Capítulo 14

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Três dias se passaram desde então, Áustria tinha tido êxito na cirurgia, parece que o pulmão dela ainda ia resistir a algumas medidas, mas nada que descanso e repouso não ajudasse. Desde a cirurgia, eu ia lá todo final do dia, depois da faculdade. Mesmo não podendo passar da recepção queria que quando acordasse soubesse que eu estava lá, que eu não tinha lhe abandonado.

Nesse meio tempo, acabei conhecendo um pouco mais da família de Áustria. Ela tinha dois irmãos, sendo uma chamada Luna e outro Cedrico. Luna era totalmente apaixonada pela irmã, as duas se tratavam com mãe e filha, a conexão era tão grande, que Luna sempre que se machucava corria para os braços de Áustria e não para o da sua mãe, quem me contou isso foi a própria menina, além de muito esperta (chego a acreditar que era super dotada), era sapeca também. Cedrico por sua vez, era um garoto rebelde, fazia algumas tolices na frente da mãe, mas que também era super esperto, e logo eu e ele ficamos amigos.

No dia anterior a saída dela, conheci o pai. Sim, admito que fiquei super nervoso, pois a primeira coisa que ele disse era: "Quando vão se assumir publicamente?", aquilo me fez gelar, por pouco não desmaio, e o bom que já estava no hospital, recordo de ter dado um meio sorriso e murmurar: "Ainda não sei", ele apenas riu e começamos a conversar sobre diversas coisas do cotidiano, entre elas, política e economia do Brasil. Chegamos a conclusão que ambos tinham um certo domínio do assunto, e fiquei contente por já ter assuntos com meu "sogro". Ele me contou que era amigo do Prefeito da cidade, e que em breve, teria um show do Roberto Carlos e que a cidade em breve estaria eufórica dali a 1 mês, era uma informação sigilosa.

Sabe quando alguém liga uma luzinha na sua cabeça e você tem a vontade de gritar: EURECA? Então, era assim que eu estava naquele momento, ali sentado na recepção com o pai dela. A ideia dançou na minha cabeça, sambou em todos os ritmos e chegou até mesmo descer ao chão, ao som de um funk proibidão.

No dia seguinte, quando fui ao hospital, Áustria já estava no quarto. Depois de muita insistência (do pai dela), permitiram que eu entrasse para falar com ela. Minhas mãos gelaram ao atravessar aquele corredor cheio de macas e pessoas de branco passando a toda hora, o quarto era o 13, coincidência estranha.

A porta estava aberta, dei duas batidas e então entrei. Tinha uma cadeira ao seu lado, e me sentei ali. Ela estava com os cabelos arrepiados, a cânula ainda estava em seu nariz, ligado ao cilindro do próprio hospital, seus olhos estavam inchados, e sua aparência era mais vela do que nunca.

- Olá, gasparzinho. Como está esse pulmão aí? Aceita um cigarro? - meu sorriso era de alegria, a cada palavra ele brotava sen esforços.

Ela não podia falar muito, por conta da cirurgia, então apenas levantou a mão e entendi que era para pegar a sua, e fiz instintivamente. Nossos dedos se acariciaram, como se estivesse buscando algo que não sabíamos o que era. Beijei o dorso dela, e coloquei em minha testa, e então, um sentimento estranhou se apoderou de mim: o medo. Chorei copiosamente ao seu lado, as lagrimas rolavam dos meus olhos indo em direção a cama, não sei qual foi a reação de Áustria, mas em momento nenhum ela tirou a mão da minha. Meus soluços foram pequenos, tímidos. Tive medo de perder a pessoa que amava, a menina que me deixava confuso quando falava, a menina fria, a menina estranha da faculdade, eu não queria perder Áustria.

Depois de alguns minutos ali, levantei a cabeça e enxuguei as lagrimas, vi em seu rosto, um sorriso de canto, e o furo em seu queixo afundar. Não era preciso dizermos nada, só aquela troca de olhar conseguiamos nos entender, e eles diziam, gritavam: "Eu te amo, Áustria" / "Eu te amo, Renato".

Quem é você, Áustria?Onde histórias criam vida. Descubra agora