A bomba

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Com flores, um copo e uma garrafa de água agarrados na mão, bato na porta do banheiro onde se encontra minha irmã. 
Entro e a vejo sentada novamente na tampa do vaso sanitário.
-Que flores lindas, são para mim?
Nina pergunta enquanto toca de modo delicado as flores.
-Sim, sei que gosta de branco. Eu odeio fazer isso com você, sabe... e-eu queria que houvesse um outro jeito, queria reverter a situação.
Digo e coloco a água dentro do copo plástico em seguida.
-Eu odeio Max.
Essas são as últimas palavras de Nina.
Concordo balançando a cabeça.
Nina recebe o copo e despeja o pó do seu saquinho na água.
Novamente ela me abraça forte, sinto o calor do seu corpo no meu e minha alma realiza seu desejo, ficar conectada com a dela pelo menos mais uma vez, pela última vez.
Nina vira o copo em sua garganta e o líquido entra em seu corpo de vez. Nina segura minhas mãos enquanto aguarda o efeito do veneno, nossos olhares se encontram e desejo que este momento vire uma eternidade, a melhor eternidade, uma feliz onde Nina possa se despedir olhando o brilho da minha pequena constelação que se encontra em meus olhos, gostaria que ela soubesse o quanto essa constelação brilha quando nos encontramos, o quanto cada pelo meu se arrepia quando nos tocamos, o quanto cada borboleta do meu estômago implora para sair pela minha boca, bater as asas e voar sem rumo algum. Queria que ela soubesse.

Mas a minha eternidade acaba e a expressão de Nina muda, ela coloca a mão no peito e deita-se no chão, o veneno começou a fazer efeito. Me ajoelho e coloco sua cabeça em meu colo.
Ela começa a gemer, seus olhos esbugalham-se como se quisessem saltar para fora, um flashback passa na cabeça de Nina, toda sua vida passa diante dos seus olhos, é como se ela não existisse mais, não ouve, não enxerga, não sente mais nada, tudo o que entende é dor, dor e uma vontade incontrolável de acabar com a mesma dor.
Me despeço dela com uma música.

Bem no fundo da campina, embaixo do salgueiro

Um leito de grama, um macio e verde travesseiro

Deite a cabeça e feche esses olhos cansados

E quando se abrirem, o sol já estará no alto dos prados

Aqui é seguro, e aqui é um abrigo

Aqui as margaridas te protegem de todo perigo

Aqui seus sonhos são doces

E amanhã serão lei

Aqui é o lugar onde sempre lhe amarei

Bem no fundo da campina, bem distante

Num maço de folhas, brilha o luar aconchegante

Esqueça suas tristezas e aquele problema estafante

Porque quando amanhecer de novo ele não será mais tão pujante

Aqui é seguro, e aqui é um abrigo

Aqui as margaridas te protegem de todo perigo

Aqui seus sonhos são doces

E amanhã serão lei

Aqui é o lugar onde sempre lhe amarei

Aqui é o lugar onde sempre lhe amarei

-Jogos Vorazes

Pego as flores brancas e coloco ao seu redor, assim como Katnnis fez com Rue em sua morte, sempre fui fã de Jogos Vorazes, mas nunca imaginei que uma cena como esta aconteceria comigo, é horrível.

Dou um beijo na testa pálida e fria de Nina e digo por fim:

-Eu te amo, maninha.

Adoraria receber uma resposta, mas não recebi, beijo um cadáver.

Saio do banheiro e tranco a porta do mesmo, enxugo minhas lágrimas e corro desesperadamente para a porta do aeroporto enquanto disco o número do celular de Matt e ligo para ele.

-Matt, aeroporto da cidade, vem aqui por favor! Matt não tenho tempo, Matt!

Digo no telefone sem esconder meu desespero.

-Calma, estou indo. O que está acontecendo? Analua?

-MATT, VEM! Por favor, e-eu não quero te perder, Matt, vem logo..

Choro na porta do aeroporto após desligar o telefone e esperar Matt, olho no relógio e vejo que as bombas, tanto a bomba de Nina quanto a das outras pessoas espalhadas na cidade, estão muito próximas de explodir.

Passam vários minutos e ouço uma voz masculina em tom alto chamar meu nome:
-ANALUAAAAAA!
Olha e vejo Matt com seus cabelos ruivos dançando com o vento e uma camisa folgada.
Olho novamente no relógio e vejo que faltam apenas alguns segundos para as explosões, levanto-me rapidamente e corro até Matt.
Corro desesperadamente, como se o mundo estivesse desabando atrás e essa fosse a única saída, jogo-me em Matt, nós dois caímos no chão, uma batida dolorosa, um som horrível começa quando chegamos ao chão.
O som de crianças e adultos chorando, de coisas queimando, dor, o momento se resume em dor.
-A-analua!
Matt analisa meu corpo para ver se estou bem ou se sofri com a bomba, ele nos vira, revertendo nossa posição, fico com as costas no chão e o corpo dele encontra-se em cima do meu. Ele me envolve com um abraço aconchegante e protegedor, como se ele me abrassasse e sentissemos que ele pudesse me proteger de tudo.
-Você está bem?
Pergunto enquanto olho diretamente para seus olhos, seu olhar parece gentil, como sempre foi, porém cansado.
-Não sou eu quem importa agora, vamos fugir daqui, deve ser a temida declaração de guerra.
Matt levanta-se e me puxa pela mão, fazendo-me levantar também.
-É... A guerra, deve ser isso...
Digo em tom baixo.
Matt me coloca em seus braços e corre

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