Matt está deitado no chão frio enquanto recebe de um homem com capuz chicotadas, chutes e tapas. Seu corpo está ainda mais fraco e roxo, com arrannhões e seu sangue vermelho escuro escorrendo.
Meu batimento se acelera, cada fio de cabelo meu se arrepia e meus olhos se esbugalham. Não penso, apenas faço.
Me jogo no homem, não estou pesada o suficiente e ele é muito forte. Seus pés nem se desencostam do chão, ele não expressa sentimento.
Agarra meu pescoço fino com sua mão enorme e me ergue no ar. Matt olha para mim sem poder dizer nada, gritou muito, tenta, mas não sai voz alguma.
Não consigo respirar, pela primeira vez eu penso que este é o meu fim. Adeus, mundo.
O homem solta meu pescoço e eu caio no chão ao lado de Matt. Meu corpo está doendo por inteiro e bati gravemente a cabeça. Tudo gira e vai se apagando.
O homem volta a bater em Matt, porém eu me arrasto e o abraço. Sinto seu nariz e sua boca encostados nos meus. Sua respiração é ofegante, ele continua lindo, mesmo com o rosto coberto de machucados e sangue, sua beleza me faz perder o ar que eu já não tinha, mas me dá forças para continuar com os olhos abertos pelo menos por um instante.
-Não bata nele, eu imploro. Salve-o e despeje todo o seu ódio em forma de violência em mim.-Digo com as ultimas forças que me restam.
Desta vez apenas eu grito, sinto chicotadas e chutes em minha coluna. Matt não geme tão alto ou faz algo que expresse dor. Sorrio, apenas eu estou apanhando.
Recebo outro chute doloroso na boca do estômago, cuspo sangue no rosto de Matt sem intenções.
A dor é mais forte que eu e aos poucos meus olhos se fecham.
-N..não f..fech...e os o..olhos..-Matt tenta falar com os olhos que antes me encantavam pelo fato de cintar um infinito universo, mas que hoje tem suas estrelas mortas como sua vontade de seguir em frente.
Arrasto minha mão até que encontre a dele e aperto bem forte. Quero que ele perceba o quanto estou grata por tirá-lo da dor.

Pronta para amarOnde histórias criam vida. Descubra agora