Capítulo 3

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Era sábado, eu dormi realmente bem naquela noite, acho que cheguei a sonhar com Áustria, mas não recordo bem. Acordei naquela manhã ansioso por algo desconhecido. Às 9:00 da manhã, decidi pegar o telefone e ligar para ela, depois o 4 toque, ela atendeu.

- Alô? - a voz dela era fina no telefone, me fez rir.

- Áustria, sou eu, Renato. Tudo certo para daqui a pouco? - minha voz saiu formal, não queria que soubesse que eu estava tão feliz assim.

- Sim, claro. Mas, eu realmente não sei andar de ônibus, como vamos fazer?

- Não se preocupe, eu vou de bicicleta até sua casa e daí vamos pro ponto, ok? Estou saindo de casa. Até.

- Até.

Ouvi o bip do telefone, sinal que a chamada foi encerrada.

Peguei a minha bicicleta e subi a rua, não morávamos tão longe, mas aquilo me fez soar um pouco. Vi a casa dela, e uma especie de nervosismo se apoderou de mim, pois eu a vi na calcada, e a visão me fez arregalar os olhos. Áustria estava linda, não só por conta da roupa leve, da bota, e da blusa que usava, mas por conta do cabelo que vinham cacheados nas pontas, a cânula em seu nariz, e aquele óculos de grau, estilo policial badboy dos Estados Unidos.

Parei em frente dela e ajeitei o meu óculo, o suor fez ele escorregar até a ponta do nariz. Sorri para ela enquanto descia da bicicleta.

- Você pode deixar ela aqui, meu pai não vai se importar.

Assenti com a cabeça e abriu a porta da garagem para que eu colocasse a bicicleta, assim que fiz, saímos e fomos a rua de novo.

- Vamos lá. Não vai ser ruim.

Em menos de 20 minutos, já estávamos no ônibus, indo para o centro da cidade. Percebi que Áustria estava um tanto nervosa, apesar de termos passado a roleta e ela está sentada, e eu em pé. Enquanto me segurava na barra, me olhou e sorriu.

- Benefícios do câncer. - disse de repente.

- Oi? Não entendi. - quis me assegurar que tinha ouvido errado.

- Sim, benefícios de ter câncer. É que as pessoas sentem pena de mim, as vezes é legal, as vezes não. Depende muito da situação. Sabe, já tive vontade de beber com a galera de Medicina, mas eles não gostam de me dar bebida, então, isso é ruim. Porém, quando quero uma bolsa nova e peço pro meu pai, ele me dar, então, é uma coisa boa. - seu sorriu era de canto.

Naquele dia, percebi mais uma coisa sobre Áustria: ela gostava de tirar sarro da sua própria condição física.

- Se quiser beber, posso comprar algo. Não vou me importar, você sabe o que faz. - provoquei.

- Hum, não. Eu sei que não posso por conta dos meus pulmões, mas gostei de saber que você não negaria. Um dia eu vou cobrar!

"Um dia..."

Alguns minutos depois, descemos no centro e Áustria bateu palmas, era incrível como ela brincava de ser mulher e ao mesmo tempo, de ser criança.

- Foi incrível, Renato! Nunca me senti assim. - abriu os braços e fechou os olhos. - Só queria poder respirar mais rápido, mas tudo bem. - rimos juntos.

Caminhamos até a livraria, o lugar era mediano, o cheiro de livro novo entrou pelo meu nariz e fechei meus olhos, aquela era uma boa cena: livros e uma garota.

- Vamos! Para de ficar parado que nem uma mandrágora. - sua brincadeira me tirou dos meus pensamentos.

- Mandrágoras só ficam paradas no jarro. - retruquei.

- Por isso mesmo, idiota. Vamos! - Ali estava a Áustria durona, a que tem a lingua afiada.

Algumas horas se passaram, compramos os livros em comum, e alguns da J.K Rowling. Estamos agora na lanchonete, em frente a livraria.

- Um hambúrguer com uma coca zero. Não quero engordar. - aquela era sem dúvida, a pior piada. Pedir algo gorduroso e em sobra, algo light.

- Eu quero.. Salada. - Vi Áustria mordendo os lábios, parecia que sempre fazia isso quando estava indecisa ou simplesmente fora do ar.

- Salada? Você não quer hambúrguer?

- Não. Eu sou vegetariana. - semicerrou os olhos.

- Que foi? - dei de ombro. - eu também como salada! Mas junto com a carne, eu amo carne.

Ela revirou os olhos, levemente irritada com a minha brincadeira. Droga, preciso reverter isso.

- Ah, desculpa. Sério respeito sua decisão, vamos fazer um trato. Minha carne, sua salada, ok?

- Certo, canibal. - e o sorriso no rosto dela voltou.

Comemos animado, falando sobre os grandes sucessos atuais, sobre música, e acabei descobrindo que Áustria adorava Roberto Carlos, e eu também. Rimos das piadas e das pessoas que ali passavam, nosso humor ia aos poucos revelando o quanto ácido nós éramos.

Depois de satisfeito, pegamos o ônibus novamente, dessa vez eu fui sentado. A conversa fluía de forma tão natural que chegava a ser estranho.

- Você já trocou emails? - perguntou do nada.

- Não, e você?

- Sim, uma vez. Por que nunca trocou?

- Não sou do tipo que acha garota na internet afim de trocar emails. Tem rede social pra isso.

- Eu sei, idiota. Mas então, quer?

- Quero. - relaxei os ombros.

- Ok. Aqui.

Ela me deu o papel onde tinha seu email. Será que ela estava esperando essa conversa a todo momento? Não sabia bem.

Descemos do ônibus, ela parecia cansada, deve ter sido efeito da viagem, mas nao indaguei, preferi assim. Peguei a bicicleta e parei em frente a ela.

- Bom, até.

- Até.

Ela virou e foi embora, entrando na casa, e eu ali, sem entender muito bem o que tinha acontecido hoje. Áustria tinha o efeito da paralisia em mim, era incrível. Balancei a cabeça e rumei pra casa, o maldito sorriso que não saia nunca.

Quem é você, Áustria?Onde histórias criam vida. Descubra agora