"Amo tudo em você, Renato"..." Amo tudo em você, Renato".Aquilo ecoou na minha mente, ainda estávamos com os olhares grudados um no outro, procurando qualquer sinal de ironia ou mentira na voz, na expressão e nos gestos, porém, não encontramos, era realmente verdade o que tinhamos falado.
A cena a seguir, me fez alguns dias depois refletir sobre quem realmente eu era e do que era capaz. Me levantei subitamente, e fui para a sua frente, peguei em suas duas mãos e a levantei, fazendo ficar de frente para mim. Uau, o cheiro de ervas invadiu meu nariz, precisei ter foco e coragem para fazer aquilo, não tinha mais volta.
Ela mordeu os lábios, e eu também. Nossos corpos foram se aproximando gradativamente, nossos rostos também, e aconteceu.
Nossos lábios se enroscaram como uma chave na fechadura. Os seus eram úmidos, macio e confortável, nossas línguas se conheceram pela primeira vez, e parecem ter gostado uma da outra, pois a todo momento se chocavam, como o mar e a pedra. Minhas mãos foram para a sua cintura, e as dela para a minha nuca. Mordi seus lábios em resposta, trazendo para mim. O coração estava acelerado, a adrenalina corria em meu corpo, sentia calor em partes onde não era normal sentir. E por fim, nos desvencilhamos e abrimos nossos olhos, um sorriso de felicidade se fez pintar no meu lábio, e consequentemente, nos dela também.
Ela se sentou, e apontou para a minha cadeira. Áustria até nisso era calma e conseguia manobrar a situação com maestria, decidi fazer o mesmo, não era meu primeiro beijo, mas era como se fosse. Alguma coisa iria mudar entre nós, tinha certeza, isso se já não tivesse mudado.
- Você beija bem, Renato. Anos de prática no espelho? - suas bochechas estavam vermelhas, e ela se abanava na tentativa frustante de acabar com o calor inexistente.
- Talvez. E você, com o travesseiro? - passei a mão na minha bochecha, quente. Sorri de canto,
essas duas cenas não saiam da minha cabeça. Queria gritar para o mundo: "eu beijei a Áustria, eu beijei a Áustria". Mas, apenas fiquei ereto na cadeira, e terminei meu creme.- Sabe, eu esperava muito por isso. Você não sabe o quanto eu desejava beijar sua boca. Toda vez que eu via você falando, me dava vontade de pegar nessas bochechas e beijar até sugar sua alma.
Um sorriso debochado se fez em meu rosto, mas por dentro, estava ainda mais contente que antes. Era o momento de revelações.
- Quando eu a vi pela primeira vez, minha vontade não era te beijar. Mas sim te conhecer. Sempre soube da uma acadêmica de medicina que era super estranha e grossa com as pessoas. Porém, o que vi foi apenas uma pessoa o qual ninguém entende. Você tem seu mundo particular com suas barreiras, só entra quem realmente pode, e quer, quebrar.
Era esse estudo que vinha fazendo dela nesses últimos dias. Veja bem, a vida dela era como um mundo, onde a mesma regia e comandava, criava aquela especie de refúgio dos problemas pessoais e isso fazia com que se afastasse das pessoas, pois todos eram uma ameaça para seu pequeno mundo, ela tinha medo de ser infectada pela sociedade. Se ela estava me falando aquilo, eu consegui supôr que tinha tido êxito em entrar em seu mundo. Eu não era um vírus, eu podia ser uma solução.
- Renato, eu amo tudo em você. Obrigada por existir. Você está me fazendo muito bem nesses últimos dias. Nunca cheguei a imaginar que um garoto de humanas pudesse animar uma menina da área da saúde, graças a Deus não seguimos os rótulos, obrigada.
"Eu amo tudo em você" iria virar o nosso bordão, em todo filme existe alguma palavra que expressa um significado amoroso. Este nosso, não significava de fato o "Eu te amo". Ele era uma espécie de agradecimento, iríamos passar a usar sempre, até que viesse de fato, a palavra xis de um relacionamento.
- Eu não vou te abandonar, Áustria. Fiz uma promessa, nunca quebro com elas. - pisquei, ainda sorrindo. Meu rosto era de um garoto bobo que acabou de ganhar bastante doces.
- Irei fazer a devida cobrança caso quebre. Vou restringir seu nome a tudo, inclusive, na minha vida. Eu digo, não vou atrás de ninguém. - ali estava, a parte grossa da menina que eu amava.
- Sim. - dei de ombro. - eu também não corro. Seremos dois bodes dando de frente, que pena. Por isso, vamos evitar o máximo brigar, fechado?
Estendi a mão, e ela apertou. Tínhamos selado um acordo que nem mesmo tínhamos escrito os termos, realmente, nós dois eramos muito estranhos.
Olhei meu celular, já passavam das 22:00, precisávamos ir. Nos levantamos e dividimos a conta. Ainda permanecia tudo bem entre nós, conversavamos sobre coisa animada até a parada de ônibus. Ela me contou que nunca tinha assistido desenho animado, por isso ficou intrigada quando falei de Dragon Ball Z, como sempre, gargalhei disso e vi que tinha ficado emburrada. Quando ia me desculpar, quem caiu na risada foi ela da cara do "Gato de Botas, Shrek".
O coletivo estava vazio, sentamos lá nos últimos bancos, e bem, aquele clima de risadas e beijos inesperados, fez surgir mais um beijo longo e demorado, e mais um, e mais um, e mais um, até que ficassemos saciados, coisa que não aconteceu até darmos conta que era a nossa parada de ônibus, descemos próximo a casa casa, e fomos andando.
- Amanhã e domingo não posso sair. O medico proibiu de pegar sol, mormaço ou essas coisas do gênero. - vi seus olhos revirarem. - Então, desculpa se pensou em algo esse final de semana.
- Tudo bem, entendo. Quando você voltar, irei te levar ao museu, quero contar algumas historias.
- Ta bom, pescador.
Chegamos em frente a casa, ela entrou e pegou minha bicicleta. Vi sua mãe na janela, com certeza a espera da filha querida e maior de idade. Ela se virou e viu a mãe, quando retornou a me olhar, seu rosto era inexpressivo.
- Bom, é isso.
- É, obrigada pela companhia.
Por conta de sua mãe, ela me deu um beijo no rosto e apertamos a mão. Era bom fingir, principalmente quando alguém sabe fazer o mesmo.
- Nos vemos na segunda feira. Bom final de semana. - eu disse.
- Até, Renato.
- Até, Áustria.
Subi na bicicleta e pedalei a todo vapor para casa. Era hora de repousar e sonhar com esses fatos. O fato era que: eu tinha beijado a Áustria.
Foram esses meus últimos pensamentos antes do sono me levar, antes da escuridão tomar conta dos meus sentindos. Meus olhos estavam quase se fechando, quando ouvi um sussurro eu meus ouvidos, e pareceu que ela estava em pé, na ponte da cama, os lábios bem desejados se abriram e emitiu a frase da noite.
- "Eu amo tudo em você, Renato."
E ainda consegui responder antes da escuridão tomar conta do meu sono.
- Eu amo tudo em você, Áustria.
E foi assim que dormir naquela sexta feira. Extasiado pelo dia, pela companhia, enfim, pela oportunidade que criei e me foi dada. Eu a amava, e agora sei, que ela me ama.
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Quem é você, Áustria?
RomanceRenato sempre a olhou pelos corredores da escola, todos sabiam o quanto Áustria era uma menina diferente a começar pelo seu cilindro e cânula que usava consigo. A maioria gostava de ignora-la, pois sabiam o quanto ela grossa e de gênio forte. Sem l...